Resenha: “Me”, Empress Of

/ Por: Cleber Facchi 11/09/2015

Empress Of
Indie/Alternative/Dream Pop
http://empressof.me/

Se existe uma linha que separa o pop da cena alternativa, então Lorely Rodriguez está posicionada bem em cima dela. Com o lançamento de Me (2015, Terrible / XL), primeiro trabalho em estúdio da cantora e compositora norte-americana, vozes e arranjos se articulam de forma a prender a atenção do ouvinte, brincando com elementos típicos de grandes nomes da música comercial, porém, sem necessariamente abandonar a originalidade e boa dose de experimento que sustentam a obra do Empress Of desde as primeiras canções.

Como indicado logo no título do trabalho – em português, “Eu” -, o registro que entrega o som de Rodriguez ao grande público passeia pelo universo de conflitos, crônicas e confissões íntimas da própria cantora. Versos descomplicados que detalham o cotidiano de qualquer indivíduo, caso do relato caseiro de Need Myself, até composições que mergulham em pequenas poças de sofrimento (Everything Is You) e relacionamentos esmiuçados (How Do You Do It) pela artista.

A principal diferença em relação ao trabalho de outras “divas” da música pop? A completa crueza e honestidade expressa em cada verso articulado por Rodriguez. Basta um passeio pelos versos decididos que explodem no interior de Kitty Kat: “Não me faça carinho como seu eu fosse sua gata / Todas as noites você me tratar da mesma forma / Estou cuidando de mim mesma / Estou indo embora”. Surpreso com a “exposição” de Taylor Swif em Bad Blood, Blank Space e todo o acervo de 1989? Então espere até ouvir To Get By, Make Up e Water Water.

Acertos, fracassos, medos e paixões. Como o folhear das páginas de um diário de uma jovem adulta, Me passeia pela vida de Rodriguez de forma a estreitar a relação com o próprio ouvinte. Como não se identificar com os versos turbulentos de Water Water – “Eu odeio quando você fica bêbado e esquece da existir / Todas essas coisas simples me deixam nervosa por dentro” – e How Do You Do It – “Todos os meus sonhos desaparecem quando você sussurra meu nome / Quando seus olhos dizem aos meus que você quer a mesma coisa”. Um catálogo de faixas curtas, porém, ricas em significado.

Tamanha exposição da cantora imediatamente remete aos primeiros álbuns de artistas como Björk – Debut (1993) – e St. Vincent – Marry Me (2007), Actor (2009). De fato, a própria sonoridade explorada por Rodriguez ao longo do disco pesca diferentes elementos assinados pelas veteranas, marca explícita na colagem de temas eletrônicas e guitarras maquiadas pela distorção que preenchem a obra. Ainda assim, a principal fonte de inspiração de Empress Of parece vir da década de 1980. Batidas ecoadas, sintetizadores e vozes límpidas, elementos extraídos diretamente dos trabalhos de Stevie Nicks, Kate Bush e Cocteau Twin.

Livre da timidez que sufoca parte dos registro que tentam ultrapassar os limites da cena independente, Rodriguez faz da estreia do Empress Of uma verdadeira coleção de hits. How Do You Do It, Standard, Kitty Kat, Water Water, Everything Is You, Need Myself e To Get By. Poucos trabalhos recentes parecem tão fartos musicalmente quanto o presente álbum da cantora. Mesmo a recente versão para Hot N Cold da cantora Katy Perry, lançada dias antes ao lançamento oficial de Me, soa como um compromisso de Empress Of com o grande público, prova de que a primeira grande obra de Rodriguez não passa de um eficiente aquecimento.

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Me (2015, Terrible / XL)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: St. Vincent, Tei Shi e Dirty Projectors
Ouça: Kitty Kat, Standard e How Do You Do It

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.