Disco: “Melbourne”, Jackson Scott

/ Por: Cleber Facchi 29/07/2013

Jackson Scott
Indie/Lo-Fi/Bedroom Pop
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Por: Cleber Facchi

Jackson Scott

A julgar pela crueza dos sons impostos em That Awful Sound e demais composições previamente apresentadas, seria de imaginar que o primeiro registro em estúdio de Jackson Scott viesse oculto pelos ruídos. Profundo interessado na composição Lo-Fi dos sons, o jovem músico estadunidense foge à regra no que dita os rumos de Melbourne (2013, Fat Possum). Acomodado na fluência atmosférica do Bedroom pop, o trabalho encontra na mente de Scott um abrigo e também apresentação de um ambiente próprio, exercício evidente na composição dos sons e versos orientados em um apelo singular.

Capaz de assumir um capítulo independente nas transformações que ocupam o Lo-Fi norte-americano, o jovem músico faz do debut não apenas um acomodado de acordes sujos e emanações sonoras de fluxo artesanal, mas um princípio de novidade que se renova em cada faixa. Rodeado por aclamações sonoras capazes de esbarrar na psicodelia dos anos 1960 e toques do folk caseiro construído na década de 1970, Scott desenvolve ao longo da obra um cuidadoso orquestral de ruídos e imensas paisagens sonoras. Um princípio para a tonalidade particular das composições, seguindo em um sentido de timidez e descoberta até o fecho do disco.

Cantando sobre amores não resolvidos, idolatrando a saudade e um existencialismo típico de alguém de 20 anos, o disco se materializa naturalmente como uma extensão do universo particular de Scott. À exemplo do que Elliott Smith, Conor Oberst e outros compositores alcançaram na década de 1990, o músico reforça na particularidade um efeito de aproximação com o público. Entretanto, longe do caráter compacto dos sons, que poderiam torná-lo próximo de uma sequência de outros artistas, há na construção de um verdadeiro delírio instrumental a própria identidade do artista, fragmentado em uma centena de rumos e experimentos ainda mais amplos.

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Próximo da frente de músicos interessados em reviver os sons alcançados nos anos 1990, Scott brinca com o passado em um sentido curioso. São composições capazes de igualar a desconstrução sonora imposta pelo Built To Spill em começo de carreira (Never Ever), faixas que repetem a mesma dose de distorções acumuladas no período (Together Forever) ou mesmo inventos que remetem aos planos nonsenses do Modest Mouse (Doctor Mad). Uma interpretação que mesmo tingida pela nostalgia, está longe de se perder em redundâncias ou reviver fórmulas há tempos consolidadas.

Levando em conta o forte teor existencialista da obra, bem como a comunicação de Scott com temas como a loucura, o desespero e o medo de crescer, há no registro uma forte aproximação com Wondrous Bughouse, segundo e mais recente disco de Youth Lagoon. Juntos, os trabalhos identificam uma nova tendência lírica (e também instrumental) em solo norte-americano, em que a dor, cruamente exposta, se converte em uma matéria versátil. O efeito – compartilhado por outros como Baths e Waxahacthee – dita cada esforço do trabalho, que encara a vida adulta como uma etapa de plena angústia, desilusões e certa dose de egoísmo – reforçada por Scott pelo uso de drogas.

Amargo e estranhamente encantador – fruto das melodias bem aproveitadas do músico -, Melbourne cresce como uma imensa viagem lisérgica-instrumental, como se tudo não passasse de um delírio de seu criador. À medida em que o disco se desenvolve, Scott estabelece limites e sustentos instrumentais delineados em uma complexidade individual, prova de que a relação com a década de 1990 é apenas um princípio no jogo inexato de sons que o músico desenvolve. Sofrer é uma benção e ao mesmo tempo uma maldição para Scott Jackson.

 

Melbourne

Melbourne (2013, Fat Possum)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Kurt Vile, Youth Lagoon e Built To Spill
Ouça: That Awful Sound, Sandy e Never Ever

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.