Disco: “Música Vulgar Para Corações Surdos”, Harmada

/ Por: Cleber Facchi 20/07/2011

Harmada
Brazilian/Indie Rock/Alternative
http://harmada.com.br/

 

Por: Cleber Facchi

O ano era 2007. Há tempos o Brasil não vivenciava uma fase tão criativa dentro do cenário independente quanto a que se estabelecia naquele momento. De um lado os curitibanos do Terminal Guadalupe entregavam sua estrondosa estreia, A Marcha dos Invisíveis, do outro lado os goianos do Violins lançavam sua obra-prima, o polêmico Tribunal Surdo. Havia ainda Superguidis chegando com seu segundo disco ou mesmo Los Porongas, Vanguart e Charme Chulo nos presenteando com suas estreias. Tudo isso enquanto o Autoramas atingia a maturidade com Teletransporte. Em meio ao turbilhão de grandes estreias e lançamentos, em algum lugar no Rio de Janeiro nascia uma nova banda, a Harmada, grupo que só se revelaria de fato dali alguns anos.

Do surgimento da banda carioca – formada por Manoel Magalhães (guitarra e voz), Brynner Mota (guitarra), Juliana Goulart (bateria) e Filipi Cavalcanti (baixo) – aos dias de hoje, boa parte dos grupos acima mencionados já deixaram de existir, já o quarteto, este apenas se solidificou. Denominado Música Vulgar para Corações Surdos (2011, Independente), o primeiro álbum dos cariocas parece trazer o mesmo tipo de energia e criatividade que pairava através do território nacional naquele momento, movimentando de maneira adulta um jogo de composições quebradas entre o melódico, a melancolia e constatações mundanas.

Passeando pelo rock alternativo dos anos 90 (lembrando um Radiohead da fase The Bends ou o The Smashing Pumpkings do disco Siamese Dream), além de toques do rock nacional dos anos 80, (como o Legião Urbana do álbum Dois), o primeiro registro em estúdio do quarteto carioca usa de boas guitarras para encaminhar letras meticulosamente projetadas. A composição estrategicamente delineada pela banda atua de forma hábil e melódica, fisgando o ouvinte sem muito esforço logo em uma primeira audição.

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Mesmo tomado por uma funcionalidade que os posiciona junto dos grandes nomes do cenário alternativo nacional, todas as composições ressaltadas pelo quarteto em sua estreia são faixas de pura fluência pop, músicas que poderiam facilmente ecoar através de alguma rádio comercial ou de algum programa de TV voltado ao grande público. Ao mesmo tempo em que os versos nos tocam de forma simplista, distantes de estratégias poéticas que se manifestem de forma complexa, as faixas se mantém muito acima da média, revelando um agrupado de canções muito maiores do que aparentam ser.

Difícil não se deixar levar pelos versos levemente sorumbáticos e as guitarras radiantes de Sufoco, ou quem sabe as reverberações sofridas de Pedaços, um verdadeiro arrasa quarteirões para os corações partidos. As guitarras enérgicas em Carlos e Cecília servem quase como uma trilha sonora para uma história amor e desamores, enquanto o peso da instrumentação em Lucidez oculta a maciez do belo apanhado de versos apresentados na canção. Coeso do princípio ao fim, a sensação repassada ao término do álbum é a de um encontro com uma coletânea, um Greatest Hits de uma banda iniciante, mas que se porta como veterana.

Grandioso para os padrões atuais – são 14 músicas divididas em uma hora de duração – Música Vulgar para Corações Surdos erra em alguns momentos mediante a demasiada proximidade entre algumas das faixas. Entretanto, a coerência estabelecida através do registro permite que tal erro passe quase despercebido, com a banda e seus poderosos lamentos e sequências instrumentais maduras agarrando o ouvinte com todas suas forças. Mesmo que este seja o primeiro trabalho do Harmada é como se há tempos o grupo fosse parte da nossa música, uma banda antiga, detentora de temas que parecem se encaixar em cada mínimo acontecimento mundano.

 

Música Vulgar Para Corações Surdos (2011, Independente)

 

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Ludov, Los Porongas e Violins
Ouça: Sufoco

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.