Disco: “Mirrorwriting”, Jamie Woon

/ Por: Cleber Facchi 15/04/2011

Jamie Woon
Electronic/Garage/R&B
http://www.myspace.com/jamiewoon

Por: Cleber Facchi

Se a frieza de alguns projetos ligados ao dubstep podem afastar determinados públicos, a calorosa estreia do britânico Jamie Woon tem tudo para soar diferente e atrativa. Mirrorwriting (2011) flui na mesma levada 2-step como os convencionais lançamentos do gênero, porém encontra na soul music (ou neo-soul como andam rotulando) a possibilidade de soar inventivo e escapar das redundâncias. De maneira quase sedutora, o jovem produtor inglês brinca com as texturas e movimenta as faixas de forma similar ao trabalho do canadense The Weeknd, embora siga por uma via bem menos tortuosa e até mais comercial.

Mesmo que a sonoridade de Woon seja de fato voltada ao dubstep e até agregue alguns elementos que o voltem para o experimentalismo e a música ambiente, Mirrorwriting é um disco de sonoridade eletrônica essencialmente pop. Assim como Katy B trouxe com sua estreia um tempero extremamente radiofônico às suas canções (vide Louder, anterior até ao debut), o britânico dá formas a um disco de aspecto minimalista, e exclusivo de nichos, mas que funciona tão bem quanto o que toca em qualquer rádio comercial.

Provas disso? A tríade de abertura composta por Night Air, Street e Lady Fuck. Todos os elementos acústicos, as batidas sincopadas, ruídos minimalistas e todo o reducionismo que envolve canções do gênero estão lá, porém, o simples fato de dar aos vocais uma entonação toda referencial a soul music (em alguns momentos quase voltados ao hip-hip) fazem com que tudo soe diferente, mais fácil. Lady Fuck, por exemplo, o destaque não está no minimalismo, mas sim no coro de vocais típico das canções radiofônicas do neo-soul, o tipo de faixa que você encontra sintonizando qualquer rádio durante a noite.

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Veja a estreia de James Black. Talvez o mais próximo que seja encontrado de um coro de vocais, tal qual o trabalho de Woon, seja o “coro” individual do próprio Blake em Lindesfarne I e II, com sua voz autotunada, recortada e coladaem sequências. Enquanto James Blake ou mesmo outros artistas do estilo como Burial, Mount Kimbie, Jamie XX e de maneira mais distante Nicolas Jaar focam em uma sonoridade reducionista e controlada, Woon se prende a uma levada crescente, muito embora tomada pelo cuidado, por um limite claro de até onde ele pode chegar.

A aproximação do britânico com essa temática mais pop de forma alguma prejudica o rendimento do disco, pelo contrário é o que o torna diferente e gostoso de ser apreciado. O mesmo já havia sido visto há algumas semanas com House of Balloons (2011) estreia do canadense Abel Tesfaye (The Weeknd), porém, enquanto este explora suas letras de forma melancólica, Jamie se declara, lamenta sem cair em desespero e por conta da sonoridade se põem de forma não alegre, mas também não profundamente deprimida.

Talvez o que mais diferencie Mirrorwriting de outros trabalhos que trazem um foco no dubstep seja a ausência de hermetismo em todo o trabalho, tanto as melodias, como as letras não seguem dentro de um padrão fechado e inalterável, como se vê em outros registros lançados até agora. Jamie Woon pode até trafegar de forma controlada em determinados momentos (Gravity e Waterfront estão aí para provar), mas é por escapar desse enclausuramento instrumental que o britânico alcança de fato uma sonoridade própria, ou pelo menos não repetitiva.

Mirrorwriting (2011)

Nota: 8.2
Para quem gosta de: James Blake, The Weeknd e Nicolas Jaar
Ouça: Lady Luck

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.