Disco: “Luxury Problems”, Andy Stott

/ Por: Cleber Facchi 26/10/2012

Andy Stott
Experimental/Dub Techno/Electronic
https://www.facebook.com/pages/Andy-Stott

Por: Cleber Facchi

Funcionário de uma montadora de carros em Manchester, Inglaterra, Andy Stott parece encontrar no cenário que o envolve as bases para cada obscura composição arquitetada. Estabelecendo uma mistura inusitada entre Dub e as predisposições eletrônicas do Techno, o produtor britânico fez nascer no último ano dois registros de puro invento e complexidade: Passed Me By e We Stay Together. Lançados separadamente em um curto intervalo de tempo, os dois registros formalizaram as bases para um cenário obscuro e denso que o artista parecia revelar como íntimo conhecedor. Um emaranhado de batidas matemáticas e bases sobrepostas que se erguiam como muros quase intransponíveis nos ouvidos do espectador – figuras que a acabaram inevitavelmente hipnotizado pela sequência de fontes atmosféricas derramadas pelo inglês.

Ainda imerso no mesmo panorama em preto e branco, formas abstratas e sonorizações abafadas que se expandiram no último ano, Stott apresenta uma segunda etapa do exato emaranhado instrumental que promove: Luxury Problems (2012, Modern Love). Sequência consciente e bem resolvida dos dois registros que o precedem, o álbum reverbera de maneira levemente ensolarada a mesma massa de ruídos que o produtor tratou de orquestrar há poucos meses, aproximando o britânico (e o próprio público) de um condensado que mesmo similar permite incorporar uma incontestável frente de novos experimentos, sons e, claro, ruídos. Todavia, para além do cenário de faíscas, braços robóticos e peças de veículos, o álbum vai além dos limites da fábrica, apresentando o real habitat do produtor.

Como se assumisse uma versão acinzentada do que apresenta o casal Peaking Light no dubísmo psicodélico do álbum 936 (2011), Stott sobrepõe sons de forma a sufocar o ouvinte em uma onda instrumental de natureza sempre melancólica e amarga. Recheado do princípio ao fim por vozes etéreas distribuídas de forma aleatória, transições atmosféricas pelo drone de Tim Hecker, batidas descompassadas e inclusões instáveis de ritmos que se opõe, Luxury Problems pode até manter grande parte das mesmas preferências que acompanham o britânico, entretanto, bastam apenas os distúrbios místicos de Numb ou as vozes quase “cantaroláveis” de Lost and Found para entender que a premissa é completamente outra.

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Menos hermético que os dois mini-discos lançados no ano passado, ao estrear de forma definitiva Andy busca estabelecer uma sonoridade mais heterogênea, ressaltando nuances que por vezes se perdiam no agrupado de formas soturnas firmadas há alguns meses. A primeira transformação em relação aos trabalhos anteriores está no uso apurado das vozes, ferramenta que amplia de maneira significativa todos os percursos do trabalhos. O que antes era apenas um complemento em músicas como Intermittent e Dark Details, agora se expande de forma necessária, sendo praticamente impossível visualizar a obra de Stott sem o agrupado de vozes björkianas em Hatch The Plan ou a versão robótica de Laurel Halo em Leaving.

Além da inclusão constante dos vocais, em Luxury Problems o que mais diferencia a obra de Stott está na maneira como batidas, vozes e sons percorrem vias separadas, um oposto do resultado homogêneo de outrora. Ainda que músicas como Expecting e Up The Box até se aproximem do mesmo delineamento sonoro impresso em faixas já conhecidas como Posers ou New Ground, os percursos acabam sendo outros. Para além de observar as faixas como um denso acumulado instrumental, Stott parece dissecar separadamente cada pedaço da canção, separando vozes, batidas e em alguns momentos até a massa volumosa que corre letárgica ao fundo do disco. A medida não apenas garante renovação do ponto de vista dos trabalhos anteriores, como aproxima o ouvinte de um universo totalmente novo – por vezes até mais atrativo.

Porção mais distinta e rara do que circula pela eletrônica recente, Luxury Problems soa como se Andy Stott tentasse tirar o som de um rádio velho soterrado por montes de terra e concreto. Uma sonoridade que não apenas se anuncia como a manifestação exata de um cenário caótico e pós-apocalíptico, como parece existir apenas por existência desse exato panorama, sujo e instável – quase um trabalho irmão do que Actress desenvolve de maneira “límpida” em R.I.P. Um recorte sonoro do cotidiano que circula a vida do produtor inglês, mas que curiosamente parece tingir os paredões de concreto ou os cantos mais obscuros que se erguem em qualquer grande cidade ao redor do globo.

Luxury Problems (2012, Modern Love)

Nota: 8.8
Para quem gosta de: Actress, Peaking Light e Tim Hecker
Ouça: Numb, Sleepless e Up The Box

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.