Disco: “Moio”, Cabana Café

/ Por: Cleber Facchi 15/03/2016

Cabana Café
Nacional/Indie/Alternative
http://www.cabanacafe.com.br/

 

Existe uma diferença enorme entre o som produzido para as composições de Panari (2013), primeiro álbum de estúdio da Cabana Café, e o recém-lançado Moio (2016). Longe do pop óbvio explorado há três anos pelo coletivo paulistano, são vozes e arranjos complexos, por vezes experimentais, que aproximam o ouvinte de um novo jogo de possibilidades. Retalhos instrumentais, ruídos e temas essencialmente efêmeros, como se um delicioso suspiro criativo orientasse cada ato da banda.

Como a ascendente Vândalo, faixa de abertura do disco indica, Moio carrega um precioso toque de disco ao vivo. Guitarras e batidas exploradas de maneira fluida; o sintetizador atmosférico, como uma manta, cobrindo as pequenas lacunas da obra; a voz sempre presente e instável da vocalista Rita Oliva – tão provocante quanto no trabalho produzido há poucos meses com Superfície (2015), delicada estreia do P A R A T I. Blocos que se encaixam lentamente, como uma curiosa jam session.

A julgar pela imagem de capa do disco, trata-se de um trabalho que nasce da delicada sobreposição de ideias. Fragmentos ou mesmo peças completas que solucionam a essência instrumental/lírica do disco. Para cada música “finalizada” – caso de Vândalo, Qualquer Lugar, Vibrar na Garganta, Descarrego -, a inserção de ruídos tímidos, esboços e todo um catálogo de experimentos minimalistas, cósmicos como as enevoadas E O Homem Não Foi Para A Lua e a própria faixa-título indicam.

Obra de possibilidades, Moio brinca com os ritmos sem necessariamente perder o controle da própria pluralidade de referências. Guitarras funkeadas e arranjos semi-psicodélicos em Qualquer Lugar, a montagem sedutora, nostálgica que orienta a faixa-título, o universo climático que desacelera o disco em Manipura. É difícil saber exatamente onde a banda quer chegar. Uma liberdade rara, estímulo para que cada instante do disco se transforme em um objeto de atenta observação.

O mesmo detalhamento diversificado se reflete nos versos que preenchem o disco. Feitas para serem desvendadas, faixas como Vândalo, Qualquer Lugar e Vibrar na Garganta pintam um cenário urbano, dominado por personagens e histórias sempre particulares, intimistas como os versos da curtinha Just Love parecem indicar. Uma espécie de fuga do material apresentado em Vermelha Anã, Busca Vida e todo o catálogo entregue no último disco da banda.

Trabalhado como uma obra “intuitiva” como a própria banda já ressaltou em entrevista, Moio cria uma série de brechas para que cada integrante interfira com naturalidade na construção do disco – além de Rita Oliva, o grupo fica completo com Gustavo Athayde, Hafa Bulleto, Mário Gascó, Taian Cavalca e Zelino Lanfranchi. Livre de regras, um disco que brinca com as possibilidades, mudando de direção em cada nota ou mínima alteração na voz.

 

Moio (2016, Balaclava Records)

Nota: 8.3
Para quem gosta de: P A R A T I, Baleia e Holger
Ouça: Qualquer Lugar, Vândalo e Vibrar na Garganta

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.