Disco: “MCII”, Mikal Cronin

/ Por: Cleber Facchi 09/05/2013

Mikal Cronin
Indie Rock/Garage Rock/Alternative
http://mikalcronin.bandcamp.com/

 

Por: Cleber Facchi

Mikal Cronin

Há dois anos quando Mikal Cronin apresentou ao público o primeiro registro em carreira solo, a cena californiana parecia lentamente esculpida pelo peso do Garage Rock. Parceiro de Ty Segall, Thee Oh Sees e outros artistas de enorme relevância dentro da nova safra norte-americana, Cronin fez do uso quase exaustivo de guitarras ruidosas e vozes caóticas um princípio para um trabalho que parece solucionado em totalidade agora. Intitulado MCII (2013, Merge), o recente projeto não é apenas o resultado de meses de preparação de seu criador, mas o ponto final de aprimoramento do que define boa parte do rock estadunidense atual.

Fazendo uso de uma sonoridade totalmente reformulada e em oposição ao que fora testado em 2011, Cronin parte do princípio de que guitarras saturadas de fuzz e batidas rápidas são aproveitados como meros complementos para um trabalho de se sustenta inteiro nas melodias. Contrariando o propósito agressivo que fora testado em músicas como Is It Alright e Slow Down, cada etapa do novo disco possibilita o aprimoramento dos sons e principalmente das vozes. Um tipo de tratamento evidente logo na abertura do álbum, em que as harmonias de piano espalhadas pela ensolarada Weight indicam o novo sustento instrumental do músico.

Entretanto, é preciso levar em conta que mesmo próximo de um som mais “brando”, Cronin em nenhum momento se distancia daquilo que propunha até pouco tempo. Responsável por auxiliar Ty Segall na construção cacofônica de Slaughterhouse (2011), o músico parte exatamente do que vinha construindo há alguns meses, sustentando no acréscimo de instrumentos e referências marcadas pelo detalhe a formatação de todo um novo contexto musical. São as mesmas guitarras, uma temática lírica que não foge do comum e os já tradicionais vocais ásperos, a diferença está nos mínimos pigmentos coloridos que ocupam o esboço acinzentado de outrora.


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Como já havia revelado no decorrer do primeiro disco solo, Cronin é um confesso interessado em resgatar marcas específicas do rock alternativo. Ao passo de que centenas de músicos conterrâneos parecem cada vez mais influenciados pela essência de J Mascis e outros veteranos que definiram a música da década de 1990, Mikal parece ir além. São guitarras tingidas pela suavidade do Power Pop, vocais capazes de cobrir todas as prováveis lacunas da obra e letras que simplesmente dançam pelos ouvidos. Entre memórias instrumentais que apresentaram bandas como Big Star e até elementos vocais que remetem ao The Beach Boys, o músico consegue ir além do que impulsiona a quase totalidade do rock presente.

Tão logo MCII tem início, Cronin estabelece a solução coesa que abastece instrumentalmente toda a extensão da obra. Enquanto guitarras tratam das distorções com respiro e autocontrole, as vozes são agrupadas de forma a compactuar com pianos, violões, arranjos de cordas ou mesmo pequenos coros capazes de ampliar o frescor do projeto. Sem aproveitar da mesma psicodelia de Ty Segall e outros colegas, o músico encontra no brilho pop uma solução eficiente para banhar com melodias cantaroláveis faixa após faixa presente no trabalho. O resultado desse efeito atencioso está na criação de músicas aos moldes de Am I Wrong e See It My Way, canções que flutuam entre o começo dos anos 1970, o The Breeders da fase Last Splash (1993), até o Teenage Funclub no clássico pop Grand Prix (1995).

Quase um sussurro em meio aos exageros que tingiram obras como Celebration Rock do Japandroids e a estreia do METZ no último ano, o novo álbum de Mikal Cronin brinca intencionalmente com o contraste e as pequenas oposições. Ao mesmo tempo em que as guitarras prevalecem caóticas em faixas como Change e I’m Done Running From You, a agradabilidade dos vocais preenchem o registro com um sintoma de verdadeira transformação. Cronin dificilmente deve se ausentar do ambiente que vem construindo há quase uma década, entretanto, é ainda menos provável que ele volte a percorrer um cenário que se oponha ao testado no novo disco. De forma involuntária, Cronin parece ter descoberto a música pop à sua maneira e o que vier a partir disso é ganho certo, principalmente para o ouvinte.

 

Mikal Cronin

MCII (2013, Merge)


Nota: 8.5
Para quem gosta de: Ty Segall, Teenage Funclub e Thee Oh Sees
Ouça: See It My Way, Weight e Piano Mantra

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.