Disco: “Morning Phase”, Beck

/ Por: Cleber Facchi 24/02/2014

Beck
Alternative/Indie/Singer-Songwriter
http://www.beck.com/

Por: Cleber Facchi

Beck

Cycle, faixa de abertura de Morning Phase (2014, Fonograf/Capitol) não carrega esse título por acaso. Trabalhado como um evidente retorno ao universo melancólico de Sea Change, álbum clássico de Beck lançado em 2002, o 12º trabalho em estúdio do músico californiano se manifesta em um típico esforço de maturidade e melancolia regressa. Um propósito reconstruído em meio arranjos divididos entre a candura e a densidade, mas, que acima de tudo, mergulham com novidade em sensações há tempos ocultas pelo compositor.

Doloroso em essência, o presente disco é uma tentativa do “novo” Beck em olhar com evidente sobriedade para o passado, uma espécie de comprovação da própria liberdade. Boa parte das canções – caso de Morning e Blackbird Chain – se valem dos mesmos arranjos, harmonias e tramas acústicas lançadas no melancólico disco de 2002. Uma extensão que soterra (temporariamente) as pequenas invenções lançadas em Guero (2005), The Information (2006) e Modern Guilt (2008), últimos e completamente opostos trabalhos de estúdio do cantor.

Assim como em Sea Change, o novo álbum funciona dentro de um cenário propositalmente hermético, incomunicável quando próximo dos anteriores inventos do músico – principalmente aqueles lançados nos anos 1990. Longe da trama torta de beats, bases marcadas pelo groove e flertes com o Hip-Hop, Beck desenvolve um disco homogêneo, uma obra em que cada composição serve de princípio para o nascimento da faixa seguinte. Trata-se de um disco em que limites são impostos tão logo o álbum tem início, ferramenta que impede a formação de uma obra versátil, mas sustenta em essência o crescimento do trabalho.

Por vezes esquizofrênico, Morning Phase é uma obra que aponta para a libertação, mas cai na angústia imediata do isolamento. Enquanto Say Goodbye, no eixo inicial do disco, aceita a separação – “É hora de ir embora? Tentar novamente algum outro dia? Estas são as palavras que usamos para dizer adeus” -, Don’t Let It Go, na segunda metade chora pelo “recente” distanciamento. “Em meio ao fogo cruzado há uma história/ E como termina, eu não sei/ Não deixe o ir/ Não deixe que ele vá embora”, se desespera o músico em um dos momentos mais densos do trabalho.

Da mesma forma que em Sea Change, parte da beleza que abastece o disco vem dos arranjos intimistas que o definem. Enquanto músicas como Heart Is a Drum e Wave se acomodam em meio a violinos climáticos e pianos pacatos, outras como Morning apostam na economia. Sobram ainda criações aos moldes de Country Down e Blackbird Chain, faixas em que a essência do Alt. Country e os arranjos típicos da década de 1970 parecem adaptada aos rumos do cantor, como uma natural extensão do mesmo cenário lançado há 12 anos.

Mais do que um simples “registro irmão”, ou uma obra que se abastece tendenciosamente de velhas referências, com o presente álbum Beck fornece aos ouvintes um evidente disco de criação. Enquanto o trabalho lançado há mais de uma década se afundava em um mar de emanações densas – vide o desespero em Lost Cause e Paper Tiger -, com o presente disco a liberdade é um ponto de merecimento para o cantor. Morning Phase, como o título logo entrega, é uma disco sobre o dia seguinte, sobre encontrar o antigo parceiro no meio da rua, respirar, e entender que é possível seguir em frente.

 Beck

Morning Phase (2014, Fonograf/Capitol)

Nota: 7.9
Para quem gosta de: Elliott Smith, Eels e Charlotte Gainsbourg
Ouça: Say Goodbye, Morning e Unforgiven

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.