Disco: “MM3”, Metá Metá

/ Por: Cleber Facchi 01/06/2016

Artista: Metá Metá
Gênero: Experimental, Alternative, Jazz
Acesse: http://www.metametaoficial.com.br/

 

Duas composições inéditas – Atotô, Sozinho – e uma curiosa interpretação do clássico Me Perco Nesse Tempo – canção originalmente apresentada em 1986 pela banda de pós-punk paulistana As Mercenárias, e, posteriormente, regravada pelo Ira! como parte do álbum 7, dez anos depois. Entregue ao público em maio do último ano e passando quase despercebido pelo público da banda, Metá Metá EP (2015) hoje parece anunciar a mudança de direção que marca o terceiro e mais recente álbum de inéditas do Metá Metá, MM3 (2016, Independente).

Do ritmo intenso e voz forte de Juçara Marçal em Angoulême, passando pelo toque semi-carnavalesco que invade Corpo Vão, até alcançar a extensa Oba Koso, faixa de encerramento do disco, todos os elementos do presente disco se articulam de forma a revelar um material tão intenso e urgente quanto o bem-sucedido acervo apresentado no álbum MetaL MetaL, de 2012. Uma colisão de ideias e referências que incorporam elementos da cultura africana, jogam com emanações jazzísticas dos anos 1970 e acabam encontrando no punk um novo direcionamento para o trabalho da banda.

A própria maneira como o álbum foi concebido reforça a urgência do trio – completo com a presença de Kiko Dinucci (guitarras) e com Thiago França (saxofone). Gravado em um intervalo de apenas três dias no estúdio Red Bull, em São Paulo, MM3 parece dialogar com a mesma fluidez das apresentações ao vivo do grupo. “É uma questão de desapego: não temos a pretensão de fazer um disco perfeito, de estar com tudo certo”, explicou Dinucci em entrevista à Rolling Stone Brasil A ideia, era deixar a banda afiada e resolver tudo rápido, ao vivo, com dois ou três takes”, completa.

Bastam os instantes iniciais de músicas como Toque Certeiro e Angolana para perceber o ritmo pulsante que rege o disco. Um jogo rápido de versos e arranjos, sempre precisos, como se o trio se esquivasse da imposição complexa que orienta parte dos dois últimos álbuns de inéditas. Tamanha aceleração em nenhum momento impede que o álbum crie pequenas brechas atmosféricas. É caso da descritiva Imagem de Amor, música que cria um verdadeiro filme na cabeça do ouvinte, ou mesmo a derradeira Oba Koso, composição com mais de nove minutos de duração e um hipnótico embate entre o saxofone de França e a guitarra metálica de Danucci.

Ao mesmo tempo em que reflete uma sonoridade reformulada dos dois últimos trabalhos de inéditas, durante toda a construção da obra, o trio estabelece pequenas pontes para os diferentes projetos paralelos que circundam o Metá Metá. É fácil visualizar a densa Imagem do Amor como um produto típico do primeiro álbum solo de Marçal, Encarnado (2014). E o que dizer de Mano Légua, música que poderia facilmente ser encontrada em algum registro do Passo Torto. Uma delicada expansão do rico universo de ideias e referências que naturalmente abastecem o trabalho da banda.

Centrado na equilibrada interferência de cada integrante, MM3, assim como os dois últimos registros de estúdio da banda, se abre para a chegada de diferentes músicos e compositores. Enquanto Siba divide a composição em Toque Certeiro, é responsabilidade de Rodrigo Campos, velho parceiro do trio, assumir parte dos versos na inaugural Três Amigos. Em estúdio, o coletivo fica completo com a presença de Marcelo Cabral (baixo) e Sergio Machado (bateria), parceiros de longa data (e colaboradores em diferentes projetos) que auxiliam na construção do som essencialmente versátil que marca o registro.

 

MM3 (2016, Independente)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Passo Torto, Juçara Marçal e Rodrigo Campos
Ouça: Oba Koso, Angoulême e Imagem do Amor

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.