Disco: “Me Emoldurei De Presente Pra Te Ter EP “, Banda Uó

/ Por: Cleber Facchi 04/07/2011

Banda Uó
Brazilian/Electrobrega/Pop
http://soundcloud.com/banda-uo

Por: Cleber Facchi

Em tempos em que se busca pela construção de sons cada vez mais experimentais, excentricidades rítmicas, composições conceituais e uma musicalidade que barra por completo a produção de algo comercial e radiofônico (o que de forma alguma chega a ser ruim), não é raro que a (boa) música pop acabe esquecida, entregue aos lançamentos da indústria fonográfica que há décadas segue por uma fórmula mais do que redundante. O encontro dessas duas frentes – a dureza da música conceitual e a banalidade dos sons comerciais – é o que acaba gerando um tipo de lacuna na música, um falta de algo que soe pop, fácil e despojado, mas que passe longe do descartável, algo que em 2006 três jovens paranaenses souberam como se aproveitar e que agora em 2011, três goianos seguem pelo mesmo caminho.

A primeira tríade acima mencionada se concentrava nas figuras de Rodrigo Gorky, Pedro D’Eyrot e Marina Vello, três curitibanos de classe média alta que valendo dos ritmos do funk carioca e rifes de guitarra deram vida ao Bonde do Rolê, projeto que alcançou proporções internacionais e que em 2006 culminou no lançamento do cômico With Lasers (Domino Records). O outro trio, mais recente, surge sob a alcunha de Banda Uó, se completando com a presença de Davi Sabbag, Mateus Carrilho e Candy Mel, goianos que sugando todas as referências do electrobrega e dos ritmos nortistas dão vida ao recente Me Emoldurei De Presente Pra Te Ter EP (Avalanche Tropical), trabalho que assim como o primeiro registro dos curitibanos se cerca de bom humor, dinamismo, uma bela produção e tudo aquilo que parece distante da atual música pop nacional.

Desde que as primeiras composições do trio goiano acabaram aparecendo pela internet não foram poucos os elogios lançados por gente como Diplo, boa parte da imprensa musical brasileira e (principalmente) do público, que se manteve ativo nas visualizações da página do Youtube da banda ou no download dos singles. O que poderia resultar em um projeto nada inédito – todas as canções da banda são versões para músicas de outros artistas internacionais – ou que soasse como uma mera brincadeira acabou atraindo olhares não apenas por sua comicidade, mas pelo belo agrupado de letras pegajosas, ritmos musicais fáceis e uma textura de elementos que prendem o ouvinte, mas que não resultam em algo efêmero ou propício ao descarte.

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Entretanto, mesmo que o divertido EP seja um condensado de faixas que vão além dos tradicionalismos radifônicos, nada do que a Banda Uó venha produzir deve ser encarado como uma salvação para a música, afinal, as cinco canções que compõem o álbum fluem dentro de um único objetivo: o de divertir o ouvinte, e só. Mesmo quem espera por algum tipo de referência “clássica” dentro do trabalho da banda irá encontrar apenas o que há de mais “tenebroso” na música brasileira dos anos 90 – “Nós somos da geração do É o Tchan, Araketu, Cheiro de Amor, a geração que cresceu escutando axé”, afirma a banda em sua apresentação na página do selo a que estão integrados -, o que torna o trabalho do trio ainda mais gratificante e divertido de ser ouvido.

Nas cinco faixas que compõem a estreia da tríade goiana estão desde composições já conhecidas do público, como Não Quero Saber, Shake de Amor e O Gosto Amargo do Perfume, além das inéditas Foi Você quem trouxe (um cover da dupla sertaneja Edson & Hudson e uma versão de I Wanna Know What Love Is do grupo norte-americano Foreigner) e Louca Paixão (versão de S&M da cantora Rihanna). Para a acertada produção do álbum, a banda contou com os padrinhos Rodrigo Gorky e Pedro D’Eyrot (que em breve devem trazer o novo disco do Bonde do Rolê), escolhas mais do que sábias para amarrar o variado número de teclados e algumas doses de guitarras que movimentam toda a condução do disco.

Despretensioso, mas ao mesmo tempo carregado de boas pretensões, o disco mantém seus esforços em cima de composições carregadas de um romantismo exagerado, o exato mesmo elemento que movimenta boa parte dos grandes trabalhos do melody ou eletrobregra paraense e que se concentra em torno de nomes como Calypso ou Banda Djavù.  Me Emoldurei De Presente Pra Te Ter não é um disco feito para entregar qualquer tipo de resposta ou levantar questionamentos sobre o futuro da música pop no Brasil. O álbum parece seguir por uma única e simples lógica: Não pense, apenas dance.

Me Emoldurei De Presente Pra Te Ter EP (2011, Avalanche Tropical)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Bonde do Rolê, Calypso e Banda Djavù
Ouça: O disco todo

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.