Disco: “My Name Is My Name”, Pusha T

/ Por: Cleber Facchi 24/10/2013

Pusha T
Hip-Hop/Rap/East Coast Rap
http://pusha-t.com/

Por: Fernanda Blammer

Pusha T

Para o público médio, que acompanha apenas os principais lançamentos do Hip-Hop, Pusha T sempre pareceu um mero “colaborador”. Uma figura complementar que surge vez ou outra dentro de alguma obra de destaque – caso explícito em My Beautiful Dark Twisted Fantasy (2010). Já aos ouvintes atentos do cena alternativa, mais do que uma rima de suporte em composições de peso, o norte-americano de Virginia Beach é – ao lado do velho parceiro No Malice -, o responsável pelo Clipse, um dos projetos mais relevantes da década passada e o autor do emblemático Hell Hath No Fury (2006). Entretanto, ao alcançar My Name Is My Name (2013, GOOD Music/Def Jam), aguardado debut solo, T, longe de repetir experiências, pela primeira vez parece livre para assumir a própria identidade.

Ainda que a essência de Kanye West seja perceptível durante toda a audição da obra, das rimas ao fluxo das batidas, cada instante do registro se movimenta dentro de um terreno próprio do rapper. Apostando em uma sonoridade que flutua entre o comercial e o alternativo, o artista e os parceiros de produção estabilizam uma série de conceitos similares ao que fora exposto na coletânea Cruel Summer (2012), porém, cobrindo os exageros do trabalho com um senso de linearidade. Dessa forma, cada canção se movimenta dentro de uma composição particular, sem necessariamente fugir dos rumos previamente impostos por seu criador.

Embora anunciado pelo próprio rapper como uma representação do que conduziu o Hip-Hop no fim da década de 1980, MNIMN é uma obra que passeia pelas referências sem necessariamente se fixar em um ponto temporal específico. A mobilidade garante ao artista a capacidade não apenas de brincar com os sons – indo do R&B em 40 Acres, ao que há de mais “comercial” em Pain -, mas de atravessar diferentes temas como um ponto natural de dinamismo para a obra. Do existencialismo de Suicide ao romantismo dramático em Let Me Love You, cada faixa esforça não apenas as rimas de T, mas dos próprios convidados.

Naturalmente lembrado pela colaboração em diversas obras – antigas e recentes -, Pusha T encontra na interferência de outros artistas um princípio de construção de identidade do disco. Enquanto as duas primeiras canções do trabalho – King Push e Numbers On The Board – são coerentemente reservadas para o rapper, com a chegada de Sweet Serenade, assertiva parceria com Chris Brown, chega a vez dos convidados. Do badalado Kendrick Lamar, na soturna Nosetalgia, ao teor de grandeza que cresce em Hold On, resultado da interferência de Rick Ross, lentamente uma imensa colcha de retalhos começa a se formar. Sobra até para Kanye West, produtor executivo do álbum, se divertir entre as brechas das composições.

Dentro desse jogo de sobreposições e constantes quebras musicais, Pusha T divide a própria atuação em dois blocos específicos de faixas. O primeiro diz respeito à imposição do rapper sobre a obra, adaptando o convidado ao território específico do trabalho. É o caso de músicas como Who I Am (em parceria com 2 Chainz e Big Sean) ou própria colaboração com Kendrick Lamar, canções que não escapam da mesma verve instrumental e batidas específicas do álbum. Já o segundo bloco, representado por 40 Acres (com The-Dream) e S.N.I.T.C.H. (parceria com Pharrell), evidencia a capacidade do rapper em seguir as pistas dos convidados, escolha que naturalmente distancia o disco de um efeito monotemático ou possivelmente arrastado.

Atento exercício de criação, My Name Is My Name por vezes soa como um resumo apurado de tudo aquilo que Pusha T conquistou nos últimos anos. Trata-se de uma coletânea involuntária, um compilado autoral que passeia por traços recentes do artista, como se aos poucos estivesse se desligando da estética projetada para o Clipse. Mais do que um ponto de consolidação, a obra curiosamente assume com naturalidade um sentimento de “recomeço”, ou quem sabe até “início”, como se mesmo acumuladas duas décadas de produção, o rapper mantivesse o mesmo espírito de um adolescente atento, pronto para começar tudo outra vez.

 

Pusha T

My Name Is My Name (2013, GOOD Music/Def Jam)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Clipse, Kanye West e Big Sean
Ouça: Nosetalgia, 40 Acres e S.N.I.T.C.H.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.