Disco: “Neck Of The Woods”, Silversun Pickups

/ Por: Cleber Facchi 07/05/2012

Silversun Pickups
Indie Rock/Shoegaze/Alternative
http://silversunpickups.com/

Por: Cleber Facchi

Brian Aubert soube como nos enganar. Em 2006 à frente do Silversun Pickups o músico californiano e a tríade de parceiros que o acompanham fizeram nascer o memorável Carnavas, álbum que não apenas antecipava o retorno das referências musicais criadas na década de 1990, como se anunciava diferente de tudo que estava em voga naquele momento. Talvez de forma involuntária, o disco estabelecia um sintoma de promessa, como se além do composto de 11 faixas que se estabeleciam no álbum, o grupo ainda fosse capaz de construir uma sucessão de discos tão assertivos quanto aquele. Uma verdadeira decepção para aqueles que acreditaram nisso.

Intocável, o registro foi dissecado ao longo de três anos por ouvidos de todo o mundo, visto que a banda atrasaria a produção do segundo álbum e só lançaria o sucessor do debute em meados de 2009. Sob o nome de Swoon, o registro até consegue acertar em alguns bons momentos, algo que as crescentes There’s No Secrets This Year e The Royal We traduziam com o mesmo empenho e as mesmas guitarras poderosas da estreia. O restante, entretanto, mera cópia. Talvez pela força do primeiro álbum ecoando de maneira estrondosa, foram poucos os veículos que criticaram o trabalho, era como se ainda existisse alguma chance de a banda lançar um projeto tão grandioso e influente quando haviam testado três anos antes. Contudo, com a chegada de Neck Of The Woods (2012, Dangerbird) a resposta fica mais do que clara: não, a banda não será mais capaz disso.

Logo que o disco começa você percebe que está tudo lá: os vocais ora brandos, ora explosivos de Aubert; as guitarras sobrepostas em camadas; a bateria nunca óbvia de Chris Guanlao; os ruídos sintetizados de Joe Lester e as sempre adoráveis participações do baixo e da voz de Nikki Monninger. Um conjunto de estratégias exatamente iguais às apresentadas em 2006, porém, apenas isso. Do começo ao fim o que percebemos é um completo reaproveitamento de tudo aquilo que a banda conseguiu cativar em outras épocas. A diferença é que agora falta vida e movimento ao disco, algo que o anterior trabalho até se esforçava em alcançar, mas parece completamente abandonado pelo quarteto nas novas canções.

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Aubert parece ter se deixado influenciar pelos mesmos erros que a principal influência dele, Billy Corgan, tomou em meados da década de 90, quando alcançou uma fórmula com os primeiros discos do The Smashing Pumpkins e passou a repeti-la a partir de então. Em Neck Of The Woods a banda não apenas ecoa sintomas de mesmice, como parece transformar o álbum em uma imensa sobra dos trabalhos anteriores. É como se cada faixa do presente trabalho fosse parte de um pequeno arsenal abandonado com o passar dos discos anteriores, míseras sobras, composições tão ruins que acabaram descartadas pelo grupo, mas estranhamente ressurgem transformadas agora.

A aproximação com os piores trabalhos criados por Corgan é tanta que as experiências relacionadas ao rock progressivo se intensificam com o passar do disco. É como se a banda virasse a mesma curva assumida no álbum Adore (1998) e seguisse por lá, apenas deixando de lado os toques de música gótica que impregnavam a mente do grupo naquele instante. Até Muse surge em alguns momentos, principalmente quando os californianos se estendem demais, resultado que se manifesta em músicas como a extensa Simmer ou na arrastada Gun-Shy Sunshine – uma espécie de reaproveitamento daquilo que o grupo britânico conquistou com os primeiros discos. Não estranhe se você se sentir sonolento logo na segunda faixa, afinal, o álbum cansa e muito.

A única “inovação” dentro do disco está na pequena inclusão de elementos eletrônicos a partir da segunda parte do álbum, sendo The Pit o melhor exemplar dessa leve transformação do grupo. Mesmo a singela modificação não é suficiente para salvar a carreira da banda, que enquanto no primeiro trabalho conseguia surpreender o ouvinte mediante as letras intensas e a instrumentação primorosa, agora constrange e por vezes sufoca o espectador que só consegue questionar: o que aconteceu com os responsáveis por Carnavas?

Neck Of The Woods (2012, Dangerbird)

Nota: 4.0
Para quem gosta de: The Smashing Pumpkins, Muse e Manchester Orchestra
Ouça: Make Believe e The Pit

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.