Críticas

Feist

: "Metals"

Ano: 2011

Selo: Cherrytree / Interscope

Gênero: Indie, Alternativo

Para quem gosta de: PJ Harvey, Cat Power

Ouça: Graveyard, A Commotion

8.5
8.5

Disco: “Metals”, Feist

Ano: 2011

Selo: Cherrytree / Interscope

Gênero: Indie, Alternativo

Para quem gosta de: PJ Harvey, Cat Power

Ouça: Graveyard, A Commotion

/ Por: Cleber Facchi 27/09/2011

 

Nada é mais interessante no mundo da música do que artistas capazes de perverterem suas próprias lógicas e limites musicais. Indivíduos que contra quaisquer expectativas abandonam o caminho fácil e básico – a provável escolha da maioria – em busca de produzir algo que se evidencie de maneira distante de seus próprios propósitos musicais. No sempre saturado espaço destinado para cantoras e compositoras, talvez a canadense Leslie Feist seja a que melhor represente esse aspecto de constantes mudanças e novos suportes musicais, afinal, dona de quatro registros em estúdio e uma carreira que teve início em idos dos anos 90, a mutabilidade talvez seja a principal marca da musicista.

Contra todas as expectativas de quem esperava por uma exata continuação do elogiado The Reminder, a cantora, que já foi integrante do coletivo Broken Social Scene – provavelmente a mais criativa banda canadense depois do Arcade Fire -, sai de seu confortável ninho melódico e repleto de garantias musicais em prol de um disco arriscado e surpreendentemente genial. Esqueça os vocais harmônicos que quase pintavam a trilha sonora de algum clássico da Disney, esqueça a colorida e radiofônica One Two Three Four, esqueça principalmente a Leslie Feist que você pensava conhecer. Para Metals, quarto disco da norte-americana, as opções e estratégias buscadas são completamente outras.

Por mais que as bases instrumentais ainda permanecem tecnicamente as mesmas dos anteriores discos, para o recente lançamento a ambientação acústica, os pianos soturnos, pequenas transições pelo jazz e a sempre amargurada voz de Feist ganham um novo encaminhamento. As guitarras crescem visivelmente por todo o álbum, proporcionando ao trabalho um tom conciso, seco, fazendo valer o título forte que ostenta. Talvez a ampla inclusão das guitarras, bem como o uso de uma musicalidade mais esparsa possibilitem que o disco flutue pelos campos do Alt. Country, com a cantora se afastando dos ares bucólicos que a acompanhavam desde do álbum Let It Die de 2004 e revelando um projeto mais sólido, urbano e ainda mais complexo.

Não há como negar a forte similaridade de Metals com os últimos registros de inéditas da vizinha Cat Power, afinal, muito do que ecoa no trabalho da canadense parece intimamente relacionado aos dolorosos You Are Free de 2003 e The Greatest de 2006. A atmosfera sombria, os lamentos macambúzios e a voz forte da cantora escorrendo feito uma substância densa por todo o trabalho, estão muito próximos do que Chan Marshall tem desenvolvido. Entretanto, Feist se esquiva de um trabalho copiado ao se cercar de pequenos detalhes, seja a percussão quase imperceptível de Get It Wrong, Get It Right ou a instrumentação em looping na excêntrica A Commotion, por todos os lados há sempre um elemento que soa novo e intrigante.

Aos que possam reclamar da falta de singles, Feist preparou um pequeno compendio de canções mais fáceis e projetadas aos ouvidos menos “preparados”. Seja a condução crescente (e melancólica) de Graveyard, a adocicada e instrumentalmente suave Bittersweet Melodies (que muito se relaciona com o segundo disco da cantora) ou mesmo a sensual How Come You Never Go There (com seu clima todo jazzístico), o que não faltam são músicas capazes de se sustentar em um amontoado de referências cativantes e despojadas. Contudo, quem espera por faixas calcadas em uma sonoridade agressivamente pop e colorida, então os discos anteriores são sua única opção.

Se o praticamente desconhecido primeiro disco, Monarch, surge como um grande rabisco, Let It Die reforça sua exposição indie e The Reminder seu lado pop, então Metals entrega o lado “rock” e “agressivo” de Feist. Não que o ouvinte venha a encontrar faixas entrecortadas por rajadas instrumentais abruptas ou letras calcadas em um lirismo espesso e duro, entretanto, o álbum quebra a linguagem tecnicamente similar que vinha acompanhando a carreira da musicista desde seus primeiros lançamentos. Dotado de uma ambientação hermética, o disco ultrapassa a maturidade alcançada pela canadense em seu último registro, se revelando como o trabalho mais forte e melhor desenvolvido da cantora até o presente momento.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.