Disco: “Madrid”, Madrid

/ Por: Cleber Facchi 17/08/2012

Madrid
Brazilian/Indie/Alternative
http://wearemadrid.co.uk/

Por: Gabriel Picanço

Madrid

É estranho acreditar que o resultado da equação Adriano Cintra mais Marina Vello tenha como resultado algo tão sutil, refinado e classudo. Para quem não ligou os nomes as pessoas, os dois são antigos membros de Cansei de Ser Sexy e Bonde do Rolê, respectivamente. Ele era o cabeça por trás da banda de eletrorock de garotas e ela a voz do projeto de funk carioca de Curitiba. Agora os dois se unem em um projeto que se revela uma boa surpresa: Madrid (nada a ver com a capital espanhola, mas sim uma junção dos nomes dos integrantes, ao estilo daqueles pais que batizam seus filhos como Marielton ou Josimar), com uma música séria e delicada não lembra em nada o provável resultado de fusão entre CSS e Bonde do Rolê.

O divórcio nem um pouco tranquilo entre Cintra e CSS (seguido de troca de farpas na imprensa e desdobramentos judiciais) certamente influenciou no clima down e obscuro do álbum. A separação de Marina e Bonde aparentemente foi menos dramática e superada a mais tempo. Cintra, homem de muitos projetos e que já tinha historia e estrada antes de estourar com o CSS, comprova o seu talento em arranjos simples e belos, com piano e voz como elementos principais. Totalmente feito a quatro mãos, em um esquema lo-fi e caseiro que contribui para o aconchego confortável do álbum, Madrid é bem construído e finalizado.

A composição do disco não ficou a cargo somente de Adriano. Marina Vello também toca e assina as músicas, e, principalmente, canta a maioria das faixas (todas em inglês). A voz de Adriano, apesar de funcionar como um complemento em certos momentos, se destaca um pouco menos, não ficando a altura e revelando uma diferença sensível. Mesmo assim, em Poison ele se arrisca sozinho nos vocais e o resultado é uma das faixas mais interessantes do álbum. Já a seguinte, a dolorida Bride Dress in a Fame, mostra porque que Marina é a voz do álbum.

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Retrato do disco como um todo, Sad Song traz tudo o que uma música com esse título pede: vocais arrastados (no caso, um dueto), melodia tristonha no piano e uma letra deprê. A adição do saxofone na faixa contribui ainda mais para o clima soturno. O saxofone volta na faixa seguinte, I’ve Been Around, mais melosa e apaixonada que a anterior, mas ainda carregada de tristeza. Assim como a maior parte dos instrumentos do disco, os metais foram conduzidos por Adriano. E, mesmo que não tocados com muita técnica, compensam na personalidade e cumprem a sua função.

Em Home o piano é substituído por guitarra, em uma canção arrastada e cansada. Já na parte final do disco, quando certa monotonia poderia começar a ser sentida, aparecem canções mais leves e iluminadas. A escaleta traz um clima mais alegre a Free Fall, mas sem nunca tirar a delicadeza. Your Hand continua o respiro entre as canções melancólicas, com direito inclusive a um riff de guitarra, usando uma formúla bem resolvida de indie rock. I fly, a música mais acelerada é justamente a que fecha o disco e talvez seja a única que (com algumas modificações nos arranjos) serviria a antiga banda de Adriano.

É bem provável que Madrid seja o que os dois músicos realmente desejam mostrar ao público. Este é um trabalho mais artístico, focado exclusivamente na música, algo que não se pode dizer a respeito dos principais projetos anteriores da dupla. É natural que venha a lembrança o tipo de música que Adriano e Marina eram sinônimo a alguns anos atrás. Mas, os primeiros segundos do álbum já afastam qualquer possibilidade de algo que seja minimamente familiar a essa “música do passado”. O que sinceramente não faz nenhuma falta nesse caso. Gostando ou não, não dá para ignorar a importancia de Cansei de Ser Sexy e Bonde do Rolê para o Brasil, principalmente no que se diz respeito a presença dos dois como representantes da nossa música do século XXI no exterior, mas o novo projeto é algo diferente e merece ser ouvido como e pelo que é: música séria e honesta de dois músicos talentosos, mesmo que o passado festeiro ainda reverbere nos nossos ouvidos e as luzes e cores de outrora tentem brilhar mais que os tons sérios e frios de Madrid.

Madrid (2012, Independente)

Nota: 7.5
Para quem gosta de: Agridoce, Quarto Negro e Cícero
Ouça: Sad Song

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.