Disco: “Mr. M”, Lambchop

/ Por: Cleber Facchi 24/01/2012

Lambchop
Alt. Country/Indie/Alternative
http://www.lambchop.net/

Diferente de Wilco, Bill Callahan e tantos outros expoentes do Country Alternativo norte-americano, o grupo de Nashville – a capital mundial da música country – Lambchop nunca foi uma unanimidade entre o público ou mesmo entre a crítica musical. De fato, desde o surgimento da banda no final dos anos 1980 que o melancólico líder Kurt Wagner e seus colaboradores vêm se revezando na produção continua de trabalhos sempre desprovidos da máxima beleza ou distinção musical, mantendo-se sempre próximos do acerto, mas nunca alcançando um efeito verdadeiramente marcante ou revolucionário.

Por mais que em diversos momentos a banda tenha chego muito próximo de alcançar a maturidade ou um tratado de máxima evolução – como nos ótimos Nixon de 2000 e OH (Ohio) de 2008 -, há sempre alguma composição ou mínima irregularidade que impede o trabalho de Wagner de alcançar um possível ápice. Com Mr. M (2012, Merge), décimo primeiro álbum da carreira da banda não é diferente, afinal, ao longo de 64 minutos o músico norte-americano e seus convidados se revezam na produção de um trabalho repleto de acertos e também consideráveis erros.

Confesso interessado nas referências vocais exploradas pela soul music – Marvin Gaye está entre as principais inspirações do músico -, Wagner utiliza do presente disco para reforçar a conexão com os trabalhos que há décadas o acompanham, transformando o atual registro (e as 11 canções que o acompanham) em um diálogo consistente com a música negra americana.Dessa forma, o artista intercala doses moderadas de um vocal alongado com uma instrumentação calma, quase arrastada em alguns momentos, impregnando deliciosamente os ouvidos do espectador com todo este aspecto sublime.

 

Embora a calmaria já fosse um dos principais motores para qualquer trabalho do Lambchop – desde a estreia em fita cassete com Secret Secret Sourpuss (1990) que esse aspecto se faz visível no trabalho da banda -, com Mr. M todas essas sensações são amplamente reforçadas. Da abertura com If Not I’ll Just Die (com uma instrumentação marcada por suaves arranjos de cordas) ao toque inteiramente folk de Never My Love no encerramento da obra, cada canto do trabalho serve como reduto para composições mergulhadas em anseios brandos, trazendo sempre a voz de Kurt (ou de seus colaboradores) como principal elemento do disco.

Inicialmente capaz de embriagar o ouvinte em meio ao oceano de exposições serenas que se armazenam com destaque na abertura da obra, à medida que Mr. M se desenvolve toda essa suavidade se transforma em cansaço. A quase imutabilidade do disco acaba por soterrar o ouvinte em uma variante de pianos cautelosos e guitarras quase inexistentes, tornando qualquer composição além da faixa Buttons (sétima canção do disco) simplesmente redundante e batida, repassando ao espectador a constante sensação de aprisionamento, como se o ouvinte estivesse andando em círculos dentro de uma mesma faixa.

Mesmo que Betty’s Overture, com picos instrumentais levemente mais entusiasmados, até consigam romper com a fluência homogênea do disco, a serenidade absoluta do trabalho prevalece, com o Lambchop mais uma vez chegando perto do acerto, mas ficando para trás por conta de próprios deslizes.

Mr. M (2012, Merge)

Nota: 7.7
Para quem gosta de: Bill Callahan, Tindersitcks e Wilco
Ouça: If Not I’ll Just Die

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.