Disco: “Mais um Pedaço Meu”, Pousatigres

/ Por: Cleber Facchi 02/09/2014

Pousatigres
Brazilian/Indie Pop/Alternative
http://www.pousatigres.com.br/
https://www.facebook.com/Pousatigres/

Por: Cleber Facchi

De todos os elementos que separam a presente geração de artistas brasileiros daqueles que surgiram na última década, a interpretação do pop e a forma como as melodias hoje são estruturadas talvez seja a mais latente. Salvo o trabalho de nomes como Silva e Mahmundi, é evidente o “receio” e a maneira “truncada” como algumas bandas desenvolvem as próprias harmonias e versos. Uma sensação de medo em parecer acessível, feito “para as massas”, postura inexistente no som de veteranos como Ludov, Wonkavision, Video Hits e demais artistas centrados (de uma forma ou outra) em abraçar o grande público.

Nada poderia ser mais satisfatório do que encontrar em Mais um Pedaço Meu, novo registro da paulistana Pousatigres, o mesmo “compromisso” musical ressaltado na geração passada. Doce e carregado de referências tão presentes quanto nostálgicas, o trabalho curto engata em uma sucessão de vozes, arranjos e harmonias feitas para grudar no cérebro do ouvinte. Uma aproximação coerente entre pop e rock que há muito parecia abandonado (ou explorado de forma errada) em solo nacional.

Inaugurado pelo encontro sublime entre guitarras, vozes e violões de Telescópio, o catálogo de apenas seis faixas aos poucos resume todas as referências e interpretações que orientam o já experiente coletivo – Bruna Mariani (Condessa Safira), Rodrigo Palmieri (ex-Drosóphila), Elaine Jardim (ex-Drosóphila), Lucas Mello e Jobas Monteiro (ex- Kafka Show).

Com naturalidade, o pop empoeirado dos Beach Boys encontra Rumors (1977) do Fleetwood Mac (Vício e Virtude), vocalizações típicas da Jovem Guarda esbarram no rock alternativo dos anos 1990 (Banho & Tosa), e todo um universo de tendências aos poucos parecem dançar de acordo com o ritmo imposto pela banda. Cinco décadas de músicas, diferentes cenas e tendências condensadas, prensados e expostos dentro de um bloco único de composições.

Mais do que um recuperar constante de sons e experiências – ainda capazes de brincar com a obra do Pavement, Weezer e The Cardigans -, o registro brilha como uma típica obra de posicionamento autoral. Basta perceber a continua relação entre cada música, como se o grupo resumisse com maior naturalidade as experiências lançadas no disco homônimo, de 2013. De fato, grande parte das canções do novo álbum crescem como uma extensão do EP anterior, aprimorando a fórmula já exaltada em Caminhos Tortos, Palavras Ensaiadas e demais faixas seguras lançadas há poucos meses.

Com a capacidade rara de produzir faixas sóbrias – caso de Me Salva -, ao mesmo tempo em que se revela habilitado a produzir típicos hits-pop-chiclete – como Banho & Tosa -, o grupo assume um lugar de destaque dentro da produção atual. Um espaço limitado, ocupado apenas por Nevilton, Gru e escassos “partidários” dos mesmos conceitos melódicos. Como traduz a radiofônica Charada, ser acessível está longe de parecer um defeito, e a banda parece entender bem isso

Mais um Pedaço Meu, como grande parte das obras que a banda paulistana carrega como referência, é um trabalho que merece ser apreciado em essência – do primeiro ao último acorde, palavra por palavra. Não haja qualquer resistência do ouvinte em relação a isso, pelo contrário, atravessar o conjunto doce de faixas que recheiam o disco é uma experiência encarada com plena satisfação, partindo do estímulo certo lançado pelo grupo.

Mais um Pedaço Meu (2014, Independente)

Nota: 8.2
Para quem gosta de: Ludov, Nevilton e Gru
Ouça: Telescópio, Banho & Tosa e Me Salva

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.