Disco: “Mantra Happening”, Lê Almeida

/ Por: Cleber Facchi 29/03/2016

Lê Almeida
Nacional/Indie Rock/Psychedelic
http://lealmeida.bandcamp.com/

 

Com o lançamento de Paraleloplasmos, em março de 2015, o cantor e compositor fluminense Lê Almeida parecia indicar a busca por um novo conjunto de referências e sonoridades. Entre composições essencialmente efêmeras, guitarras sujas e ruídos caseiros, Fuck The New School, com mais de 11 minutos de duração, e Câncer dos Trópicos, com quase nove, sutilmente conseguiram transportar o ouvinte para um cenário parcialmente renovado, marcado pela psicodelia. Uma extensão torta do mesmo som produzido pelo músico durante quase uma década de atuação.

Em Mantra Happening (2016, Transfusão Noise Records), terceiro e mais recente registro de inéditas do guitarrista, um delicado regresso ao mesmo ambiente cósmico apresentado há poucos meses. Cinco composições extensas, pouco mais de 50 minutos de duração, tempo suficiente para que Almeida e o time de instrumentistas formado por João Casaes (guitarra), Bigú Medine (baixo) e Joab Régis (bateria) brinque com os ruídos, ondas de distorção e vozes de forma sempre mutável.

Escolhida para inaugurar o disco, a longa Oração da Noite Cheia, com mais de 15 minutos de duração, cria uma ponte involuntária para o trabalho apresentado no último ano. Emanações psicodélicas, imensos paredões de guitarra e a voz pueril de Almeida, assim como em grande parte dos registros do artista, explorada como um “instrumento” complementar. Dois atos distintos, mas que se completam ao longo da execução da faixa, como uma visita o rock da década de 1970, mas sem necessariamente abandonar o presente.

Fina representação do lado mais “experimental” da obra, Maré, segunda canção do disco, não apenas garante sequência ao material apresentado nos primeiros minutos de Mantra Happening, como ainda estabelece uma série de regras para o restante da obra. São quase 13 minutos de texturas sobrepostas e vozes carregadas de efeitos. Arranjos e conceitos que esbarram de forma autoral na obra de Ty Segall, Thee Oh Sees e outros representantes da cena norte-americana.

Dentro desse mesmo ambiente de incertezas e fórmulas propositadamente instáveis, a sequência formada por Enamorandius e Hoje Eu Não Volto Sozinho serve para reforçar a completa versatilidade de Almeia junto ao time de colaboradores. Enquanto a primeira canção reflete o lado “romântico” do músico, resgatando melodias anteriormente testadas em obras como REVI EP (2009) e Pré Ambulatório EP (2012), com a faixa seguinte, um novo ato dedicado em totalidade ao experimento. Uma coleção de guitarras sujas, batidas e distorções que mudam de direção a todo instante, bagunçando a mente do ouvinte.

Canção de encerramento do disco, Crème Sunshine delicadamente parece “organizar” o mesmo cenário caótico logo apresentado nas primeiras canções do disco. Faixa mais curta do trabalho, a composição de apenas cinco minutos abre em meio a ondulações psicodélicas, absorve temas inicialmente testados por Almeida, entretanto, aos poucos injeta guitarras, vozes e batidas de forma a replicar o mesmo som projetado pelo músico em Paraleloplasmos. Um breve instante de lucidez, como um respiro sóbrio passada a longa viagem que conduz Mantra Happening.

 

Mantra Happening (2016, Transfusão Noise Records)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Wallace Costa, Ty Segall e Yuck
Ouça: Enamorandius, Oração da Noite Cheia e Maré

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.