Disco: “Lux”, Brian Eno

/ Por: Cleber Facchi 21/11/2012

Brian Eno
Experimental/Ambient/Electronic
http://lux.brian-eno.net/

Por: Cleber Facchi

Existem duas “versões” de Brian Eno. A mais recente e talvez melhor conhecida pelo grande público se relaciona com os registros feitos em parceria. São eles os projetos assumidamente divididos com outros compositores e músicos – como o bem sucedido Everything That Happens Will Happen Today (2008), em colaboração com David Byrne -, ou os trabalhos em que Eno assina apenas a produção, sendo o mais recente deles Mylo Xyloto (2011), quinto registro em estúdio dos britânicos do Coldplay. Se em parceria o ex-Roxy Music deixa transparecer a marca nítida de seus inventos, teclados e produções, ao mergulhar nos registros particulares que o músico realmente consegue nos hipnotizar.

Mais recente trabalho solo do britânico, Lux (2012, Warp) incorpora a boa forma vivida por Eno a partir da segunda metade da década de 1970, quando o artista deixou o Roxy Music em segundo plano e passou a executar os experimentos minimalistas que tanto marcam sua carreira. De fato, parte grandiosa do que decide os rumos do presente álbum se relaciona sob forte intimidade com tudo que ecoa em trabalhos como Discreet Music (1975) e Ambient 1: Music for Airports (1978), obras de peso dentro da discografia do músico, e registros que reverberam de uma forma ou outra dentro das construções atmosféricas impostas nos quatro atos no novo disco.

Lançado como base climática para instalações espalhadas ao redor do globo – museus, aeroportos e outros espaços –, Lux incorpora na sutileza das formas e nos encaixes minimalistas uma densa manifestação erudita, reflexo da necessidade (e do estudo aplicado) de Eno em transportar essa tonalidade específica para junto do “grande público”. Delicado, o álbum se espalha em um conjunto almofadado de pianos, bases suavizadas e acréscimos sempre diminutos, como o arranjo de cordas de Nell Catchpol ou as guitarras de Leo Abrahams, instrumentos sempre orientados dentro da proposta leve do registro.

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Musicalmente trabalhado dentro de quatro extensas composições – todas na faixa dos 18 minutos de duração -, o novo registro brinca com os detalhes e a mente do ouvinte. Sempre se movimentando dentro de uma medida própria de tempo, o álbum absorve em cada acorde, batida ou tecla uma transformação natural, como se cada ponto ao longo do projeto fosse íntimo do espectador ou talvez parte espontânea do que o envolve. Tudo é acolhedor, reflexivo e doce, como se cada música acalentasse de forma suave e carinhosa o ouvinte.

Próximo do jogo de referências que caracterizam a própria produção do britânico, em Lux é possível encontrar uma série de marcas não mais relacionadas aos trabalhos do compositor, mas de outros gigantes da cena ambient/experimental. Dos acordes leves de que se espalham pontuais ao longo do disco, passando pelo jogo de ruídos simétricos, por diversos momentos Eno se encontra com versões jovens de si, ou mais especificamente os trabalhos de Fennesz (da fase Endless Summer) e principalmente Tim Hecker. Até pequenas passagens pela obra de Steve Hauschildt são possíveis de serem encontradas em determinados momentos do extenso álbum.

Mesmo hermético e finalizado dentro dos quatro atos que o envolvem, Lux é um trabalho que vai além dos próprios limites. Parece – assim como as grandes obras do produtor – feito para se misturar aos demais sons que envolvem o ambiente. Do barulho dos carros, ao som da chuva, dos ruídos do metrô, ao som de diálogos distantes, cada uma das quatro faixas do trabalho se materializa como base, permitindo que um mundo de sons e acústicas externas circulem em torno do álbum, tornando Lux um projeto infinito.

Lux (2012, Warp)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Tim Hecker, Fennesz e Harold Budd
Ouça: o disco todo

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.