Disco: “Mylo Xyloto”, Coldplay

/ Por: Cleber Facchi 19/10/2011

Coldplay
British/Britpop/Pop
http://coldplay.com/

Por: Cleber Facchi

Seja de forma aleatória, forçada ou mesmo de maneira voluntária, cedo ou tarde alguma composição do Coldplay acabará tocando ao seu redor, afinal, desvencilhar-se de qualquer composição do grupo inglês é uma tarefa praticamente impossível. Desde a explosão musical no começo de 2000, com o single Yellow, até a entusiasmada “evolução sonora” do grupo com Viva la Vida or Death and All His Friends em junho de 2008, em mais de 15 anos de carreira o Coldplay acabou se transformando em uma das, ou no mais popular grupo de música pop do planeta. Não que isso realmente signifique algo bom.

Assim como Dan Brown, Paulo Coelho e tantos outros escritores alcançaram a fórmula exata do sucesso, apresentando livros que falam sobre as mesmas coisas, porém sob outro ponto de vista e através de diferentes personagens, o mesmo delimita a obra do grupo londrino comandado pelo sentimental Chris Martin. Por mais que o quarteto formado na segunda metade dos anos 90 tenha sim desenvolvido um bom álbum de estúdio – o expressivo Parachutes de 2000 -, todos os seguintes lançamentos da banda nada mais são do que o fruto de um intenso auto-plágio, uma grande fábrica de composições “coxinhas”, todas fritas no mesmo óleo.

Talvez aos apaixonados fãs da banda – que em grande parte dos casos dividem seu amor com Justin Bieber, Luan Santana e tantos “memoráveis” artistas do mundo pop – o simples apontamento de que seu amado grupo vem desenvolvendo uma mesma fórmula há mais de dez anos soe como uma grande heresia. Entretanto, é exatamente isso que o Coldplay promove desde que os lamentos de In My Place foram entoados em cinco de agosto de 2002. Uma segura fórmula musical, lucrativa e estranhamente capaz de soar como nova ao seu sempre fiel grupo de seguidores.

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=CPLnqEA9noc]

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=fyMhvkC3A84]

Se viver diariamente à base de um mesmo prato (neste caso uma gordurosa coxinha) acaba nos deixando enjoados, o mesmo acontece quando nos deparamos com Mylo Xyloto (2011, Parlophone), quinto e mais novo álbum lançado pelo grupo britânico. Da homônima composição de abertura ao fecho do disco com Up With The Bird – que assim como todas as faixas do álbum soam vergonhosamente similares aos antigos discos do grupo -, somos soterrados por uma avalanche de criações repetitivas. Um disco em que para cada faixa “inédita” encontramos duas ou mais músicas similares nos anteriores projetos da banda.

Oposto aos quatro últimos trabalhos, principalmente se observarmos o elogiado disco de 2008, vê-se em Mylo Xyloto uma clara falta de empenho do grupo, com o Coldplay nem ao menos respeitando seus fãs, promovendo um registro fraco, repleto de versos inconsistentes e uma instrumentação que prepara o espectador para o sono. O disco todo parece como uma grande sobre de estúdio do último álbum, com Chris Martin embriagando o ouvinte com seus vocais penosos e imutáveis, além de uma instrumentação pretensiosamente encorpada por fagulhas de um U2 em sua pior fase.

Enquanto Every Teardrop Is a Waterfall é a Lovers In Japan da vez – até a abertura da música é igual -, Up in Flames é a velha tentativa da banda em imitar o Radiohead, algo que se estende desde o primeiro disco e que se reforça em diversos momentos dentro deste novo álbum. Até a suposta alternativa da banda em buscar por uma sonoridade mais “eletrônica” acaba soando como algo falho, afinal, faixas como Charlie Brown e Major Minus nada mais são do que tradicionais composições do quarteto inglês, apenas sujas por uma tonalidade sintética e constrangedoramente artificial.

Talvez Chris Martin tenha passado tempo demais pensando em ajudar os menos favorecidos e simplesmente esquecido de fazer música. Dessa vez o Coldplay se esqueceu de botar tempero e recheio em sua música coxinha. Difícil vai ser engolir isso tudo sem engasgar.

Mylo Xyloto (2011, Parlophone)

Nota: 4.5
Para quem gosta de: Snow Patrol, Keane e U2
Ouça: U.F.O.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.