Disco: “Mantics”, Lady Lazarus

/ Por: Cleber Facchi 22/01/2011

Lady Lazarus
Lo-Fi/Experimental/Dream Pop
http://www.myspace.com/ladylazarusintheory

Por mais que você seja acostumado com as estranhezas da música contemporânea, como suas gravações lo-fi, experimentações, excessos ou minimalismos, ao ouvir pela primeira vez as composições de Lady Lazarus não há como negar o sentimento de que está experimentando algo completamente novo e alheio ao que você já deve ter ouvido. São 14 canções gravadas de maneira caseira, mas que ainda assim agregam um sentimento sincero e profundamente delicado em suas faixas.

A primeira atitude ao ouvir Nazarite Oath, a faixa que abre o álbum Mantic (2011) é de tentar de alguma forma se situar e encontrar um ponto em que seja possível distinguir o que é emanado pela composição. Gêneros, bandas, anos ou qualquer referência que dê um sentindo às faixas de Lazarus. Porém, aos poucos toda a estranheza inicial que se origina de um piano sujo, os vocais melancólicos da musicista e uma guitarra que emana distorções passam lentamente a se transformar em algo reconfortante. A partir daí é possível dar forma e origem às composições do disco.

É possível comparar o trabalho de Lady Lazarus (é como prefere ser chamada a jovem Melissa Ann Sweat, vinda da cidade Savannah na Geórgia) com as composições de Daniel Johnston, não somente pelo toque caseiro dado às faixas, mas também ao clima excêntrico e hermético adquirido pela instrumentação. A forma como as canções são conduzidas faz com que a artista em alguns momentos se aproxime vulgarmente do álbum Dear Sir (1995) de Cat Power, embora suas faixas sejam bem menos acessíveis que as da conterrânea Marshall. É possível ainda encontrar um pouco de Beach House dentro das composições, ainda que o som feito por Lazarus não seja tão volátil e nem tenha a mesma eficiência da dupla de Baltimore.

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Mantic só não é um trabalho melhor por conta de suas limitações. Todas as faixas do álbum foram compostas e tocadas pela jovem Sweat, que aprendeu a tocar piano há pouco mais de três anos. Outro fator que acaba prejudicando o álbum se dá por ele se manter minimalista demais. São raras as canções em que a musicista utiliza de maneira marcante sua guitarra ou novos arranjos, ficando restrita demais ao piano, quando poderia testar novas nuances em seu som. A maneira comportada como as canções seguem seu rumo acabam fazendo com que as faixas soem repetitivas com o decorrer do álbum.

Contudo com Twilight on a Steinway Lazarus consegue vencer suas limitações, a garota se permite brincar com o instrumento, culminando em uma quebra na sonoridade padronizada do álbum. Nas canções seguintes já é possível perceber uma maior desenvoltura tanto nos vocais como no som das faixas. Canções como Pearl, What It’s Like e Kurosawa’s Dreams and Me soam visivelmente distintas das faixas iniciais, ganham toques mais sofisticados e detalhes não encontrados nas faixas iniciais do trabalho.

Provavelmente Mantics deve abrir algumas portas e apresentar novos músicos à Lady Lazarus, além de a possibilidade de melhorar seu som com o passar do tempo. Como dito, seu trabalho é limitado muito mais por questões técnicas do que pela inspiração de sua criadora. A estreante ainda tem tempo de sobra para nos surpreender, afinal, a sonoridade esquisita do início, quando compreendida, nem parece mais tão estranha assim.

Mantics (2011)

Nota: 7.6
Para quem gosta de: Daniel Johnston, Beach House e Deerhunter
Ouça: The Eye in the Eye of the Storm

Por: Cleber Facchi

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.