Disco: “Lóvi EP”, Dead Lover’s Twisted Heart

/ Por: Cleber Facchi 24/09/2012

Dead Lover’s Twisted Heart
Brazilian/Indie/Folk
https://www.facebook.com/deadloverstwistedheart

Por: Cleber Facchi

Lóvi

Por mais delicada e bem conduzida que fosse a estreia da banda mineira Dead Lover’s Twisted Heart, talvez pelos versos em inglês ou o clima folk que esbarrava na década de 1960, tudo contribuía para a construção de um disco frio e nitidamente distante do público. Não que faltasse beleza ao instrumental doce que se derretia pelo álbum, nem aos versos confessionais expostos de forma parcialmente atrativa ao longo do álbum, entretanto, o toque deveras condensado do registro (por vezes uma imensa composição dividida em vários atos) parecia afastar o quarteto de um resultado mais acolhedor. Uma proposta essencialmente particular e que se rompe agora com o apaixonado (e quente) Lóvi EP (2012, Independente).

Registro rápido de cinco curtas faixas, o mais recente lançamento do quarteto formado por Ivan (Vocais e Guitarra), Velvs (Piano e Baixo, Voz), Guto (Guitarra e Voz) e Pat (Bateria e Voz), se apropria de uma série de referências e sonoridades que pouco (ou nada) se relaciona com os antigos inventos do grupo. Esqueça o detalhamento sutil que se desmanchava em músicas como Backwards, Folk You e The Devil Inside a Woman. Do momento dançante que inicia, até o amigável fechamento, o pequeno trabalho absorve uma infinidade de sons e novas tendências que perfumadas por um toque abrasileirado, praticamente garantem uma nova percepção sob o grupo – de fato donos de um som atrativo e aventureiro.

Passeando de forma criativa por distintos cenários da música nacional, o registro abre logo de cara com um assertivo composto de sons que bebem do que há de mais tradicional na guitarrada paraense. De apelo comercial óbvio, Apocalipse do Amor (facilmente uma das grandes composições do ano) dá continuidade ao que artistas regionais como Felipe Cordeiro ou mesmo o bem humorado quarteto carioca Do Amor trouxe recentemente, assumindo de forma própria as ricas cores da cultura nortista. Ensolarada e romântica na mesma medida, a faixa inaugura de forma definitiva a mudança que afasta o grupo do clima brando testado em um passado recente, abrindo espaço para que Meu coração (um indie-rock-new-wave com gostinho de axé) e Eu Tenho (canção que flerta sorumbática com o sertanejo) apresentam no decorrer do disco.

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Cantado inteiramente em português, o registro afasta de forma caliente a suposta relação que a banda ainda mantinha com os ritmos estrangeiros, estabelecendo através dos versos um nítido registro de contrastes. Enquanto a faixa de abertura Apocalipse do Amor brinca com o tom apaixonado dos versos – resultado também resumido na maneira como a musicalidade suingada passeia pela faixa -, a sequência Eu Tenho se derrama em melancolias confessionais. “Eu tenho a solidão maior do mundo/ Uma saudade que me adora/ E não me deixa sossegar” canta o quarteto em parceria com o veterano Odair José, figura que ao lado de Roberto Carlos, Fagner e outros gênios (que carimbaram a década de 1970 com romantismo) parecem influenciar a totalidade da pequena e expressiva obra.

Diferente de Banda Uó e tantos outros grupos que brincam com os ritmos de maneira satírica, cada mínima aproximação do quarteto com as diversas propriedades da música tupiniquim estão longe de fluir como simulações. Para além do amor que figura no título do trabalho ou nos versos honestos que passeiam pela obra, é claro o amor e a devoção do quarteto em se aproximar com propriedade dos sons brasileiros. Do Carimbó flamejante que dança na primeira música ao romantismo brega (e épico) que se constrói na triste Sei, tudo soa de forma natural, como se desde o início da carreira a banda já dialogasse com essa tonalidade. A própria presença de Odair José (com os vocais em Eu Tenho ou simples menção na faixa Bandida) se materializa feito benção, como se o grupo estivesse apto a incorporar essas antes inéditas preferências.

Por mais estranho que o nome do quarteto soe aos ouvidos brasileiros, Dead Lover’s Twisted Heart é sim uma banda nacional – talvez uma das melhores por conta do presente disco. Claramente opositivo em relação ao anterior projeto proposto pelo grupo, Lóvi EP inicia um novo caminho na ainda pequena trajetória dos mineiros, que devem encontrar nos vocais em língua pátria e na sonoridade fervilhante um mecanismo lógico para se aproximar de uma nova seleção de ouvintes. Simples e temperado pela sinceridade dos versos, o trabalho brinca com o amor de maneira a produzir um disco que deve tanto nos envolver sentimentalmente, quanto nos consolar nos momentos de maior desespero.

Lóvi EP (2012, Independente)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Do Amor, Odair José e Felipe Cordeiro
Ouça: Apocalipse do Amor e Eu Tenho

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.