Disco: “LP”, d’Eon

/ Por: Cleber Facchi 04/06/2012

d’Eon
Canadian/Electronic/Experimental
https://www.facebook.com/pages/D-E-O-N/

Por: Cleber Facchi

A chegada de Visions, segundo registro oficial da cantora e compositora Grimes no começo do ano não foi apenas a manifestação maior de uma artista em pleno processo de transformação e maturidade. Diferente do que havia anunciado de forma tímida no primeiro disco, Geidi Primes (2011), com o novo trabalho Claire Boucher parece ter revelado toda uma nova frente de artistas, produtores e compositores próximos a ela. Figuras que assim como a intensa artista de Montreal parecem viver em um ambiente musical consumido pela experimentação, toques de misticismo e composições que passeiam de maneira delicada pelo plano de etéreo. Mais do que um brilhante registro, o disco serve como chave para que uma imensa porta seja finalmente destrancada, fazendo com que estranhos seres que acompanham a norte-americana sejam finalmente libertos.

Entre figuras como Purity Ring, Blood Diamonds, Majical Cloudz e Doldrums, quem talvez melhor se relacione e mais se aproxime das mesmas esquizofrenias testadas por Grimes seja o conterrâneo e parceiro de longa data d’Eon. Partidário do mesmo desejo de brincar com a eletrônica, pop, hip-hop, ambient e diversas outras referências e gêneros em um único agrupado, o músico de Montreal faz do segundo registro em carreira solo uma delirante viagem por um mundo de sonorizações fantásticas, paisagens sonoras mágicas e uma variedade de texturas que se encontram para a construção de uma sonoridade distinta e jamais óbvia. Da mesma forma que no disco de estreia, Palinopsia (2010), o interesse do músico ainda é de experimentar e testar novos rumos musicais, algo que ele amplia com o passar do complexo LP (2012, Hippos in Tanks).

Espécie de registro irmão daquilo que Boucher desenvolve em sua mais recente obra, o álbum carrega ao longo das 14 faixas que o definem um substancial aparato de possibilidades, com d’Eon se aproximando tanto de uma sonoridade mais “difícil” – algo bem delimitado na mutável Signals Intelligence -, como de faixas mais comerciais e naturalmente próximas do que encontramos em Visions. A capacidade do norte-americano de se divertir com os sons e com os diferentes níveis de dificuldade dentro da vasta obra permitem que ele alcance e cubra distintos cantos da música, brincando vez ou outra com o R&B, como em Virgin Body (no melhor estilo How To Dress Well) ou mesmo com o synthpop tradicional que acaba marcado na música I Look Into the Internet.

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Por mais que a atuação de d’Eon esteja intencionalmente relacionada aos experimentos de Grimes, muito do que parece definir o novo disco do canadense vem diretamente de ensinamentos e recentes aproximações com o trabalho nova-iorquino Daniel Lopatin. Enquanto na faixa Gabriel pt. II as ambientações ruidosas e temperadas pelo estranho se conectam diretamente com o que Lopatin desenvolveu à frente do último disco com o Oneohtrix Point Never – Replica – em I Don’t Want to Know temos um oposto, como se o norte-americano buscasse alcançar a mesma medida pop nostálgica explorada no primeiro disco do Ford & Lopatin, o caseiro Channel Pressure. Independente dos rumos, a relação com Lopatin serve para engrandecer o projeto que evita os mesmos erros do disco passado justamente por se reinventar a cada nova canção, uma das marcas de qualquer trabalho de Daniel.

Mesmo a variedade de sons e formas não conseguem evitar o único e grande defeito do disco, que leva tempo demais para “esquentar”. Extenso, o álbum parece se dividir em duas partes, sendo a primeira temperada por composições mais amenas, climáticas e pouco experimentais, uma espécie de preparação para a segunda metade do registro, em que os acertos prevalecem em forma de ruídos, batidas sempre instáveis e uma maior conexão com a música eletrônica em seus múltiplos estágios. Enquanto nos minutos iniciais o disco parece se arrastar em alguns pontos, repassando em diversos momentos a sensação de “já ouvi isso antes”, quando alcança a sexta ou sétima faixa o álbum parece de fato estabelecer um ritmo próprio, sensação que se estende até a última e surpreendente música do disco, Al – Qiyamah, um belo retrato do que são as estranhas formas sonoras propostas por d’Eon.

Assim como Grimes, o canadense parece estar inserido de forma marcante em diversos cenários musicais ao mesmo tempo em que não pertence a nenhum. A multiplicidade que perverte o álbum carrega o ouvinte por diferentes décadas, experiências e possibilidades sonoras, um enorme mosaico de cores independentes que ao ser observado de longe parece estranhamente coeso, revelando uma imagem impossível de ser imaginada previamente.

LP (2012, Hippos in Tanks)

Nota: 8.2
Para quem gosta de: Grimes, Oneohtrix Point Never e Laurel Halo
Ouça: Al – Qiyamah, Gabriel pt. II e Virgin Body

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.