Disco: “Luisa Mandou Um Beijo”, Luísa Mandou Um Beijo

/ Por: Cleber Facchi 04/04/2012

Luísa Mandou um Beijo
Brazilian/Indie Pop/Female Vocalists
http://www.luisamandouumbeijo.com/

Por: Cleber Facchi

 

Há um tipo de graça que parece fluir apenas nas composições do coletivo carioca Luisa Mandou Um Beijo. Criado no final da década de 1990, o grupo vêm há tempos se revezando na construção de um som agradável, inteiramente melódico e embalado por pequenos versos pop-hipnóticos. Absorvendo o clima matutino do Rio de Janeiro, a banda já cantou sobre borboletas imperiais, falou sobre Glauber Rocha, se desfez em luz e agora nos convida a viver um novo e adorável conjunto de experiências, todas aglutinadas dentro do terceiro e mais recente álbum da banda, um homônimo trabalho que nos possibilita – mesmo que por alguns minutos – viajar.

Assim como o anterior disco partia “exatamente” de onde a banda havia estacionado no primeiro álbum – na doce e caseira Introdução de O Maracá -, com a chegada do terceiro trabalho em estúdio não é diferente. Os contornos semi-místicos de Homem Azul partem exatamente do que a banda havia encerrado há três anos, quando Introdução de Homem Azul deu uma leve dose do que encontraríamos posteriormente. Suave, a canção de abertura apresenta ao público o que ele encontrará nas próximas 11 faixas do disco, composições leves, marcadas por doses confortáveis de guitarras e a voz sempre encantadora (e por vezes angelical) de Flávia Muniz.

Produzido dentro do sistema de Crowdfunding – que contou com a colaboração de 78 pessoas -, o registro soa claramente como um presente ao público do grupo. Nada do que se manifesta no interior da obra parece se desviar do que a banda já vinha desenvolvendo, trazendo pequenas doses de rock, ska, samba e um pouco de marchinhas carnavalescas. A maneira leve que dá condução ao instrumental do álbum, entretanto, acaba soando incompatível em diversas vezes com os vocais de Muniz. Tanto voz como a instrumentação parecem caminhar por trajetos distintos, como se não fossem partidários de um mesmo sentimento ou não buscassem por qualquer forma de sintonia, gerando constante desconforto ao longo do álbum. É como se a voz de Flávia estivesse distante do disco, sobreposta de forma irregular e estranha.

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A incompatibilidade entre voz e música acaba por prejudicar o trabalho em diversos momentos, algo já perceptível no single Sério, Isso é Muito (lançado há alguns meses) e intensificado em faixas como Capitu e Jet Plane. A conexão entre os dois elementos só parece se atenuar a partir de Amoras, peras e maçãs. Nona composição do álbum, a faixa entrega a voz de Muniz límpida e coerentemente amarrada à sonoridade que a circunda, gerando a simetria que deveria ser aplicada desde o primeiro momento do trabalho. Estranhamente é a partir daí que o grupo gera os melhores exemplares do disco, algo que o rock rápido de Tempestade e a colorida Beira-mar (marcada pelos ritmos brasileiros) assumem com beleza e propriedade.

Por mais agradável que seja o trabalho em diversos pontos, faltam composições de peso aos moldes de velhas criações do grupo. É visível o quanto a ausência de músicas como Maracanã, Amarelinha, Borboleta Imperial e Mar sem Sal prejudicam o rendimento do disco. Mesmo Sério, Isso é Muito, canção que melhor reforça o lado “pop” da banda acaba soando como um Lado B menos inspirado do quinteto, que só acerta a mão (de leve) em Cinco e Vinte Seis e Histórias de Princesa, faixas muito mais puxadas pelo instrumental do que pelas letras em si – onde estão os doces jogos de palavra que o grupo antes desenvolvia?

Com o terceiro álbum a Luisa Mandou um Beijo alcança exatamente o que parece propor: um trabalho inteiramente voltado aos velhos seguidores da banda. Ouvintes que se apaixonaram pelas suaves melodias propostas pelo grupo em meados da década passada e devem se acomodar, mesmo que por alguns instantes, nas novas criações do grupo. Uma pena, afinal, eles poderiam ir um pouco mais além.


Luisa Mandou um Beijo (2012, Multifoco/Midsummer Madness)

Nota: 7.0
Para quem gosta de: Ludov, Pullovers e Pato Fu
Ouça: Histórias de Princesa e Amoras, peras e maçãs

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.