Disco: “My God Is Blue”, Sébastien Tellier

/ Por: Cleber Facchi 23/04/2012

Sébastien Tellier
French/Electronic/Downtempo
http://www.recordmakers.com/sebastientellier/

Por: Fernanda Blammer

Sébastien Tellier soube como poucos a maneira de transitar pelos inúmeros mundos da música eletrônica francesa. Vindo da geração de produtores que redefiniram o cenário musical dos anos 90, o parisiense – a exemplo de Air e tantos outros artistas locais – se acomodou em doces camadas instrumentais e batidas ponderadas, até que em junho de 2001 lançou o introdutório L’incroyable Vérité. Continuação do que os artistas da Downtempo haviam pavimentado anos antes, o álbum não apenas apresentava o cuidadoso trabalho do compositor, como tornava visível toda uma carga de novas influências, que passeavam pela obra de Serge Gainsbourg, mergulhavam nos sintetizadores dos anos 80 e por vezes tocavam o rock alternativo francês da década seguinte.

Sempre mutável, Tellier não tardou a se aproximar de toda a soma de novos representantes que aos poucos tomariam conta da eletrônica francesa e mundial, produzindo e remixando uma centena de composições ao lado de nomes como Mr. Oizo, SebastiAn e os novatos do Justice. Mesmo intensamente relacionado com os beats estrondosos e ruídos ensurdecedores do famigerado movimento Maximalista, em seus projetos individuais as experiências de outrora se mantiveram, tanto que em 2008, enquanto Cross do Justice ainda brilhava nas pistas do mundo todo, Sébastian puxou o freio e montou o envolvente e lascivo Sexuality, o mais completo registro da carreira do produtor até então.

Se o tom erótico se apoderava do último álbum do compositor, com a chegada de My God Is Blue (2012, Record Makers) a proposta passa a ser outra. Sai de cena a produção lânguida, as batidas envolventes, o clima suave e os vocais sempre sedutores para que todo um novo conjunto de referências – agora religiosas – tomem conta. Claramente irônico, Tellier passa a construir uma espécie de imenso hino de louvor a um deus fictício e azul, estética que se reflete para além dos limites do registro de 12 faixas e acaba se revelando nos novos clipes relacionados ao trabalho – como no single Pépito Bleu, que traz um pouco desse mundo novo criado por esse deus de amor incondicional.

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Mais uma vez Tellier se apega aos mesmos sons e referências vindas da década de 1970 que tanto influenciam a carreira do cantor – uma espécie de velho testamento do trabalho. As guitarras gainsbourguianas, o pano de fundo delicado e toda a estrutura branda contaminam o espectador, que em poucos segundos já estará completamente entregue ao ato de devoção que se estende até o encerramento da obra. Sempre interessado na produção de um som climático, o francês não poupa no uso de teclados, herança do trabalho anterior, mas que agora parece melhor explorada e aplicada em faixas como My Poseidon e na delicada The Colour Of Your Mind.

Diferente dos antigos trabalhos do músico, My God Is Blue talvez seja a primeira obra de Sébastien que de fato mantém a estrutura conceitual do princípio ao fim do disco. Oposto do que fora testado em Sexuality, em que o artista se valia de momentos e não de um resultado geral, com a presente obra o cantor parece manter uma constante aproximação entre as faixas, como se cada música fosse parte (necessária) de um resultado maior. Ainda assim é possível observar pequenos momentos de distinção e leve afastamento dentro do conjunto, como na suave Sedulous, uma das poucas composições que ainda mantém traços do projeto passado de Tellier.

Mesmo irregular em diversos momentos – Sexuality ainda é a grande obra do produtor -, My God Is Blue encanta pela abrangência. Da energia orgânica que se prolifera em Magical Hurricane ao toque de eletrônica oitentista manifesto em Draw Your World, Sébastien Tellier não poupa esforços na hora de acrescentar elementos, que por vezes abraçam a música clássica, bebem do pop e brincam com a psicodelia. Intensamente “religioso”, o álbum parece se mover em um tempo próprio, como se o ouvinte tivesse que se entregar ao mesmo deus que ocupa a mente do produtor para que o disco seja de fato bem aproveitado.

My God Is Blue (2012, Record Makers)

Nota: 7.3
Para quem gosta de: Mr. Oizo, Serge Gainsbourg e Air
Ouça: Sedulous e Pépito Bleu

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.