Disco: “Low Moods”, Sants

/ Por: Cleber Facchi 03/07/2013

Sants
Electronic/Bass/Hip-Hop
http://sants.bandcamp.com/

 

Por: Cleber Facchi

Sants

Diego Santos caminha a passos largos e cada vez menos previsíveis. Se há poucos meses as batidas tomadas pela densidade, colagens e certa dose de nostalgia guiavam o trabalho do paulistano no versátil Soundies! – registro de estreia pelo Sants -, ao alcançar o recém-lançado Low Moods (2013, Beatwise), os inventos do produtor se expandem de maneira visível. Cada vez mais distante do que parecia uma singela homenagem ao trabalho de Flying Lotus, Clams Casino e tantos outros inventores da produção eletrônica norte-americana, Sants encontra no presente álbum a tão sonhada identidade, exercício que esculpe em composições de sublime referência estrangeira, mas que lentamente se fazem particulares nas mãos do produtor.

De natureza climática, o registro incorpora em oito inéditas composições um trabalho que se vende como plano de fundo para um possível clássico do R&B recente. Brincando com a colagem de vozes fragmentadas em meio a uma tapeçaria noturna de referências eletrônicas, Sants subtrai os vocais límpidos para encontrar a mesma tonalidade criativa que se desmancha ao fundo nas obras de Shlohmo, Frank Ocean e tantos nomes de destaque com foco no gênero. Sobra até para que as erotizações noturnas de Usher ecoem com parcimônia na montagem de músicas como Valerie e Cloud City. Entretanto, Sants está longe de seguir o percurso já estabelecido por outros produtores, fazendo do presente registro uma curva singular no que havia ele próprio testado meses antes na manifestação dolorosa de Alone.

Tendo a cidade e as pessoas como principal influência, o produtor usa do presente trabalho como um reflexo da vida noturna em qualquer grande centro urbano. Acomodado em batidas ora letárgicas (Backseat), ora delineadas pela grandeza dos sons (Nite Slugs), Sants cria por meio dos sons a própria visão sobre São Paulo, exercício bem estabelecido na faixa que carrega o título da cidade cinza. De esforço acelerado e maquinações que se distanciam do ambiente fechado das demais composições, a faixa praticamente força o produtor a seguir por um percurso isolado no decorrer da obra, uma espécie de ponte para aquilo que foi aplicado no catálogo de sons e batidas de Soundies.

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Por se tratar de um registro que caminha pela noite paulistana, Low Moods não se esquiva das pessoas e personagens noturnos em nenhum instante, efeito que Sants representa com acerto na pequenas soma de colaboradores espalhados pela obra. Enquanto o paranaense Gorky (Bonde do Rolê) escapa da zona de conforto a que está habituado, transformando Valerie em uma composição de puro erotismo e apelo sexual, Cybass traz ruído aos inventos sempre climáticos do paulistano. Seja na composição áspera de Comuna ou na interpretação particular de Backseat, no fecho do trabalho, o convidado exprime suas marcas de maneira fundamental, sem jamais distanciar a obra do caráter soturno iniciado logo na canção de abertura.

O que mais surpreende na composição de Low Moods em relação ao propósito inciado em Soundies é a vasta soma de componentes instrumentais que acabam por abastecer a obra. Enquanto Acme Batman Outfits e Nick at Nite pareciam separar de forma clara as batidas, samples e acréscimos sonoros colados pelo produtor, com o novo registro temos um completo oposto desse mesmo encaminhamento. Basta o caráter de “aquecimento” da autointitulada faixa de abertura ou mesmo as batidas arrastadas de Cloud City para perceber como todos os elementos são dissolvidos em um composto único, quase homogêneo. É quase possível observar Low Moods como uma imensa composição, apenas entrecortada por atos específicos que convergem para o exercício final do trabalho.

Detalhista e melancólico – o que faz valer de forma natural o título do trabalho -, o presente álbum confirma o que já parecia visível há alguns meses: Sants é um artista que vive da constante ruptura dos sons, inclusive os dele próprio. Ainda que seja possível aproximar Low Moods do disco passado, a cada faixa o produtor estabelece um princípio de novidade, exercício que se transforma em base e beleza para um projeto em que a mutação dos sons parece ser a única certeza para o ouvinte.

 

Sants

Low Moods (2013, Beatwise)

Nota: 8.2
Para quem gosta de: VINÍ, Shlohmo e Clams Casino
Ouça: Valerie e Nite Slugs

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.