Disco: “Magna Carta Holy Grail”, Jay-Z

/ Por: Cleber Facchi 09/07/2013

Jay-Z
Hip-Hop/Rap/R&B
http://lifeandtimes.com/

 

Por: Cleber Facchi

Jay-Z

Gigantes ou novatos, a ambição é parte fundamental para a construção de qualquer obra de destaque dentro do Hip-Hop. Da auto-coroação divina de Kanye West em Yeezus (2013), até alcançar a somatória de clássicos que abastecem o gênero desde o começo dos anos 1980, crescer e ocupar espaços dentro da cena norte-americana é o objetivo de cada novo rapper. Ciente disso e veterano da produção estadunidense, Jay-Z ocupa com destaque desde o começo da década passada um posto assumido por poucos no topo dessa pirâmide. Uma posição coerentemente ministrada com experiência, invenção constante e, claro, doses conscientes de plena ambição.

O resultado de toda essa manifestação segura do rapper se traduz na construção de obras fundamentais ao gênero – sejam elas individuais ou colaborações, como o encontro com Kanye West no ótimo Watch The Throne (2011). São clássicos atemporais e de essência comercial, como The Blueprint (2001) e The Black Album (2003), além do invento urbano que comanda a atuação do então jovem rapper em meados dos anos 1990. A mesma ambição, entretanto, não se esquiva de erros, efeito que se repete vez ou outra, como no raso Kingdom Come (2006) ou no reaproveitamento de ideias que ocupa toda a extensão de The Blueprint 3 (2009). Contudo, poucos trabalhos de Jay-Z se manifestam de forma tão pretensiosa e irregular quanto o presente Magna Carta Holy Grail (2013, Roc Nation).

Vindo de uma sequência de acertos que incluem American Gangster (2007), parcerias com Justin Timberlake e um dos maiores impérios da música atual, Jay-Z assume com o novo registro um pleno descontrole sonoro. Lançado como uma espécie de “produto” a ser comercializado em parceria com a Samsumg, Magna Carta soa como um trabalho feito sob encomenda, e a julgar pelo resultado, às pressas. Trata-se de uma obra vazia em proximidade ao discurso afiado e a força dos versos recentemente comprovada pelo “foda-se” ao Governo dos Estados Unidos com Open Letter. Uma obra que copia todos os acertos acumulados pelo rapper ao longo da carreira, e replica isso como um produto fácil, como se fosse projetado ao descarte.

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Da capa tomada por referências arqueológicas, passando pelo título épico, até alcançar as líricas inclinadas à grandeza, tudo faz crer que Jay-Z teria em mãos outro clássico. Um erro. Não se trata de expectativa em cima de frustração, mas de perceber o quanto cada música apresentada pelo rapper se apresenta como uma cópia piorada de tudo o que foi entregue previamente pelo próprio artista. Enquanto Somewhere in America é apresentada como uma quase extensão do mesmo resultado exposto em Watch The Throne (vide Otis), FuckWithMeYouKnowIGotIt surge como um clone da sonoridade exposta em The Black Album e dos versos em American Gangster. Some a isso a imposição de um Timbaland visivelmente cansado e você tem em mãos uma desnecessária coletânea de quase sobras de estúdio.

Como se não bastasse o reaproveitamento das próprias ideias, Jay-Z usa do registro como uma interpretação “particular” da obra de boa parte dos colaboradores espalhados pelo disco. Se Oceans é uma variação da identidade de Frank Ocean em Channel Orange (2012), então a faixa de abertura, Holy Grail, se manifesta como uma versão estranha do encontro com Justin Timberlake em Suit & Tie, primeiro single de The 20/20 Experience (2013). Sobra até para uma estranha menção à Smells Like Teen Spirit, do Nirvana, surgir no decorrer da faixa, provando que não bastam colagens e referências diversas para a composição de um bom disco.

Longe de ser o primeiro e o último erro de Jay-Z – quem não se lembra do “glorioso” registro em parceria com o Linkin Park -, Magna Carta Holy Grail evidencia uma plena necessidade de renovação na carreira do rapper, que erra justamente por se manter em uma estrutura conceitual previsível e há tempos desgastada. Longe de repetir o êxito recente de veteranos como Kanye West, Nas e Rick Ross (que inclusive aparece pelo disco), o rapper entrega um álbum ganancioso, prova de que a famigerada zona de conforto e a busca por um resultado rápido subtraem qualquer dose de possível invento antes testados pelo artista. Um disco assinado por Jay-Z, mas produzido por uma equipe de Marketing.

 

Jay-Z

Magna Carta Holy Grail (2013, Roc Nation)

Nota: 4.0
Para quem gosta de: Kanye West, Nas e Justin Timberlake
Ouça: F.U.T.W., Holy Grail e Part II (On The Run)

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.