Disco: “Metz”, Metz

/ Por: Cleber Facchi 15/10/2012

METZ
Rock/Indie/Alternative Rock
http://www.metzztem.com/

Por: Cleber Facchi

Existe um contraste gigantesco entre o lançamento de Attack On Memory, segundo álbum do Cloud Nothings e a recente estreia do trio canadense Metz. Enquanto Dylan Baldi representa a materialização da juventude, observando a música da década de 1990 de forma atenta e tramando um composto ruidoso que se apega ao pop de forma descompromissada, Alex Edkins, Hayden Menzies e Chris Slorach, todos na faixa dos 30 anos, tratam da mesma proposta de outra maneira. Distantes da melodia suja de bandas como Nirvana ou Dinosaur Jr e se apoiando em cima de um composto instrumental que por vezes raspa o Heavy Metal, o grupo firma a existência de um resultado sóbrio, adulto e que observa a mesma geração que tanto agrada ao jovem Baldi, porém, por outro ponto de vista.

Incorporando um nível de caos e distorção que nem mesmo o veterano J Mascis parece ser capaz de alcançar no ápice de fase You’re Living All Over Me, a tríade vai de encontro ao que serviu de base para a construção do “Lado B” do rock alternativo norte-americano. Surgem assim inevitáveis associações ao trabalho de bandas como The Jesus Lizard (os acertos com o pós-hardcore do álbum Goat estão por todos os lados), Mudhoney, Nirvana (pré-Nevermind) e até Pixies (dos versos berrados às linhas de baixo, tudo se aproxima do clássico Doolittle em uma extensão menos comercial), resultando em uma massa de ruídos claustrofóbicos que guiam o trabalho dos canadenses.

Longe de assumir a mesma exposição nostálgica que movimenta o trabalho de bandas como The Pains of Being Pure At Heart, Yuck, Wild Nothings e tantos outros apaixonados pela sonoridade cravada há duas décadas, ao entregar o primeiro disco o trio usa de tais referências como bases singelas para o que se expande de forma nítida no decorrer da obra. Dentro do mesmo universo de desconstrução que marca a obra de bandas como Male Bonding e The Men, o Metz assume tais experiências dentro de um jogo próprio de exposições instáveis, edificando a construção de um disco rápido na maneira como as guitarras, vozes e batidas tomam formas, mas imenso na forma como velhas referências se desdobram em novos percursos e encaminhamentos agressivos.

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Assumidamente distantes de qualquer encaminhamento que puxe a banda aos conceitos da música Lo-Fi, o disco e as 11 faixas arquitetadas no interior dele mantém até o último instante a limpidez do áudio, feito que mais uma vez distancia o Metz das demais bandas que circulam pelo recente cenário norte-americano. A estratégia (ou simples escolha) possibilita que mesmo em momentos de pura distorção, como na faixa Get Off e até em alguns lances experimentais, estrutura presente na música –))–, seja possível captar cada mínima nuance do registro, que entre paredes imensas de ruídos, mantém constante a capacidade de presentear o ouvinte com cada nota, acorde ou particularidade vocal. A qualidade sonora do disco é tamanha que mesmo os sons intencionalmente disformes da curtinha Nausea passam despercebidos, prevalecendo a qualidade e a simetria do restante das canções.

De maneira bastante clara, Metz (o disco) é um trabalho pensado de forma quase integral a valorizar a sonoridade e não as líricas. Em grande parte do disco é perceptível um afastamento natural das vozes, feito bem significativo na segunda metade do álbum, quando em faixas como Wet Blanket e Wasted os vocais são simplesmente silenciados de forma abrupta, abrindo espaço para que as guitarras volumosas tomem conta da obra. O exercício – bem delineado pela frente de produtores composta por Graham Walsh (Holy Fuck), Alexandre Bonenfant (que trabalhou com Crystal Castles) e Leon Taheny – mantém a execução do disco atrativa até o último instante, afinal, difícil não se entregar aos sons grandiosos que se destilam em músicas aos moldes de Sad Pricks, Rats e todo o restante de criações pelo disco.

Meio termo entre o toque radiofônico do Japandroids (no álbum Celebration Rock) e a esquizofrenia do The Men (no decorrer do assombroso Open Your Heart), a banda estimula durante todo o registro a construção de um trabalho que afasta e aproxima o ouvinte na mesma medida. Entre riffs desconcertantes, entalhes instrumentais nunca óbvios e percursos que se alteram a todo o momento, o álbum se encaminha para um resultado próximo dos trabalhos que tanto o influenciam, resultando em um disco que talvez seja melhor compreendido e de fato assimilado daqui a 15 ou 20 anos. Por enquanto, a estreia do Metz se mantém coesa, assumindo sem dificuldades o título de melhor disco da década de 1990 feito nos dias de hoje.

METZ (2012, Sub Pop)

Nota: 8.2
Para quem gosta de: The Men, Cloud Nothings e Japandroids
Ouça: Get Off e Rats

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.