Disco: “Mechanical Bull”, Kings Of Leon

/ Por: Cleber Facchi 20/09/2013

Kings Of Leon
Rock/Alternative/Garage
http://supersoaker.kingsofleon.com/

Por: Cleber Facchi

Kings Of Leon

Um piscar de olhos e voltamos para 2003, quando Youth & Young Manhood foi apresentado ao público. Uma faixa para frente, e Because of the Times (2007) está de volta, em uma versão mais simples, resumida. Guitarras desaceleram para que Aha Shake Heartbreak (2004) seja novamente replicado. Mais algumas músicas, e dessa vez Only by the Night (2008) surge em nossos ouvidos, meloso e audível por breves instantes. Não, não descrevo nenhum box especial que concentre a discografia do Kings Of Leon, mas sim Mechanical Bull (2013, RCA), sexto registro em estúdio do quarteto de Nashville, Tennessee, ou, se você preferir, a primeira coletânea (não) intencional de sobras de estúdio apresentada pela banda.

Por quê você ainda ouve Kings Of Leon? Nostalgia? Realmente acredita que a banda seja inovadora? Ou seria a esperança de um dia ver o grupo lançando um álbum tão bom quanto os primeiros? Se a primeira opção é o que te motiva a chegar ao presente álbum, então saiba que Mechanical Bull talvez supra essa “necessidade”, afinal, trata-se de um catálogo imenso de faixas, temas e sons reaproveitados. Um resumo quase confesso de toda a produção prévia do grupo e que nada acrescenta em novidade. Se a segunda opção é a que te faz chegar até aqui, você provavelmente deve ter menos de 18 anos ou descobriu a banda recentemente, logo, cabe apenas um simples “Ouça mais música” como resposta. Mas se a terceira opção é a que leva o ouvinte a chegar até Mechanical Bull, então sinto lhe dizer: isso não vai acontecer.

E não vai por razões muito simples, o Kings Of Leon sempre foi uma banda de segundo escalão na avalanche de grupos que ocuparam o “Indie Rock” dos anos 2000. Uma cópia subnutrida do The Strokes, que vestiu camisa xadrez e chapéu de Cowboy para vender uma falsa ideia de inovação que muita gente comprou – inclusive este que vos escreve. Olhe para trás, para a discografia da banda, nada do que eles produziram até hoje representa verdadeiro ineditismo, apenas ideias falsamente reaproveitadas e pintadas com um verniz para disfarçar as limitações do grupo. Sinto dizer querido leitor, mas o KOL, disfarçado de genialidade, seria na literatura aquele tipo de obra que chega logo em sequência a um grande sucesso literário, algo que você compra apenas para suprir uma carência.

Gosto de Mechanical Bull. Primeiro porque ele revela ao público o quanto a banda errou em Come Around Sundown (2010), um erro traduzido em canções monotemáticas e que praticamente obrigaram ao quarteto voltar aos primeiros discos em busca de alguma forma de sustento. Outro ponto “positivo” está no fato do novo álbum ser a melhor representação do quão fraudulenta é a proposta que há mais de uma década movimenta o trabalho da família Followill. Deixe o fanatismo de lado e comece a observar o quanto cada faixa do novo disco busca emular o mesmo sentimento dos álbuns anteriores. Supersoaker, Don’t Matter e Wait for Me, tudo isso você já ouviu antes. Não falo nem da cópia de outros artistas – vide o efeito U2 pós-Because of the Times -, mas da incapacidade do grupo em seguir adiante dentro da própria estética.

Você parou para pensar o quanto todas as outras bandas que cercam o Kings of Leon foram em busca de mudança, enquanto o grupo de Nashville estacionou dentro da própria obra? The Strokes e Yeah Yeah Yeahs, entre tropeços e acertos, buscaram pelo toque neon da década de 1980. Franz Ferdinand abraçou o Krautrock e os sintetizadores. O Arctic Monkeys foi em busca do Soul e do R&B. O Bloc Party resolveu flertar com a eletrônica e até o Coldplay, veja bem, a banda de Chris Martin abandonou o manhoso pop-coxinha de começo de carreira em busca de novos ares em Viva la Vida or Death and All His Friends. Caleb Followill e seus parceiros só sabem fazer isso, nada além do velho “Garage Country” e das letras sobre indivíduos deslocados, cheirando a álcool e que buscam por algum lugar/alguém. Sim, as melodias que passam pelo disco são ótimas, mas se isso fosse sinônimo de acerto, ouvir apenas músicas de comerciais ou jingles radiofônicos seria o suficiente para nossa sobrevivência cultural.

Sabe aquele velho amigo da adolescência, hoje “ex-Emo”, mas que você critica por ouvir os mesmos grupos de 2005? “Deixa isso no passado”, “que vergonha, ouça coisas novas”, alerta ao estagnado colega. Sinto dizer, mas se você gostou de Mechanical Bull e insiste na “originalidade” da banda, saiba que você está no mesmo nível que ele, talvez em um estágio até pior. Ouvir Kings of Leon era divertido quando você tinha 15 anos e talvez tivesse um catálogo limitado de músicas para aproveitar. Hoje, comprar, baixar ou simplesmente ouvir novos discos é simples, ao alcance de um clique ou talvez um captcha. Porém, repetir os mesmo erro, se afundando em um trabalho que assume descaradamente a própria incapacidade, aí já é burrice.

 

Kings Of Leon

Mechanical Bull (2013, RCA)

Nota: 2.0
Para quem gosta de: The Black Keys, Mumford & Sons e Band Of Horses
Ouça: Don’t Matter e Comeback Story

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.