Disco: “Mosquito”, Yeah Yeah Yeahs

/ Por: Cleber Facchi 05/04/2013

Yeah Yeah Yeahs
Indie Rock/Alternative/Garage Rock
http://www.yeahyeahyeahs.com/

Por: Cleber Facchi

Karen O

Contraditório na época de seu lançamento, It’s Blitz (2009) ainda hoje prevalece como o ápice inventivo na carreira do Yeah Yeah Yeahs. Versão “futurística” daquilo que o trio nova-iorquino alcançou em 2003 com a entrega de Fever To Tell – facilmente um dos trabalhos mais importantes da década passada -, o terceiro álbum da banda de Karen O não é apenas o melhor exercício de transposição das guitarras para os sintetizadores, mas um exemplar perfeito de uniformidade e, claro, energia. É exatamente contra essa sequência lógica de acertos que a banda “luta” ao regressar ao rock com o quarto e mais novo álbum do grupo, Mosquito (2013, Interscope).

De razões nitidamente experimentais, o novo álbum parece caminhar por toda a discografia prévia da banda de forma incerta, absorvendo tanto o Garage Rock dos primeiros álbuns como o Synthpop cativante do último disco em proporções quase similares. São faixas que reincorporam o uso das guitarras ao mesmo tempo em  que sintetizadores e efeitos ambientais se escondem ao fundo – algo bem representado na irregular Area 52. Como a “curiosa” capa (autoria do designer Beomsik Shimbe Shim) já aponta, o novo disco é tudo, menos um registro que parece convencer logo na primeira audição – ou mesmo nas últimas.

Repetindo a parceria com os produtores Nick Launay e David Andrew Sitek (TV On The Radio/Maximum Balloon), em Mosquito a banda entende cada composição como uma faixa individual, o que acaba se revelando como um erro claro. Mesmo que seja possível isolar conceitos e marcas bem estabelecidas durante toda a obra, não existe uma linha instrumental lógica que costura o álbum, resultado presente desde o primeiro disco e bem amarrado no decorrer de It’s Blitz. Como quem volta para casa depois de uma longa viagem no exterior, a banda parece levar tempo demais para arrumar os móveis e se estabelecer no velho ambiente, o que faz com que Karen O pareça desnorteada durante toda a extensão da obra.


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Mesmo coberto por pequenos desajustes, o maior erro do YYY’s com o quarto álbum não está em apostar na construção de um trabalho versátil e de natureza instável, algo até positivo para a carreira da banda, mas em transformar a épica faixa de abertura, Sacrilege, em uma composição que praticamente oculta e não se relaciona com o restante da obra. Recheada por coros de vozes, um ritmo alinhado crescente e toda a esquizofrenia caricata da vocalista, a brilhante faixa mistura tudo o que a banda conquistou nos três últimos trabalhos, surgindo como uma continuação segura do que o trio alcançou até agora. Contraditória, a estratégia cria uma estranha eforia e quase necessidade no ouvinte, que não encontrará no restante do disco o mesmo raro efeito assertivo da faixa de abertura.

Observado atentamente, Mosquito se relaciona de maneira íntima com a mesma proposta que abastece banda durante o segundo registro em estúdio, Show Your Bones, de 2006. Enquanto a explosiva Gold Lion abre o disco de forma catártica, mergulhando a banda em um incrível rock de arena, todas as demais composições parecem correr atrás, buscando encontrar o mesmo clima ambicioso que ainda hoje sustenta a canção. Com o quarto álbum o trio nova-iorquino firma o mesmo efeito. Não há como negar que Subway (a “nova” Maps) e Buried Alive (parceria com Dr. Octagon) convencem em alguma medida, mas o efeito grandioso engatado de forma quase esperançosa na faixa de abertura não se repete em nenhum instante posterior. Uma expectativa inevitável e consequentemente prejudicial.

Mesmo que Sacrilege não fizesse parte do álbum, Mosquito desabaria por conta própria. Nenhuma das composições presentes na obra conseguem esboçar o mesmo espírito aventureiro e a intensidade que antes ocupava as canções da banda. Nem faixas mais leves como Always ou a música de encerramento Wedding Song (que mais parece um cover de Coldplay) brilham com a mesma intensidade que outras canções similares e melhor aproveitadas já lançadas pelo trio. Mosquito parece representar o velho caso do livro que se vende pela capa: você pode até comprar e se encantar pelas primeiras páginas, mas dificilmente vai chegar até o final.

 

YYYs

Mosquito (2013, Interscope).


Nota: 6.0
Para quem gosta de: The Kills, Karen O e The Strokes
Ouça: Sacrilege

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.