Disco: “Nausea”, Craft Spells

/ Por: Cleber Facchi 16/06/2014

Craft Spells
Indie/Alternative/Dream Pop
https://www.facebook.com/CraftSpells

Por: Cleber Facchi

Craft Spells

A estreia do Craft Spells com Idle Labor, serviu para reforçar a capacidade de Justin Paul Vallesteros em lidar com temas obscuros sem romper com o brilho pop das melodias. Manifestação dos principais distúrbios sentimentais que guiavam o músico na época, o registro de 2011 parece sobreviver mesmo além de seu próprio cercado estrutural. Em Nausea (2014, Captured Tracks), mais novo registro do grupo, as mesmas imposições lançadas há três anos voltam a se repetir, reforçando a capacidade de Vallesteros e seus parceiros em promover novos conceitos dentro da mesma composição acolhedora.

Ainda que orientado de forma explícita pela melancolia dos temas – boa parte do disco foca em um término recente de relacionamento -, Nausea é uma obra que não se permite corromper por exageros ou possíveis deslizes sentimentais do próprio criador. Como a autointitulada faixa de abertura logo entrega, a tristeza é dissolvida em pequenas doses, distribuídas suavemente ao longo de todo o trabalho.

Tendo na relação com o Dream Pop mais uma vez o ponto principal da obra, Vallesteros transporta o ouvinte para um cenário musicalmente abastecido por sonhos e pesadelos. Nada contido em relação ao debut, o novo álbum é uma obra carregada pela detalhe, principalmente na forma como as guitarras ocupam todas as lacunas do disco. Enquanto o debut parecia seguir uma métrica simples de três acordes, hoje pouco disso parece ter sobrevivido, esforço ressaltado em composições mais extensas, caso da apaixonante Komorebi e da lisérgica Changing Faces.

Mais do que uma extensão (musical) do disco passado, Nausea é uma obra de pequenas, porém, criativas possibilidades para o Craft Spells. Além do claro regresso aos sons espalhados pela década de 1980, a relação do grupo com a música psicodélica dos anos 1960 e 1970 preenche todo o registro. Basta perceber o andamento encontrado na ensolarada Twirl ou mesmo o fluxo sonoro de Laughing for My Life para perceber isso. A mudança, mesmo controlada, impera na formação do álbum.

Talvez a grande diferença em relação ao trabalho de uma centena de outras bandas próximas esteja no caráter “filtrado” de Nausea. Enquanto grupos como Foxygen, Unknown Mortal Orchestra e Ducktails fizeram dos últimos registros em estúdio um atento diálogo com o passado, Vallesteros e os parceiros de banda parecem apenas brincar com as mesmas “reinterpretações” dos outros grupos. Não por acaso a própria faixa-título ecoa como uma sobra do que Matt Mondanile encontrou em The Flower Lane (2013), último disco do Ducktails.

Um pouco menos acelerado e homogêneo do que Idle Labor, Nausea é uma obra de adaptação e pequenas descobertas dentro da curta produção do grupo. Por se transformar no principal componente do trabalho, Vallesteros se entrega por completo, ficando à mercê do público, que pode simplesmente renegar as confissões amorosas do músico caso não partilhe da mesma compreensão sentimental. Todavia, o detalhamento dos arranjos supre a carência dos versos, lançando uma obra equilibrada e assertiva em seus momentos.

 

Nausea

Nausea (2014, Captured Tracks)

Nota: 7.0
Para quem gosta de: Wild Nothing, Unknown Mortal Orchestra e Beach Fossils
Ouça: Nausea, Komorebi e Twirl

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.