Disco: “Minha Tribo é o Mundo”, Flávio Renegado

/ Por: Cleber Facchi 17/11/2011

Flávio Renegado
Brazilian/Hip-Hop/Rap
http://minhatribo.flaviorenegado.com.br/

Por: Cleber Facchi

 

Provavelmente desde a alvorada do rap nacional em meados dos anos 90, que o hip-hop brasileiro não vivenciava um cenário tão vasto e produtivo quanto o atual. Entre registros que desafiam os limites do gênero – como Nó na Orelha, do Criolo -, trabalhos que se voltam para o grande público – Doozicabraba e a Revolução Silenciosa EP – e ainda álbuns que honram com vivacidade as origens do estilo – como Não Há Lugar Melhor No Mundo Que Nosso Lugar do Projota -, o que não faltam são registros que atentam todas as exigências do público. Uma produção musical tão vasta e competente que em nada deixa a desejar quando comparada ao que é produzido lá fora.

Fruto óbvio dessa mesma revolução nada silenciosa que vem ocupando todo o cenário nacional, o mineiro de Belo Horizonte Flávio Renegado proporciona com sua recente obra um registro que se apoia em novas referências musicais, produzindo um trabalho visivelmente comercial, mas distante de uma tonalidade quebradiça e insustentável. Dançante, convidativo, porém nunca banal, Minha Tribo é o Mundo (2011, Independente) apresenta o trabalho de um artista maduro, capaz de honrar com as exigências de um público essencialmente seleto e específico, como quem busca pelo disparo de versos integralmente radiofônicos.

Vindo do bem sucedido Do Oiapoque a Nova York, álbum de 2008 que garantiu ao mineiro a láurea de artista revelação no Prêmio Hutuz daquele mesmo ano, o artista apresenta agora a mesma mistura os mesmos cruzamentos líricos e sonoros de outrora, entretanto, explorando com afinco e vivacidade todas as formas e sons enaltecidos em seu trabalho. Entre transições constantes pelas vias do samba, um claro apego ao reggae e até pequenos flertes com um rap mais sintético e quase dançante, Renegado abandona por completo a crueza estrutural de outrora para cair de vez em um som muito mais límpido, bem produzido e proveitosamente maduro.

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Qual é a sua tribo? Esta parece ser a pergunta do rapper durante todo o desenvolvimento do trabalho, que para além de ressaltar as problemáticas que cercam a vida e a obra de Renegado (e seus conterrâneos próximos), serve para reforçar a boa fase do artista, bem como seus louros e suas glórias. Utilizando do cruzamento entre diferentes preferências musicas como um diferencial para o registro – o reggae predomina por toda a recente obra -, o rapper despeja uma seleção de 11 faixas, composições capazes de amarrar uma sucessão de versos bem posicionados que findam por reproduzir faixas como a conselheira Homens Maus ou a romântica Qual o Nome Dela?

Repassando o constante aspecto de coletivo – em grande parte das faixas o rapper surge acompanhado nos vocais – e se anunciando como uma roda de samba versado em alguns momentos, o álbum abre caminho para que Renegado transite pelas diferentes tribos que acaba relatando pelo trabalho, proporcionando um registro convidativo e inegavelmente fácil. Dos beats acalentados da homônima música de abertura, passando pelos sintetizadores de Zica ou a grandiosidade da faixa Suave (com cara de rap gringo), todo o álbum reverbera uma polidez marcada, com o rapper proporcionando um trabalho digno de se relacionar com diferentes públicos, ou tribos.

Com uma produção marcada pela limpidez de suas batidas e das bases instrumentais que acompanham os versos de Renegado – fruto da presença do produtor Plínio Profeta -, Minha Tribo é o Mundo segue projetando um tipo de som consistente e bem planejado até o ecoar de seus últimos segundos. Resta apenas torcer que em um futuro próximo o mineiro não se entregue excessivamente à busca de um trabalho demasiado plástico e esqueça daquilo que o tornou conhecido: seus versos.

Minha Tribo é o Mundo (2011, Independente)

 

Nota: 7.5
Para quem gosta de: Emicida, Rashid e Xará
Ouça: Suave

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.