Disco: “Memórias Luso/Africanas”, Gui Amabis

/ Por: Cleber Facchi 16/06/2011

Gui Amabis
Brazilian/Alternative/Ambient
http://www.guiamabis.com/

Por: Cleber Facchi

Sabe aquele tipo de fotografia antiga ou pinturas históricas em que atrás dos grandes líderes ou revolucionários retratados sempre aparece algum rosto desconhecido, mas que lutou pelas mesmas causas e tem a real mesma importância que os personagens de destaque? Pois esta é a figura do produtor musical Gui Amabis. Em Memórias Luso/Africanas (2011), o músico sai de trás de todos os projetos que ajudou a construir, ou de outros nomes que “levou ao poder” para brilhar e receber todos os holofotes que são dele por direito. Carregado de referências nostálgicas vindas de um passado quase recente, o músico encontra em recordações familiares e biográficas grande parte do que compreende sua pequena obra.

Ao longo dos últimos dez anos, embora Amabis estivesse oculto para o grande público, suas produções foram tão ativas (se não mais) quanto a de qualquer outro músico brasileiro. A boa música do paulistano de 34 anos o levou a ampliar seus projetos para além do solo nacional, desenvolvendo uma série de trilhas sonoras para filmes (O Senhor das Armas, Bruna Surfistinha) ou séries televisivas (Cidade dos Homens, Filhos do Carnaval) que percorrem um bom território por toda América. Além, é claro, dos vários projetos ligados à produção de discos, como o clássico contemporâneo Vagarosa (2009), da esposa Céu.

O incentivo dos amigos e o acumulo de um material relevante foram os principais motivos que levaram o músico a finalmente expor seu primeiro álbum em carreira solo. Construído entre 2007 e 2010, durante os intervalos de suas trilhas cinematográficas, produções de discos e momentos de descanso, o “debut” de Gui Amabis propõem ao ouvinte a entrada em um universo de texturas antigas, propositadamente envelhecidas, submergindo a audição do espectador em um mar de sons empoeirados e calculados de maneira climática.

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Se os anos desenvolvendo os mais variados projetos musicais deram ao produtor a possibilidade de desbravar um registro de forma solitária, tocando individualmente os instrumentos que conduzem o álbum, a mesma experiência ensinou à Amabis a arte de se cercar de músicos tão talentosos quanto ele. O fecho de instrumentistas que cercam a obra do paulistano vem formado pelos baixistas Dengue (Nação Zumbi) e Marcelo Cabral, Régis Damasceno (Cidadão Instigado) manifestando sua guitarra, o saxofone de Thiago França, Samuel Fraga e Curumin se revezando na bateria, além de Maurício Alves na percussão. Entretanto é no coro de vocais que dão vida aos poemas de Amabis que o disco se engrandece.

Por mais que Memórias Luso/Africanas seja considerado como um disco solo, são os amigos do produtor que dão voz às suas canções, sobrando ao paulistano apenas a biográfica faixa de abertura, Dois Inimigos. Da segunda música em diante são as vozes de Tulipa Ruiz, Tiganá Santana, Criolo, Lucas Santtana e da esposa Céu, que tomam força, todos costurando com seus vocais a série de faixas inspiradas em aspectos históricos da família de Amabis, homenageando desde a falecida avó que veio de Portugal para o Brasil no final da Segunda Guerra, até a filha Rosa na faixa Doce Demora.

Talvez pelos anos na construção de trilhas sonoras, o álbum parece todo amarrado por uma mesma sensação, denotando intensa similaridade, poética e instrumental, em todas as canções do disco. A suavidade expressa através das faixas cruza referências vindas tanto das terras lusitanas, quanto de solo brasileiro, como do território africano, resultando em um hibridismo intercontinental brando, melancólico e que reaviva todas as memórias ressaltadas por Amabis, vindas todas das histórias de seus antepassados.

Memórias Luso/Africanas (2011)

Nota: 7.5
Para quem gosta de: Céu, Criolo e Fabio Góes
Ouça: Doce Demora

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.