Disco: “Me. I Am Mariah… The Elusive Chanteuse”, Mariah Carey

/ Por: Cleber Facchi 20/06/2014

Mariah Carey
R&B/Pop/Soul
http://www.mariahcarey.com/

Por: Cleber Facchi

A memória para no clipe de Through The Rain (2002), talvez meu primeiro contato com o trabalho de Mariah Carey – na época, o vídeo era um dos mais votados em um Top TVZ, no Multishow. Depois disso, apenas músicas avulsas e uma sessão pipoca (de filmes ruins) com os amigos para assistir Glitter, película estrelada pela cantora.

Não é preciso o comentário de um especialista no trabalho de Mariah Carey para alertar que comecei pela pior fase da artista. Charmbracelet, o disco que apresentou Through The Rain amarga uma nota 4.3 no Metacritic – 6.7 do público. Já a estreia da cantora nos cinemas sustenta uma nota 2.1 no IMDB, um baixíssimo 7% no Rotten Tomatos, e uma arrecadação fraca de US$ 5 milhões nas bilheterias norte-americanas. Vale lembrar que ele custou US$ 22 milhões. De fato, talvez tenha esbarrado na cantora em um péssimo momento, o que explica o completo desinteresse na busca por outros registros de Carey.

Contudo, ao tropeçar em #Beautiful, single lançado em maio de 2013, a cantora conseguiu despertar minha atenção. Mesmo que o apreço pelo trabalho do convidado Miguel seja o motivo para chegar até ela, ao ouvir a canção é difícil não ser seduzido. Produção coesa, versos grudentos e uma adaptação pop do “novo R&B” testado por Miguel em Kaleidoscope Dream (2012). Carey e seu time de produtores, letristas e músicos criaram o cenário perfeito, simples, ainda que detalhista, quando comparado com a obra de outras cantoras recentes do mesmo gênero. Nada mais satisfatório do que perceber o mesmo cuidado em Me. I Am Mariah… The Elusive Chanteuse, 14º e mais recente lançamento de estúdio da cantora.

Lançado em boa hora, o disco segue a trilha do Pop/R&B iniciado no álbum 4 (2011) de Beyoncé, ampliado por Frank Ocean em Channel, Orange (2012) e reforçado por cantoras como Cassie (RockaByeBaby), Kelly Rowland (Talk A Good Game) e Ciara no último ano. Em busca de um resultado particular, Carey transforma o registro um passeio por diferentes tonalidades da música negra, utilizando das batidas, rimas e elementos do Hip-Hop para movimentar o pop naturalmente doce que ela sustenta.

Parte substancial dessa relação com o Hip-Hop vem da passagem da cantora para o selo Def Jam, focado no gênero. Logo, nomes como Nas (Dedicated) e Wale (You Don’t Know What To Do) marcam assertiva presença pela obra, contrastando os versos melancólicos/apaixonados do grande parte do disco. Claro que isso não é nenhuma novidade dentro da discografia de Carey. Basta reservar alguns minutos para ouvir Butterfly (1997) e perceber essa natural proposta. A diferença em relação aos outros discos, principalmente The Emancipation of Mimi (2005), que compartilha os mesmos elementos, está na forma como a sonoridade do novo disco escapa do tradicional, experimenta (musicalmente) e estimula a voz da cantora.

Assim como Beyoncé no último disco, os produtores e Carey resolveram apostar na formação de arranjos instáveis, assumindo bases densas nos momentos mais tristes (One More Try, Faded) e investindo em ruídos capazes de perverter o pop tradicional no lado mais “ensolarado” do disco. Por falar em Beyoncé, a relação de Me. I Am Mariah… com o último disco da cantora é reforçada de forma perceptível. Diversos conceitos de produção, típicos de Jordy “BOOTS” Asher, surgem em faixas como You’re Mine (Eternal) e Supernatural. A diferença está no natural apelo pop e nas adaptações de Mariah (como em #Beautiful), trazendo leveza a cada nota do registro.

Longe de ser encarado como um disco de ruptura – vide os exageros em Make It Look Good -, Me. I Am Mariah… entrega (com acerto) todos os elementos de um registro comercial. Da inaugural Cry. aos últimos momentos do disco, borbulham pelo trabalho hits essencialmente acessíveis, capazes de agradar tanto o público hipster/alternativo (#Beautiful), como os velhos seguidores da cantora (Camouflage). Nada além de uma curva leve, porém significativa dentro das pequenas fórmulas da música pop.

 

Me. I Am Mariah… The Elusive Chanteuse (2014, Def Jam)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Kelly Rowland, Beyoncé e Ciara
Ouça: #Beautiful, Supernatural e Dedicated

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.