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Críticas

Au Revoir Simone

: "Move In Spectrums"

Ano: 2013

Selo: Instant / Moshi Moshi

Gênero: Indie Pop, Synthpop

Para quem gosta de: Chairlift, Twin Shadow e Haim

Ouça: Crazy e Somebody Who

7.0
7.0

Disco: “Move In Spectrums”, Au Revoir Simone

Ano: 2013

Selo: Instant / Moshi Moshi

Gênero: Indie Pop, Synthpop

Para quem gosta de: Chairlift, Twin Shadow e Haim

Ouça: Crazy e Somebody Who

/ Por: Cleber Facchi 04/10/2013

Desde que resolveram deixar de lado os sintetizadores matutinos e a aura preguiçosa instalada em começo de carreira, as garotas do Au Revoir Simone parece ter finalmente se encontrado. Em busca de um resultado cada vez mais melancólico, sombrio e estranhamente dançante, Erika Forster, Annie Hart e Heather D’Angelo não apenas parecem ter assumido um posicionamento coeso dentro da própria sonoridade – efeito explícito desde a chegada de Still Night, Still Light (2009) -, como fazem de cada novo invento um brinde amargo à vida adulta.

Em Move In Spectrums (2013, Instant/Moshi Moshi), quarto e mais novo registro em estúdio da tríade norte-americana, os mesmos elementos apresentados há quatro anos voltam para assombrar os sentimentos e, naturalmente, as canções da banda. Menos acelerado e por vezes livre do caráter comercial instalado em músicas como Shadows e All Or Nothing (faixas ainda insuperáveis), o presente disco assume na busca pelo enclausuramento o salto criativo para a orquestração de todo o projeto. Tímido, o álbum é uma obra que se fecha naturalmente para absorver as referências da banda, o que, de forma alguma, exclui os ouvintes dessa equação.

Desenvolvido sob nítida parcimônia, há logo na faixa de abertura, More Than, uma série de pistas para aquilo que decide todo o fluxo do álbum. Imersa em sintetizadores sujos, a canção vai aos poucos desenrolando todo o seu jogo de experiências e verdadeiro potencial. São vozes entregues em pequenos blocos, batidas compactas e uma sobreposição de harmonias que só parece crescer realmente nos instantes finais da música. Intencional ou não, este parece ser todo o comportamento do trio ao longo da obra, trabalho que encontra na calmaria um efeito curioso de atenção.

Como um mosaico de recortes soturnos, Move In Spectrums vai aos poucos sendo montado. Enquanto músicas como We Both Know encontram na melancolia ambiental dos anos 1980 um ponto de transformação para a estética da banda, outras como Crazy trazem de volta tudo o que o trio conquistou no álbum passado. São instantes de desaceleração que se contrastam com momentos de maior leveza e (quase) felicidade. Mais do que arremessar para cima do ouvinte um jogo rápido de vozes e harmonias, o novo disco parece desenvolvido de forma a provocar, como se a composição acessível do registro anterior fosse posta à prova.

Mesmo quando os arranjos se manifestam em uma atmosfera de aproximação com o grande público, caso de Somebody Who e Gravitron, tudo parece encarado sob nítido controle. As vozes nunca soam altas demais e as letras sempre esbarram em um efeito proposital de reclusão, como se o importante aqui realmente fosse a expansão obscura dos teclados e a massa densa de ruídos. Entretanto, mesmo dentro do sombreado típico do registro, é difícil não se encantar pelo exercício curioso do trio, que em alguns aspectos mergulha deliciosamente na mesma tristeza de Twin Shadow e outros projetos próximos da cena norte-americana.

Feito para ser visitado diversas vezes, Move In Spectrums esconde em cada faixa pequenos segredos. São confissões sorumbáticas em Hand over Hand, lampejos rápidos de iluminação em Let the Night Win ou emanações que simplesmente tocam o etéreo em Boiling Point. Diferente dos registros passados, principalmente o último, o novo álbum do Au Revoir Simone é uma obra que carece de longas audições até “fazer sentido” ou para que simplesmente possa revelar suas verdadeiras intenções. Quem insistir, não tenha dúvidas de que irá sair do álbum com uma grata sensação de recompensa.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.