Disco: “Mind Bokeh”, Bibio

/ Por: Cleber Facchi 27/02/2011

Bibio
British/Electronic/Experimental
http://www.myspace.com/mrbibio

Por: Cleber Facchi

Stephen Wilkinson ou Bibio, como prefere ser conhecido é um desses caras que sabem trabalhar a música eletrônica e seus contornos ambientais como ninguém. Depois da boa recepção do álbum Ambivalence Avenue (2009) o produtor volta com mais um ótimo disco de faixas entrecortadas por colagens de sons, batidas lo-fi e uma mescla de instrumentação acústica e eletrônica. IDM e música folk se encontram naturalmente nesse sexto álbum da carreira do britânico.

Após o lançamento de três álbuns quase que de maneira simultânea em 2009 – Vignetting the Compost, Ambivalence Avenue e The Apple and the Tooth – Wilkinson retorna com Mind Bokeh (2011), um compendio de faixas aflorando detalhes caprichados e dotados da mesma precisão dos lançamentos anteriores. Nas doze músicas que compõem o novo álbum Bibio nos conduz em meio a um passeio cuidadosamente planejado em que infinitos samplers e programações eletrônicas configuram um cenário excêntrico, minimalista e divertido.

Diferente de muitos artistas e produtores que embrenham pelos caminhos da folktrônica, como o The Books (principalmente observando os últimos discos), Wilkinson consegue se desvincular da produção de faixas enfadonhas. Assim como os trabalhos de Kieran Hebden do Four Tet, a discografia do Bibio vem marcada pelo fato do músico não se fixar em um único seguimento para dar vazão ao seu som. Basta observar a faixa Pretentious. O que tem início com alguns acordes desordenados de uma harpa, logo se transforma com uma levada de reggae, entram os vocais, a batida se altera a cada instante, pequenas inserções de guitarras ao fundo, solos de teclados, até por fim um saxofone melancólico assumir a canção.

Mesmo nas faixas mais curtas do disco como Feminine Eye o produtor despeja um número grandioso de elementos, formas e sons diferenciados para dar origem à composição. Apesar da abrangência de fontes que vão permeando cada pequeno momento dentro do álbum, em nenhum momento as faixas surgem como um grande “Frankenstein musical”. Basta uma audição de Artists’ Valley para perceber como os elementos vão se encaixando de maneira precisa, por mais estranhos que sejam. Lentamente o mais ruidoso dos sons vai se acentuando dentro da grande massa sonora criada por Wilkinson.

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Quem evitar o álbum por achar que o mesmo se trata de apenas mais um produto chillout no estilo “música de elevador” vai cometer um grande erro. Embora venha permeado por uma gama de elementos acústicos e suavizados, há também a inclusão de faixas dotadas de um ritmo mais dançante e nada comportado. Light Sleep, por exemplo, se mostra como uma espécie de jazz eletrônico explosivo, que logo se transforma com a inclusão de instrumentos funkeados, fazendo da faixa uma música perfeita para as pistas.

Da mesma forma que em Ambivalence Avenue, Bibio opta pela constante criação de sons mais comerciais, uma oposição ao formato compactado e mais cerebral dos primeiros discos. Faixas como Take Off Your Shirt mostram o lado mais popular do produtor britânico, além de talvez ser a criação mais estranha já feita por ele ao longo de sua carreira. As batidas eletrônicas dão lugar a um electrorock pulsante e que deve agradar em cheio aos que ainda não estão habituados às inconstâncias de Wilkinson.

Dando vazão a um som muito mais aberto Bibio faz de canções experimentais como K Is For Kelson um dos momentos mais virtuosos do disco. Valendo-se do uso de uma instrumentação ensolarada, daquelas típicas de aberturas de desenhos animados, a faixa vem repleta de sons variados, que vão desde uma percussão muito bem construída até a inclusão de um berimbau. Se o produtor constantemente fornece suas composições para a sonorização de comerciais publicitários, essa sem duvida deve ser uma das próximas.

Pode-se dizer que todo esse favorecimento para a criação de um som mais acessível, feito mais do que óbvio dentro desse novo disco, não é algo momentâneo. Ao longo dos quase dez anos de carreira como produtor, Stephen Wilkinson foi se aprofundando cada vez mais no desenvolvimento de canções mais comerciais e menos voltadas aos nichos da folktrônica/música ambiente. Se ao estrear com o álbum Fi em 2005 Bibio se mostrava um criador compenetrado e que esbarrava constantemente em comparações com o Boards of Canada, pode-se dizer que hoje ele conseguiu criar um tipo de som próprio, e convenhamos que ele está muito bem assim.

Mind Bokeh (2011)

Nota: 7.9
Para quem gosta de: Four Tet, Flying Lotus e Caribou
Ouça: K Is For Kelson

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.