Disco: “Manifest!”, Friends

/ Por: Cleber Facchi 06/06/2012

Friends
Indie Pop/Female Vocalists/Lo-Fi
https://www.facebook.com/sdneirfbackwards

Por: Fernanda Blammer

Talvez aos olhos e ouvidos dos velhos ouvintes e figuras retrógradas que insistam em intervir no processo de construção da música atual, o pop ainda se projeta de maneira estável, preso aos mesmos erros que há décadas definem e tornam redundante o estilo. Os mais atentos, entretanto, estes perceberam que o gênero, longe das afinações radiofônicas e comerciais encontrou um novo e renovado caminho. Uma soma de inéditas possibilidades que se manifestam de forma ativa no trabalho de uma sequência de recentes bandas. Grupos como o quinteto nova-iorquino Friends, que nitidamente próximos da música pop de outrora parecem inclinados a experimentar e perverter as lógicas do estilo atual.

Desde os primeiros lançamentos há alguns meses – como no clipe da faixa I’m His Girl -, o caráter de timidez era o que prevalecia nas composições da banda, que encontrava na sonoridade que marcou a música dos anos 80 o principal reforço para influenciar estes primeiros compostos musicais. A timidez ainda prevalece, porém, transformada de maneira a beneficiar o disco Manifest! (2012, Fat Possum), primeiro registro oficial do quinteto e um adorável retrato de como os grupos de música pop atuais parecem compreender e expressar musicalmente o gênero.

Muito próximo do que os conterrâneos do Twin Sister promoveram com o lançamento do suave e nostálgico In Heaven, ou de forma menos empolgada lembrando o disco de estreia da banda Givers, o quinteto nova-iorquino converte o delicado debut em um trabalho que mesmo próximo de uma série de outros registros parece incorporar uma linguagem própria e detalhadamente reformulada. A percepção dessa estrutura se faz visível no decorrer do primeiro single do álbum, a faixa de encerramento Mind Control, uma canção que percorre o pós-punk amigável que definiu os primeiros discos do Gang Of Four, bebe de forma comportada do synthpop remodelado dos anos 2000, até absorver pequenas doses do que há de novo no Dream Pop norte-americano.

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=I90FkC6BMbw?rol=0]

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=O5VNumNJyqE?rol=0]

Mesmo que a instrumentação repleta de eco e toques mais caseiros acabe se revelando como o grande destaque do álbum – que mergulha tanto em um lado mais pop como em outro mais experimental -, sem dúvidas o que engrandece a obra e expande os horizontes do disco é a voz sempre diversificada da líder Samantha Urbani. Sem jamais ficar presa a um único e imutável segmento, a norte-americana usa dos mais de __ minutos de duração do registro para entregar tanto uma performance mais amigável (resultado visível em singles como Home e Sorry) como outro mais “agressivo”, percepção que se ativa na suja Ruins, faixa que instrumentalmente lembra um Joy Division do disco Closer (1980) mais “ensolarado”.

Ao final de 2011 o Friends – que fica completo com Lesley Hann (baixo, percussão e backing vocal), Nikki Shapiro (guitarra, teclado e percussão), Matthew Molnar (teclado e baixo) e Oliver Duncan (bateria) – acabou apontado por uma série de diferentes revistas e sites especializados como uma das maiores apostas para o ano seguinte. Quem arriscou e resolveu esperar pelo primeiro álbum do quinteto provavelmente não irá se decepcionar. Entretanto, o disco passa longe de ser a grande novidade apontada uma série de veículos no último ano ou mesmo por uma variedade textos recentes. Manifest! como todo bom registro de estreia vem recheado por uma série de pequenos defeitos, falhas que a banda ainda pode (e deve) resolver com os futuros lançamentos.

Ainda que a totalidade de hits estabeleçam um trabalho fácil e que deve garantir uma boa turnê de lançamento para a banda, algumas composições acabam soando desnecessárias com o passar do disco. Tanto Proud/Ashamed quanto Stay Dreaming, músicas que exploram uma tonalidade mais suave parecem destoar do restante da obra, um projeto que mantém no fluxo ascendente das canções o ponto de diálogo com o grande público e, logicamente, o maior acerto do disco. Com as faixas mais entusiasmadas torna-se evidente a principal força do coletivo, característica que se for melhor aproveitada futuramente deve garantir uma carreira sólida e promissora ao iniciante grupo.

Manifest! (2012, Fat Possum/Lucky Number)

Nota: 7.5
Para quem gosta de: Twin Sister, Tennis e Givers
Ouça: Home, Friend Crush e Ruins

[soundcloud url=”http://api.soundcloud.com/tracks/9598227″ iframe=”true” /]

[soundcloud url=”http://api.soundcloud.com/tracks/47417808″ iframe=”true” /]

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.