Disco: “Love Will Prevail”, Cult Of Youth

/ Por: Cleber Facchi 25/09/2012

Cult Of Youth
Folk/Experimental/Post-Punk
http://cultofyouth.tumblr.com/

Por: Fernanda Blammer

 

A proposta do Cult Of Youth desde o princípio foi de se manter distante dos demais grupos interessados em percorrer as vias convencionais da música folk. De fato, perverter o que há de mais natural no gênero, incrementando acertos sombrios típicos do pós-punk sempre foi a grande marca de distinção do coletivo nova-iorquino. Grupo que assume nos direcionamentos do genial Sean Ragon (resposta bizarra do que viria do encontro entre Trent Reznor e Elliott Smith) um nítido toque de afastamento de tudo que borbulha de mais normal e antiquado na cena musical de diferentes épocas. Esqueça as guitarras, aceite os vilões e ainda assim se mantenha próximo do mesmo clima obscuro implantado há mais de três décadas.

Continuação aprimorada do que o grupo apresentou no debut lançado no último ano, Love Will Prevail (2012, Sacred Bones) mostra o que teria acontecido se Ian Curtis e os parceiros do Joy Division trocassem as guitarras pelas cordas de nylon de um violão ou talvez se Leonard Cohen se relacionasse abertamente com a música sombria que cresceu no Reino Unido na década de 1980. Por vezes soando como uma extensão bucólica do rock industrial assumido por bandas como Nine Inch Nails, o disco mantém no toque crescente do instrumental a medida exata para um trabalho que parece planejado de forma consciente a tirar o fôlego do ouvinte.

Sempre afastado de um acabamento possivelmente convencional, o presente trabalho encontra na variedade de ritmos que o definem uma infinidade de novos rumos e percursos instrumentais. Por vezes esbarrando em um som de natureza aberta ao grande público (Prince of Peace), o álbum mantém nos experimentos o grande destaque para a solução de cada uma das faixas que se anunciam no decorrer da obra. Logo, não é difícil nos depararmos com criações banhadas pela irregularidade do jazz (New Old Ways) ou outras faixas que até se apropriam de uma textura psicodélica, veia que acrescenta uma mancha colorida ao registro (Garden of Delights). Independente dos rumos, tudo funciona de maneira não óbvia, garantindo um álbum que mesmo nostálgico em alguns instantes, está longe de parecer tradicional.

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Sem a mesma timidez que por vezes sufocava o natural crescimento do primeiro álbum, Love Will Prevail encontra nessa multiplicidade de somas instrumentais o caminho assertivo para que os versos cresçam ricos pela obra. Consumido de forma quase integral por melancolias impregnadas pelo forte teor existencial, o disco está longe de se materializar como um projeto similar ao que naturalmente ecoa no pós-punk inglês ou na atual cena folk norte-americana. Basta um rápido mergulho na poesia desobediente de Garden of Delights ou no fluxo acelerado de versos que se materializam em The Gateway para compreender o impreciso rumo que fortifica toda a extensão da obra, um disco de passagens sempre expressivas e que facilmente se aproximam do espectador.

Por mais óbvia que seja a associação da banda com o trabalho de grupos como Echo and The Bunnymen, Joy Division e até Swans, a forma claustrofóbica como o disco é concebido faz com que lentamente todas essas supostas semelhanças sejam afastadas. Tudo funciona de maneira muito particular dentro do registro, afinal, mesmo que o álbum se divida constantemente entre planos acústicos e outros elétricos, a irregularidade como esses dois acabamentos definem o disco se desvenda de maneira nunca simplista ou tradicional. Se a calmaria de It Took a Lifetime indica uma abertura suave, os versos e principalmente a instrumentação inexata puxam o grupo para um novo rumo, algo bem exposto em toda a extensão do trabalho.

Love Will Prevail não é um trabalho que você precisa de diversas audições até ter uma parcial compreensão de seu conteúdo, afinal, ou você se entrega logo aos percursos não costumeiros do álbum ou ele segue constante dentro da própria medida estabelecida pela banda, sem esperas. Preso ao passado da mesma forma que brinca de maneira experimental com o presente, o novo disco do grupo nova-iorquino assume de fato esse suposto “Culto à Juventude” que a banda carrega no nome, com o quarteto de instrumentistas (e principalmente o líder Sean Ragon) produzindo um disco que incorpora abertamente uma série de acertos joviais instalados em diferentes épocas. O amor irá prevalecer, e com ele a própria obra do Cult Of Youth.

Love Will Prevail (2012, Sacred Bones)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Echo and The Bunnyman, Iceage e Fleet Foxes (do segundo disco)
Ouça: Prince of Peace, Garden of Delights e New Old Ways

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.