Disco: “Master of My Make-Believe”, Santigold

/ Por: Cleber Facchi 23/04/2012

Santigold
Female Vocalists/Electronic/Indie
http://www.santigold.com/

Por: Cleber Facchi

Lançado em abril de 2008, Santogold o álbum de estreia da norte-americana Santi White é ainda hoje uma bela síntese de toda a produção musical da década passada. Do indie rock no melhor estilo The Strokes em L.E.S. Artistes e Lights Out, ao encontro da World Music com o Hip-Hop em Creator – inspirada no trabalho da rapper M.I.A. -, cada espaço do registro é ocupado de maneira a lembrar o que foi construído ao longo de todos os primeiros instantes do século XXI. Mais do que um eficiente resumo de tudo que fora lançado até o momento, o registro serviu para marcar o nascimento de uma das figuras mais interessantes do cenário daquele momento, posto que a cantora tenta (com todas as forças) manter com a chegada do aguardado segundo álbum de estúdio.

Ao longo dos quatro anos que levou para construir o recente Master of My Make-Believe (2012, Atlantic), White aproveitou para caminhar pelos mais distintos (e distantes) terrenos da música. Entre uma lenta gravação e outra, a cantora se envolveu com publicidade, emprestou os vocais para uma série de registros de outros artistas, ajudou a escrever composições para o último álbum de Christina Aguilera e até enfrentou um processo judicial por conta do nome que usava para se apresentar – “Santogold” já era utilizado por outro artista. O lançamento do esperado segundo disco, entretanto, parecia cada vez mais distante, com Santi adiando em diversos momentos a estreia do trabalho.

Perfeccionista, a cantora justificou o atraso no lançamento do disco como resultado da decepção com o “atual estado da música”. Veio também a necessidade em produzir um álbum consistente, que não esbarrasse nos mesmos artifícios da produção musical contemporânea ou que se apegasse demais ao último lançamento da artista – como se talvez Santigold não quisesse alcançar o mesmo resultado de um “disco síntese” ou que ressaltasse um aspecto excessivamente similar ao último trabalho. Logo, ela e os diversos produtores que atuaram no desenvolvimento do disco passaram quase dois anos trafegando por entre diversos estúdios ao redor do mundo, numa tentativa de manter apenas o que fosse realmente necessário para o novo registro.

Esse excessivo controle proposto por White no decorrer do novo disco é justamente o que impede a cantora – e os diversos colaboradores – de alcançar um resultado verdadeiramente satisfatório. Tudo é posicionado de maneira tão coesa, plástica e racional que o disco parece indisposto de qualquer fragmento de alma ou verdadeira energia. Por mais que faixas como Big Mouth e Disparate Youth (as únicas canções realmente radiofônicas da obra) até sejam capazes de agradar em alguns pontos, o resultado final do trabalho é simplesmente inofensivo. É como se a cantora tivesse polido tanto o álbum com o passar desses anos de gravação que ele simplesmente perdeu o brilho.

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Master of My Make-Believe lembra a todo o momento uma versão menos interessante do primeiro álbum de Santi White, como se para cada composição do registro de estreia existisse uma versão sonolenta e visivelmente arrastada no presente álbum. Como exemplo, enquanto a morna Big Mouth (produzida pelo Buraka Som Sistema) soa como uma cópia menor da suingada Creator, GO! se movimenta como uma tentativa (frustrada) de recriar a empolgante Say Aha. O mais estranho é ver como os próprios produtores parecem interessados em explorar o auto-plágio, como se Switch e J. Hill – ambos responsáveis pelas duas canções – buscassem entender como eles conseguiram acertar no passado para repetir o mesmo efeito agora.

Há durante toda a extensão do trabalho um esforço particular do ouvinte em se convencer de que o disco é de fato agradável, afinal, mesmo contra todos os problemas catalogados, os versos fáceis e quase pegajosos de algumas canções conseguem acolher o espectador. Sem grandes esforços é possível encontrar excelentes músicas espalhadas por todo o álbum. Tanto The Keepers (um rock melancólico tomado pela new wave) como The Riot’s Gone (faixa que parece ter escapado do último álbum da sueca Lykke Li, Wounded Rhymes) assumem com maestria e certo toque de renovação esse propósito, alcançando um resultado muito superior ao que a cantora propunha no disco anterior. Nessas duas composições reside toda a necessidade de White em produzir um trabalho que não ecoe similar ao que já circula por aí, flutuando entre os experimentos abstratos da canadense Grimes e o rap-pop sintetizado de Nick Minaj.

Mesmo os bons momentos do disco não conseguem impedir que ele desabe por completo quando observado como um todo. Provavelmente o grande problema do álbum não reside necessariamente na falta de grandes hits ou de músicas tomadas pela mesma energia expansiva e essencialmente dançante de outrora. O grande defeito em toda a extensão do trabalho está no tempo que ele levou para ser lançado. Mesmo as melhores composições do disco – incluindo as mencionadas logo cima – parecem ter passado tempo demais na panela, já que muitas delas só fazem sentido quando observadas do ponto de vista musical e do cenário montado há três ou quatro anos.

Master of My Make-Believe é como aquela velha e quase esquecida namorada que ao acaso esbarra em você no meio da rua: você sabe que ainda sente uma carinho especial por ela, consegue até manter uma conversa por alguns instantes, mas logo sente a necessidade em se despedir.

Master of My Make-Believe (2012, Atlantic)

Nota: 6.0
Para quem gosta de: M.I.A., Lykke Li e Nick Minaj
Ouça: The Keepers, Fame e The Riot’s Gone

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.