Disco: “Moto Continuo”, China

/ Por: Cleber Facchi 03/09/2011

China
Brazilian/Alternative/Indie
http://www.myspace.com/chinaina

Por: Cleber Facchi

Há uma constante certeza ao nos depararmos com as composições dos pernambucano China: teremos sempre canções tomadas por uma instrumentação vasta e letras trabalhadas de forma perspicaz, ambos elementos preparados para fisgar o ouvinte de maneira ágil. Elevando essa constatação em um nível ainda mais elevado, em seu terceiro e mais recente trabalho, Moto Contínuo (2011, Trama/Joinha Records), o cantor e compositor nos conduz através de 11 entusiasmadas composições, músicas tomadas de potencial radiofônico e que parecem dar exata continuidade ao já vasto jogo de memoráveis composições que artista traz em sua bagagem.

Mesmo passados quatro anos desde que Simulacro, seu segundo registro em estúdio fora lançado, pouco mudou na sonoridade, na forma de compor e no ritmo que gerencia o trabalho do cantor pernambucano. Embora se mantenha firma em suas estruturas – delineada por versos que parecem refletir com exatidão trechos ou acontecimentos da vida do próprio músico -, isso não quer dizer que estamos de frente com um trabalho redundante ou que faça uso dos exatos mesmos elementos anteriormente buscados pelo artista, afinal, em cada segundo, o terceiro álbum de China arremessa mais uma sequência de deliciosos sons e versos totalmente inéditos.

Como grande discípulo de Roberto e Erasmo Carlos, além, claro, de todo o panteão de artistas que compõem os momentos de glória da Jovem Guarda, assim como nos dois álbuns anteriores, o cantor investe ativamente no uso de teclados moldados de forma pop e acessível, prontos para convidar o ouvinte para a dança. Soma-se ainda um bem desenvolvido jogo de guitarras tomadas de efeitos, elemento fundamental para posicionar o trabalho do músico em um contexto contemporâneo, evitando que se perca em excessos de nostalgia ou tonalidades demasiadamente referenciais.

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Além das antigas predisposições aos ritmos e sons lançados nas décadas de 50 e 60, em seu atual projeto há o investimento em algumas pequenas doses de novidade, principalmente no quesito instrumental. Só Serve Pra Dançar, primeiro single do disco, por exemplo, se afunda no uso de guitarras que esbanjam doses de surf music, um oposto da suavidade açucarada que se materializa em Terminei Indo, com o músico proporcionando um dos momentos mais líricos do álbum ao lado da paulistana Tiê, despejando uma composição invadida pela delicadeza e pela simplicidade.

Diferente de seu último disco, em Moto Contínuo não existe uma possível aproximação entre as canções do álbum, afinal, a sensação repassada é a de que cada música presente parece vinda de um diferente período de tempo ou dona de uma característica única. Assim como a capa do disco, tomada de imagens sem qualquer conexão aparente, cada uma das 11 faixas que brotam no decorrer do álbum parecem partir de um caminho específico, próprio, gerando o que em uma audição inicial se manifesta como uma falta de rumo, mas posteriormente revela aquela que é a principal característica do álbum.

Mesmo que assuma a produção, os versos e boa parte da instrumentação do disco, em seu novo trabalho China está longe de se apresentar sozinho. Melhor exemplo disso está nas três musas que o acompanham no decorrer do álbum. Enquanto Pitty empresta seus vocais de forma eficiente para a faixa Overlock, a conterrânea Ylana Queirog surge para pintar com melancolia os versos de Mais Um Sucesso Pra Ninguém, uma completa inversão do toque delicado exposto por Tiê na já mencionada Terminei Indo, ambas participações que realçam o já vasto catálogo de sons e sensações que o pernambucano desenvolve de maneira primorosa em seu mais do que agradável novo álbum.

Moto Contínuo (2011, Trama/Joinha Records)

Nota: 7.5
Para quem gosta de: Mombojó, Wado e Cérebro Eletrônico
Ouça: Mais Um Sucesso Pra Ninguém e Só Serve Pra Dançar

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.