Disco: “Natural Born Losers”, Nicole Dollanganger

/ Por: Cleber Facchi 18/11/2015

Nicole Dollanganger
Indie/Dream Pop/Folk
https://nicoledollanganger.bandcamp.com/

 

A veste masoquista de Nicole Dollanganger na capa de Natural Born Losers (2015, Eerie Organization) parece dizer muito sobre o conteúdo das canções assinadas pela musicista canadense. Original da cidade de Stouffville, Ontario, e dona de uma sequência de obras “caseiras” publicadas no bandcamp, Dollanganger faz do primeiro registro oficial um passeio por temas melancólicos e canções de amor que refletem o que há de mais doloroso na vida sentimental da própria artista.

Com distribuição pelo selo Eerie Organization, da conterrânea Grimes, cada uma das faixas do delicado registro se projeta como um lamento musicado, essencialmente sensível e amargo. O mesmo ambiente melancólico compartilhado por Angel Olsen, Marissa Nadler, Jessica Pratt e outras “vizinhas” que atuam na cena estadunidense. Da abertura, com Poarcher’s Pride, ao fechamento, em You’re So Cool, a cantora transforma os próprios medos e tormentos em pequenos diálogos com o ouvinte.

A principal diferença em relação ao trabalho de outras representantes do folk norte-americano está na delicada tapeçaria instrumental que preenche o disco. Ainda que a base acústica de violões e vozes pareça direcionar o material apresentado pela cantora, são os pequenos encaixes de guitarras que brincam com a percepção do ouvinte. Bases e colagens sujas de distorção, como Alligator Blood e In The Land, que distanciam Dollanganger de um som predominantemente acústico e tímido.

Mais do que um objeto de destaque, os arranjos que cercam Natural Born Losers servem apenas de estímulo para o exuberante catálogo de versos que recheiam a obra. “Eu atirei em um anjo com rifle do meu pai / Eu deveria libertá-lo, mas o deixei sangrar”, canta Dollanganger na inaugural Poarcher’s Pride, síntese do lirismo perturbador, por vezes visceral, que abastece a obra da compositora. Uma coleção de temas entristecidos, íntimos de qualquer indivíduo sofredor.

Livre do enquadramento “acessível” de outras obras próximas, Natural Born Losers sobrevive como um produto que atende apenas às exigências de sua criadora. Não espere pela reprodução cíclica dos versos, rimas óbvias, tampouco a utilização de versos explosivos ou mínimo refrão. Mesmo a base instrumental tecida pela artista parece se espalhar em um limitado conjunto de melodias enevoadas, ora íntimas do sadcore dos anos 1990, ora mergulhadas em arranjos típicos do Dream Pop.

Tudo é muito intimista, propositadamente restrito, como se durante alguns minutos a cantora autorizasse o ouvinte a folhear as páginas de um diário marcado por relatos de sofrimento e abandono. Talvez venha daí o completo interesse pela obra. Uma tentativa de interpretar e se relacionar com a mesma fórmula melancólica que abastece cada uma das 11 faixas do disco e cresce com naturalidade até verso final da apaixonada You’re So Cool.

 

Natural Born Losers (2015, Eerie Organization)

Nota: 7.5
Para quem gosta de: Lana del Rey, Angel Olsen e Grimes
Ouça: Poarcher’s Pride, Angels of Porn II e In The Land

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.