Disco: “Me Moan”, Daughn Gibson

/ Por: Cleber Facchi 27/06/2013

Daughn Gibson
Electronic/Alt. Country/Indie
http://daughngibson.com/

Por: Cleber Facchi

Daughn Gibson

Cada verso, acorde ou ruído sintético que emana de All Hell (2012) é uma representação específica das próprias experiências de Daughn Gibson. Um universo hermético, onde melancolias eletrônicas se derramam em meio a reverberações da música country, fazendo de cada nova faixa um mergulho ainda mais profundo nos inventos pessoais do compositor. Sem fugir do mesmo propósito e lidando com uma sonoridade cada vez mais abrangente, Gibson está de volta, transformando Me Moan (2013, Sub Pop) em um trabalho que se permite compartilhar experiências com o ouvinte, mas sem fugir em nenhum instante do caráter pessoal que envolve a obra do artista.

De natureza compacta, porém, de esforço amplo, o novo álbum é uma expansão das maquinações que parecem funcionar apenas dentro do cenário proposto pelo músico. A julgar pela limpidez dos sons e a maneira como a voz grave de Gibson escorre suave pelo novo álbum, fica a sensação de que o presente trabalho é a representação final de um rabisco. Uma obra polida, tomada por nuances sutis e detalhes que o músico parecia ocultar em meio ao jogo de sonorizações caseiras firmadas há menos de um ano. Daughn parece lentamente fugir do cenário artesanal que propunha, e o resultado que ele apresenta é no mínimo comovente.

Surgindo como um provável encontro entre Depeche Mode com Bill Callaghan (ou seria Cass McCombs?), Gibson prossegue mediando vocais em barítono com complementos musicais de natureza eletrônica. Acordes simples de violão que se permitem acrescer de batidas, sintetizadores e toda uma carga de construções sonoras não convencionais, porém, organizadas dentro da proposta do artista. Quem espera por uma continuação do que foi acertado no último álbum encontrará nas 11 inéditas canções um crescimento natural, não apenas na manifestação dos instrumentos, mas na forma como o músico busca traduzir os próprios sentimentos.

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Escolhida para a abertura do disco, The Sound Of Law é uma representação segura de tudo o que circula pelo álbum. Recheada por guitarras, samples e uma bateria crescente, a faixa cria um verdadeiro cenário musical, permitindo que a voz de Gibson passeie de forma segura entre os arranjos. Até um pequeno coro de vozes cresce ao fundo, potencializando a melancolia em torno da obra. Todavia, é a partir de Mad Ocean que o disco realmente começa. Expandindo as colagens eletrônicas que sustentam All Hell, porém, mergulhada em um invento acessível, a canção abre de fato as portas para o álbum, que ao ampliar elementos específicos – solos, harmonias e loops – foge de possíveis redundâncias.

Embora o rompimento com a estética minimalista do primeiro álbum distancie o propósito macambúzio de Gibson, à medida em que o trabalho se desenvolve o cantor reforça o quanto o sofrimento é uma constante. São tentativas de superação (Franco), buscas fracassadas de um novo amor (The Right Signs) e uma variedade de provocações constantes que lentamente submergem o ouvinte no mais puro sofrimento. Claro que faltam músicas aos moldes de Tiffany Lou e In the Beginning, entretanto, a manifestação crescente dos instrumentos supre qualquer lacuna, habilitando o músico a trilhar rumos talvez inimagináveis há um ano, o que se revela com beleza no Country melódico de Kissin On The Blacktop.

Casamento perfeito entre vozes, versos e sons, Me Moan traz em músicas como All My Days Off e Into The Sea uma sensação constante de que a obra de Gibson se mantém em plena descoberta e ascensão. De esforço aproximado entre os elementos, o disco substitui o esforço heterogêneo do último álbum para desenvolver um objeto de plena comunhão lírica e instrumental, afinal, a dor ainda é o principal componente no trabalho do compositor, que usa de um catálogo sufocante de percepções e sentimentos para interligar todos os componentes pela obra. Daughn continua cantando sobre si próprio, mas aos poucos sabe como transformar individualidades sorumbáticas em emanações nossas.

Me Moan

Me Moan (2013, Sub Pop)

Nota: 8.3
Para quem gosta de: Cass McCombs, James Blake e Bill Callaghan
Ouça: All My Days Off, Into The Sea e Mad Ocean

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.