Disco: “Mala”, Devendra Banhart

/ Por: Cleber Facchi 14/03/2013

Devendra Banhart
Folk/Singer-Songwriter/Indie
http://www.devendrabanhart.com/

 

Por: Cleber Facchi

Devendra Banhart

O fascínio de Devendra Banhart pelos ritmos latinos sempre acompanharam toda a discografia do cantor e compositor texano, porém, nunca de forma tão explícita quanto no decorrer de Mala (2013, Nonesuch). Oitavo e mais recente álbum da carreira daquele que é um dos maiores expoentes da cena Freak Folk estadunidense, o disco esbanja referências à música construída em toda a América Latina, principalmente os realces que sustentaram a Bossa Nova e boa parte dos sons brasileiros de 1950 até a explosão da Tropicália. Ora João Gilberto, ora brincando com a imagem comportada de Caetano Veloso, o músico presenteia o folk estadunidense com uma camada extra de temperos tropicais.

De visual renovado – os cabelos longos e o visual neo-hippie parecem ter ficado definitivamente para trás -, Banhart deixa evidente a figura de bom moço, reforçando ainda mais a aproximação com a mesma postura discreta do “pai da Bossa Nova” em começo de carreira. Livre de exageros musicais e capaz de lidar com um som marcado pela serenidade, o cantor trata do álbum como um lançamento de razões intimistas. Distante do Folk Rock e dos encaixes psicodélicos aprimorados em Cripple Crow (2005), Devendra rompe com a grandeza dos sons de forma a minimizar todos os elementos e acolher o ouvinte – seja ele novo ou velho seguidor do músico.

Completamente distinto quando posicionado próximo do fraco What Will We Be (2009), último álbum do cantor, o novo disco tira Banhart da zona de conforto a que estava habituado ao mesmo tempo em que aproxima o norte-americano de velhas marcas do passado. Se por um lado o clima tropical resulta em achados de beleza quase inédita como Mi Negrita e Never Seen Such Good Things, por outro lado ele ameniza a relação com Rejoicing in the Hands e Niño Rojo, ambos registros de 2004. A diferença está no completo distanciamento do Psych Folk que antes abastecia as canções assinadas pelo músico, percurso que estreita o caminho para o clima latino que banha grande parte da obra.


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A busca complexa por versos dolorosamente comerciais também é uma das grandes características que abastecem o novo álbum. Construído do princípio ao fim por canções manchadas pela saudade, Banhart substitui a dor latente que outrora (e que seria capaz de direcionar seus antigos discos) por um composto agridoce e melódico. A melancolia existe, porém, tratada de maneira tão cuidadosa e delicada que tudo é compreendido com um fino sorriso no canto da boca. Íntima dos sons litorâneos da década de 1960, Your Fine Petting Duck representa bem todo esse sentimento que abastece o álbum, tratando do fim de relacionamento com nostalgia e certa dose de felicidade.

Ao se ausentar dos pequenos exageros do passado e do uso não coerente das guitarras, Devendra estabelece um registro de proporções homogêneas. Claro que Mala indispõe do mesmo ineditismo e das pequenas surpresas assumidas pelo músico no começo dos anos 2000, mas serve como um ponto de transformação para quem esperava por algo além dos limites prévios fixados pelo cantor. Lidando com um som de raízes essencialmente pacatas, Banhart estabelece um trabalho tão criativo quanto em começo de carreira, talvez até mais honesto e menos próximo do que em alguns momentos parecia ser uma encenação ou um personagem interpretado pelo artista.

Mergulhado em recortes dolorosos de tudo o que passou pela vida do músico nos últimos quatro anos, Mala se sustenta como um registro atual e ao mesmo tempo nostálgico. Menos metafórico e muito mais consciente da necessidade de soar íntimo do público, Devendra Banhart trata de cada composição como um instrumento de aproximação com diferentes públicos, sendo possivelmente o registro mais acessível e encantador de toda a carreira do norte-americano. Ao que tudo indica pouco do antigo Banhart parece ter sobrevivido, e isso está longe de parecer um erro.

 

Mala

Mala (2013, Nonesuch


Nota: 7.8
Para quem gosta de: Caetano Veloso, Kings Of Convenience e José González
Ouça: Mi Negrita e Never Seen Such Good Things

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.