Disco: “Massagueira”, Fino Coletivo

/ Por: Cleber Facchi 27/05/2014

Fino Coletivo
Brazilian/Samba/Alternative
http://www.finocoletivo.com.br/

Por: Cleber Facchi

Fino Coletivo

Massagueira é um disco quente e leve. Seguindo a trilha do “samba-rock” acolhedor que foi entregue logo no primeiro álbum, de 2007, o terceiro registro em estúdio do Fino Coletivo deixa o exagero de lado para parecer ainda mais acessível, feito para dançar. Musicalmente econômico, mas não menos atrativo, o disco esquece de vez o caráter “urbano” dos dois primeiros registros, principalmente o segundo, abraçando com acerto o arrasta-pé e o clima do interior. Se Copacabana (2010) era uma tradução honesta do Rio de Janeiro, então o novo álbum é a pura interpretação de Alagoas.

De fato, a relação com o nordeste do país – casa de Alvinho Cabral e Wado, este último, ex-colaborador da banda – não é apenas conceitual, mas física em alguns aspectos. O próprio título da obra, Massagueira, é uma homenagem à aldeia de pescadores de mesmo nome e que fica localizada a 15 Km da capital Maceió. O mesmo vilarejo parece ser a base para a poesia e a estética do álbum, encarada com suavidade, descompromisso e, a julgar pelo manuseio despojado das palavras, de forma quase bucólica, como um retiro lírico e instrumental.

Tratando o ouvinte como um turista, o álbum abre com o inglês tosco (e assertivo) de Is Very Good Jan, faixa que abraça o visitante e prepara o caminho para o cenário cada vez mais acolhedor que cresce no decorrer da obra. É o último resquício da matemática pontual dos arranjos e a linearidade que serve de ponte para o disco passado. A partir de Iracema, segunda música da obra, o tom acinzentado dos blocos de concreto cai por terra, restando apenas a areia quente, os coqueiros, a praia e as melodias coerentemente harmônicas que ocupam a totalidade da obra.

Fino Coletivo

Livre da mesma complexidade “malandra” que vinha estampada em Boa Hora, Dragão e demais faixas dos primeiro álbum, Massagueira é uma obra que se esquiva dos excessos. Basta perceber o andamento de Meu Carinho, Meu Colar para perceber o enquadramento particular do disco. São composições de tratamento cotidiano, como fragmentos aleatórios do paraíso que garante título ao disco. Uma fuga natural da correria, férias improvisadas e o mais completo relaxamento – como uma viagem para o vilarejo que inspirou a obra -, sem necessariamente desplugar os fones de ouvido.

Mesmo pontuado com delicadeza da abertura ao fechamento, o novo álbum do Fino Coletivo está longe de ser observado como uma obra musicalmente simples. Ainda que o andamento seja acolhedor no uso das guitarras, batidas e acréscimos instrumentais, tudo se movimenta com evidente precisão, evidencia explícita na funcionalidade de Floreando. Posicionada no paraíso tropical que sustenta o disco, a faixa agrupa sintetizadores, metais, acordes e vozes em um alinhamento crescente, explosão tímida que brilha nos instantes finais da música, mas que em nenhum momento interfere no abrigo doce do registro. Nada além de uma fina adaptação dos acertos lançados em 2007 dentro do novo “propósito” do grupo. Um meio termo entre o samba, o rock, o reggae e a atmosfera dos anos 1970 que há temos abastece o coletivo.

Espécie de fuga – mesmo dentro da curta discografia do grupo -, Massagueira não é uma obra transformadora ou experimental – precisa apenas existir, com suavidade constante, claro. Exposição do lado mais “comercial” da banda, o registro se adorna de faixas acessíveis e melódicas, preferência que vai do romantismo, em Nós, ao toque dançante, de Por Vir, guiando o ouvinte por alguns minutos de sombra, água fresca e versos lançados com pleno equilíbrio.

 

Fino Coletivo

Massagueira (2014, Independente)

Nota: 7.6
Para quem gosta de: Curumin, Orquestra Imperial e Do Amor
Ouça: Floreando, Nós e De Maré

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.