Disco: “Movement”, Holly Herndon

/ Por: Cleber Facchi 26/11/2012

Holly Herndon
Experimental/Electronic/Ambient
http://hollyherndon.tumblr.com/

Por: Cleber Facchi

Antes comandada por uma maioria quase absoluta de produtores e músicos do sexo masculino, a cena experimental norte-americana vem se aconchegando nos vocais e tramas complexas das mulheres. Cada qual trabalhando dentro de uma sonoridade própria e totalmente particular, nomes como Julianna Barwick, Laurel Halo, Maria Minerva, Julia Holter, entre outras artistas estadunidenses tem pervertido o que até então parecia inteiramente mergulhado nos ensinamentos da islandesa Björk, indo muito além dessa proposta. Esqueça a aproximação com a música pop, os vocais acessíveis ou qualquer tonalidade que torne acessível a entrada do grande público. Entre sintetizadores e maquiagens, os verdadeiros donos do experimento são elas.

É justamente dentro desse cenário recente que cresce o trabalho da californiana Holly Herndon, artista que não somente compactua com tudo que se desenvolve na atual fase da música experimental norte-americana, como parece imersa em um futuro próximo do mesmo panorama. Estudante de música – Herndon já conta com um mestrado em música eletrônica, além de uma variedade de outros projetos acadêmicos sobre o tema -, a artista põe em prática tudo aquilo que aprendeu na sala de aula, transformando a base da música de vanguarda estadunidense – principalmente os trabalhos de Steve Reich – na engrenagem que orienta todo o primeiro disco de sua carreira, Movement (2012, Rvng Intl).

Consumido pela inexatidão das formas instrumentais, o álbum parece transformar tudo aquilo que Julianna Barwick alcançou no último ano, rompendo com os limites atmosféricos da floresta cultivada em The Magic Place para cair em um terreno urbano, obscuro e quase pós-apocalíptico. Por vezes íntima de tudo aqui que comanda os trabalhos de Oneohtrix Point Never ou outros nomes sombrios do experimentalismo ambiental, Holly completa a camada de sons eletrônicos encontrados no decorrer do disco com vozes fragmentadas, respiros e toda uma massa volumosa de sons que tornam o trabalho difícil de ser encarado como um projeto essencialmente eletrônico.

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Público logo na capa do registro, Movement é um álbum que faz música para/com o corpo. Cada uma das sete composições que recheiam o disco lidam exatamente com isso. Da respiração sintética – e desconcertante – que delimita os rumos de Breathe, às batidas vívidas de Terminal, passando pelos vocais quebrados de Control and até chegar à eletrônica orgânica da faixa-título, o corpo se apresenta como a grande base do trabalho de Herndon. A produtora parece utilizar os quase 40 minutos do álbum para justamente converter esse pequeno agrupado de variações sintéticas em carne, músculos e vida em seu estado mais primitivo.

Seja por meio dos respiros espalhados por grande parte do trabalho, ao longo de Movement temos o nascimento e morte de um ser vivo de traços e origem não convencionais. Uma espécie de homúnculos sonoro criado por meio dos experimentos alquímico-musicais da compositora e que por vezes capaz parece capaz de se apresentarà luz do dia, resultado nítido em Fade – único registro verdadeiramente acessível do todo o trabalho. Carregada pelos sintetizadores e vozes, a canção aproxima a artista do mesmo segmento eletrônico impresso nos trabalhos de Fever Ray, instante raro, visto que em sequência temos um retorno direto aos inventos complexos da musicista.

Ainda que tátil, o trabalho mantém na formatação abstrata – que em alguns instantes se aproxima da obra de Colin Stetson – a grande estrutura guia de formação para cada uma das faixas. Sem jamais se fixar em um ponto instrumental específico, Holly Herndon acaba por estabelecer a própria sonoridade, utilizando em alguns momentos de pequenas (e necessárias) apropriações para valorizar ainda mais os próprios ensinamentos. Curioso na maneira como é estruturado, quando chegamos ao ponto final do disco fica a sensação de que tudo não passa de um exercício preparatório para algo maior e ainda mais complexo. Afinal, se em poucos minutos a californiana consegue criar vida, resta saber o que ela fará com isso daqui para frente.

 

Movement (2012, Rvng Intl)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Julianna Barwick, Laurel Halo e Julia Holter
Ouça: Breathe, Dilato e Fade

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.