Disco: “Mundotigre”, M. Takara

/ Por: Cleber Facchi 03/09/2014

M. Takara
Electronic/Experimental/Ambient
https://soundcloud.com/mtakara

Por: Cleber Facchi
Foto: Rodrigo A Hara

Quem já experimentou qualquer registro em estúdio – ou apresentação ao vivo – de Maurício Takara sabe da “incerteza” que ronda o trabalho do músico/produtor. Seja na extensa discografia ao lado dos parceiros da Hurtmold, ou mesmo em projetos paralelos, caso do São Paulo Underground, a pluralidade de temas, gêneros e sonoridades sempre frescas prevalece como uma dinâmica ferramenta criativa para o artista, por ora voltado à sutileza eletrônica de Mundotigre (2014, Desmonta).

Mais recente projeto solo do músico, o álbum lançado pelo selo Desmonta é uma obra que se divide com naturalidade entre a expansão e o isolamento quando comparada com outros trabalhos de Takara. Ao mesmo tempo em que abraça o som jazzístico lançado há uma década no primeiro disco solo, grande parte dos ensaios sintéticos do novo álbum revelam uma sonoridade quase oculta na obra produtor, voltado à eletrônica apenas no ambiente hermético do disco Conta, de 2007.

Observado com bastante atenção, grande parte dos conceitos lançados em Mundotigre ainda são os mesmos do trabalho apresentado há sete anos. Ruídos eletrônicos aprisionados em loops tímidos (Portão), bases minimalistas acumuladas em pequenas doses de eco (Aaawww), além do uso detalhado e naturalmente incerto das batidas (Pra tnick poder dançar), preferência que reforça a completa maturidade e desafios autorais lançados pelo próprio Takara quanto baterista.

A principal diferença em relação ao disco de 2007 está na composição essencialmente sintética escolhida para o disco. São bases, batidas e até mesmo samples que parecem “esculpidos” artificialmente pelo produtor – único responsável pelas gravações, mixagem e masterização do álbum. Não por acaso o disco projeta com naturalidade a imagem de um artista isolado, sentado em frente a um MacBook pincelado virtualmente suas criações. Basta se concentrar na serena Te Chamando ou no encaixe tímidos das batidas de Linhas para sentir isso.

Outro ponto de distanciamento está no cenário em que M.Takara parece inserido atualmente. Enquanto Conta emulava parte das experiências lançadas no Trip-Hop do final dos anos 1990 – lembrando DJ Shadow e Amon Tobin em alguns aspectos -, o presente álbum mantém firme a relação com a safra recente de produtores. Músicas como Esquinas em Movimento e Aaawww que esbarram na mesma atmosfera de Four Tet pós-There Is Love in You (2010), ou mesmo a soturna Linhas, espécie de encontro entre Burial com Flying Lotus, preferências que ainda tropeçam no Pós-Rock urbano do Hurtmold em Mils Crianças (2012).

Coerentemente inaugurado pela faixa Portão, Mundotigre é uma obra que se revela em pequenas doses. Ocultando mais do que parece revelar, M.Takara constrói labirintos extensos, espalha peças abstratas e mais uma vez assina uma obra que parece feito para brincar com a mente do espectador. Ao chegar na canção de encerramento do disco, Portão de Trás, é evidente a sensação de ter passado pelo trabalho mais acessível e ainda assim complexo lançado pelo produtor nos últimos dez anos. Um misto constante de sensibilidade e estranheza que convence e ao mesmo tempo joga com as experiências do público.

Mundotigre(2014, Desmonta)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Cadu Tenório, Sants e Four Tet
Ouça: Linhas, Aaawww e Portão de Trás

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.