Disco: “Miracle Mile”, Starfucker

/ Por: Cleber Facchi 05/02/2013

Starfucker
Indie Pop/Electronic/Indie
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Por: Cleber Facchi

Starfucker

O Starfucker – ex-Pyramids e atual STRFKR – sempre foi uma banda de grandes melodias, letras cantaroláveis, sonoridade impecável, porém, condução irregular. Trabalhos que em geral inauguram em meio a sintetizadores e vozes bem encaixadas, mas que em poucos minutos (ou canções) perdem seu brilho em prol de um resultado totalmente previsível. Tem sido assim desde o surgimento do grupo em 2007, marca que se repete nos dois registros em estúdio apresentados pela banda – um autointitulado disco lançado em 2008 e o melhor deles, Reptilians de 2011. Com mais de meia década de atuação, é chegada a hora do quarteto se desprender dos erros do passado, resultado que naturalmente transforma Miracle Mile (2013, Polyvinyl) na melhor e, pela primeira vez, coerente estratégia musical do grupo.

Partindo exatamente de onde a banda parou em faixas como Julius, Florida ou mesmo na regravação assertiva do clássico Girls Just Want to Have Fun de Cyndi Lauper, o novo álbum deixa o teclados fluírem de maneira suave e sempre encantadora. De mãos dadas com o pop durante toda a extensão, o novo disco se desprende dos instantes de estranheza que outrora abasteciam a obra do grupo, resultado que, assim como a capa colorida do registro, encaminha o STRFKR para uma sonoridade alegre, floral e perfumada pelo clima ameno da primavera. Sem qualquer excesso e em busca de um acabamento açucarado, a banda parece pela primeira vez ter encontrado um caminho de acertos.

Sem a pressa que abastecia em alguma medida os trabalhos anteriores, Miracle Mile se desdobra em uma sequência correta de sintetizadores e guitarras que praticamente se amarram musicalmente no decorrer da obra. As aproximações com a eletrônica, característica marcante principalmente no primeiro disco, agora abre espaço para uma medida que flutua entre o indie pop dos anos 2000 e o folk confortável do final da década de 1990. Com uma proposta que se desenvolve de maneira suave, o álbum talvez precise de certo tempo para convencer quem nunca se encontrou com nenhum lançamento da banda, nada que o cenário mágico de Say to You ou o clima nostálgico de Fortune’s Fool não consigam convencer.


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Para além das transformações instrumentais que percorrem toda a obra, com o terceiro disco a banda alcança um desempenho formidável no uso da voz. Logo que inicia, While I’m Alive, com seu misto de Passion Pit e Foster The People convidam o público a passear pelo disco. Diferente dos trabalhos anteriores (principalmente do primeiro), os vocais deixam o plano secundário da obra ou de direcionamento instrumental para absorver uma proposta primária, quase como um incentivo para experimentar cada nova canção. Em músicas como Beach Monster, por exemplo, as vozes vão além dos limites convencionais, ocupando toda e possível falha como uma distorção leve que preenche as mínimas rachaduras musicais.

Talvez falte ao disco um número maior de composições que assumam a mesma natureza comercial de Say to You, entretanto, como a proposta que engloba o álbum é a de calmaria, se desprender dessa origem tingiria o disco com erro. Ainda assim é possível encontrar faixas que rompam com os instantes de morosidade instalados na parte inicial da obra. Exemplo efetivo disso está no synthpop de Leave It All Behind, faixa que passeia pela década de 1980 sem se desprender da conexão com a música pop recente, no caso, o Passion Pit do álbum Gossamer ou quem sabe o Ra Ra Riot do recém-lançado Beta Love.

Quem espera por uma obra de recheio grandioso e experimentações que brinquem com a música pop convencional terá de esperar. Do momento que inicia ao fechamento semi-festivo de Golden Light, Miracle Mile mantém firme o autocontrole. Com guitarras que jamais exageram, teclados que nunca ultrapassam um limite pré-determinado e vozes sempre ambientais, o álbum se apresenta como um tratado de proporções brandas, mas que ainda assim consegue encantar, tamanha leveza e cuidado que orienta cada instante do disco.

 

Starfucker

Miracle Mile (2013, Polyvinyl)


Nota: 7.0
Para quem gosta de: Ra Ra Riot, Passion Pit e Discovery
Ouça: Say to You e Fortune’s Fool

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.