Disco: “Mulher Cromaqui”, Catarina

/ Por: Cleber Facchi 24/06/2013

Catarina
Brazilian/Female Vocalists/Alternative
http://www.catarinadeejah.com/

Por: Allan Assis

Catarina

O pop brasileiro vai aos poucos assumindo nova fase. Longe dos oitentismos que deram vida ao trabalho de Marina Lima, Lulu Santos e tantos outros artistas do repertório nacional, as faixas que hoje ocupam a cena musical trafegam pela eletrônica, mas com marcas regionais de forma a ressaltar movimentos mais fortes em algumas localidades. Um tanto quanto atrasada, a recifense Catarina larga o apelido “Dee Jah” – que subentendia raízes no reggae -, para brincar com essa mesma soma de experimentos e variantes instrumentais tomadas pelo regionalismo. Sem fugir do pop e aprimorando o que já vinha desenvolvendo há um bom tempo, a cantora entrega o inventivo Mulher Cromaqui (2013, Independete).

O aguardado debut ganha, enfim, lançamento, após os cinco anos que marcaram o início do buzz que a jogou para o centro da cena pernambucana. A diversidade da noite e a experiência da carreira que começou como DJ se reflete nas 12 faixas que abraçam um mundo de influências do disco, todas capazes de incendiar qualquer pista. Abrindo com Kay Fora, faixa com cara de vinheta televisiva e gosto de Ex-Mai Love, hit de Gaby Amarantos, só não periga virar tema de personagem de novela pelo refrão verborrágico, em pede para que o ex-amado “Vá tomar no… pônei”. Dispensa o novelão pra ganhar grandes possibilidades de hit imediato em pistas debochadas. Sarará puxa o swing do zulk e lambada, de um início que facilmente caberia num disco da Banda Calypso, evolui desse ponto pra se derramar em letra de declaração de amor torta e roqueira em rápidos dedilhados de guitarra e estrofe em inglês. Tudo parece convergir no interior do álbum.

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=tnkJop50_fo?rel=0]

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=AlQnAWL_V0Q?rel=0]

O clima de festa esconde letras que versam sobre o cotidiano da cantora e revelam suas opiniões sobre o universo feminino. Partindo do título que faz referência às mulheres fruta – “aberrações de um mundo onde tudo é manipulável e efêmero” – como ela mesma define, a artista passa pelo sexy em contraponto às mulheres-objeto (Mulher Tiragosto), as amigas invejosas (Raça Desunida) e a vingança presente na rejeição (LáMíRéDóRéLá). Entre as melhores composições, saltam aos ouvidos as faixas de apelo sexual sugestivo, seja pelo ritmo impresso em Toca-te Dentro, faixa de versos lentos, violão dado à morosidades e voz pouco atenta de Catarina, ou quando se entrega clara nas letras já descritas e refrões sem vergonha de Intercúmbia (“Quero te conhecer, vou te fazer gemer”) e Vem Que Vem (“Tirei a roupa toda para te encontrar/ A minha força mora onde eu merecer/ Vou te dar meu prazer”).

De sonoridades a cantora também está bem servida, estabelecendo conexões nacionais com artistas que usam o balanço como manifestação artística, e internacional com grandes nomes como M.I.A. e Buraka Som Sistema. Usa de funk, bregapop, reggae, eletrônico como lhe apetecer o momento da música. No decorrer de Mulher Cromaqui também demonstra interesses que não a euforia constante de causar suor nas festas. Hey Mãe é dessas, com Catarina cantando desiludida um quase-reggae, que em contrapartida não exclui suas veias eletrônicas, mas que casa num lo-fi perfeito  para  momentos mais reflexivos. Outra que talvez cause estranheza é o punk rock Raça Desunida, este cumpre importante papel no repertório da pernambucana fã de Garotos Podres entretanto, prova disso é Garotos Podres Medley, que tira da manga em suas apresentações ao vivo e lançada recentemente como bônus do álbum.

Seria injustiça confundir o gigantesco apanhado de influências que Catarina guarda embaixo do braço com falta de identidade. A cantora manipula propositalmente suas muitas formas e assume a persona que deseja em cada faixa, sendo mulher romântica, objeto e  invejosa, á exemplo justamente de um chroma key, onde a essência permanece a mesma, mas muda o cenário de acordo com o clima que escolheu pro dia. As várias Catarinas se decidem, então, por abraçar tudo ao mesmo tempo à se limitar ao reconhecimento por “a nova cara” de um gênero específico e pouco emocionante. Assim é mais divertido ela juramenta, aproveitando o caminho aberto por Gaby Amarantos e mesmo mais de uma década antes por uma série de artistas que escrevem mais uma linha do recente capítulo do pop brasileiro.

Mulher Cromaqui (2013, Independente)

Nota: 7.7
Para quem gosta de: Karina Buhr, Gaby Amarantos e Otto
Ouça: Kay Fora, Intercâmbio Cultural e Hey Mãe

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.