Disco: “Moth”, Chairlift

/ Por: Cleber Facchi 26/01/2016

Chairlift
Synthpop/Pop/R&B
http://chairlifted.com/

 

O pop se comporta de forma inusitada a cada novo álbum do Chairlift. Se em 2008, com o lançamento de Does You Inspire You, Caroline Polachek, Patrick Wimberly e o ex-integrante Aaron Pfenning seguiam a trilha de outros nomes do indie pop norte-americano, com a chegada de Something, em 2012, uma clara evolução tomou conta do trabalho assinado pela banda. Livre do som “inofensivo” do primeiro registro em estúdio, faixas como I Belong In Your Arms, Cool as a Fire e Amanaemonesia pareciam indicar um mundo de novas possibilidades – mesmo ancoradas em temas vindos da década de 1980.

Em Moth (2016, Columbia), terceiro álbum de inéditas da dupla nova-iorquina, cada faixa parece crescer dentro de um instável ambiente criativo. Um vasto catálogo de ideias, letras, sons e referências que passeiam por diferentes campos da música pop, ampliando o terreno explorado pela dupla em Something. Da abertura, com Look Up, ao fechamento, em No Such Thing as Illusion, fragmentos que utilizam dos sentimentos de Polachek como um instrumento para a formação de versos sempre confessionais e sensíveis.

Me desculpe por chorar em público deste jeito / Eu estou apaixonada por você / Me desculpe por fazer uma cena no trem / Eu estou apaixonada por você, eu estou apaixonada por você”, canta Polachek na melancólica Crying In Public, uma síntese da lírica conturbada que abastece grande parte do registro. Obra de exposições intimistas, Moth amplia a forte carga emocional reforçada pela dupla em trechos do álbum anterior, transformando composições como Polymorphing e Unfinished Business em músicas que dialogam diretamente com o ouvinte.

Co-autora de No Angel, uma das canções que abastecem o último álbum de Beyoncé, Polachek transporta para o interior de Moth uma série de referências que incorporam a música negra de diferentes épocas e tendências. São passagens bem-sucedidas pelo R&B/Hip-Hop dos anos 1980, manipulações vocais e batidas que distanciam a dupla do synthpop aplicado em Something. Um nostálgico jogo de possibilidades que visita a obra de Michael Jackson com Ch-Ching, passa pela música disco em Moth to the Flame e ainda dialoga com o presente cenário na comercial Show U Off, faixa que poderia facilmente ser encontrada nos últimos discos de Janelle Monáe.

Em músicas como Look Up e No Such Thing as Illusion, um delicado resgate do mesmo weird-pop que acompanha a dupla desde Does You Inspire You. Sintetizadores, guitarras e efeitos eletrônicos que se encaixam de forma tão sofisticada quanto excêntrica. Difícil não lembrar de Björk e obras como Vespertine (2001) nos instantes de maior leveza do álbum, caso da melancólica Unfinished Business e Polymorphing. Mesmo a voz de Polachek parece se dobrar de forma a replicar conceitos explorados no clássico Heaven or Las Vegas (1990), do Cocteau Twins, uma das principais influências da dupla.

Movido pela sutileza, Moth, assim como o registro que o antecede, encanta pela lenta movimentação das vozes, arranjos e sentimentos que ocupam o interior de cada faixa. Junto de álbuns ainda recentes, como Emotion e Art Angles, um disco que provoca e brinca com a música pop de forma sempre curiosa, inventiva, livre do conforto e permanente uso de fórmulas prontas que tanto sufocam esse tipo de obra.

 

Moth (2016, Columbia)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Carly Rae Jepsen, Ramona Lisa e Grimes
Ouça: Romeo, Unfinished Business e Crying In Public

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.