Disco: “Nem Vamos Tocar Nesse Assunto”, Banda Gentileza

/ Por: Cleber Facchi 28/07/2015

Banda Gentileza
Nacional/Indie/Alternative
http://www.bandagentileza.com.br/

O bom humor sempre foi encarado como um elemento fundamental dentro do trabalho da curitibana Banda Gentileza. Das primeiras composições publicadas no MySpace – quando o grupo ainda se chamava Heitor e Banda Gentileza -, ao lançamento do primeiro registro de estúdio, em 2009, os versos de Heitor Humberto, vocalista e líder da banda, encontraram no gracejo, descompromisso e sutil jogo de palavras um estímulo natural para cada composição. Conceito também presente no segundo álbum de inéditas do coletivo.

Longe de parecer um trabalho demasiado satírico, sufocado pelo mesmo “rockomédia” de outros representantes do gênero em solo nacional, com Nem Vamos Tocar Nesse Assunto (2015), o grupo paranaense entrega ao público um amplo e divertido recorte da atual sociedade brasileira. Uma espécie de passeio despretensioso que vai do romantismo brega, passa pelos novos agrupamentos familiares e amores fracassados, até estacionar em um catálogo de confissões marcadas pela ironia.

Oposto ao material entregue no último trabalho da banda, com o presente disco, Humberto deixa de ser encarado como um provável “protagonista” para que o grupo possa brincar com diferentes personagens, histórias e acontecimentos isolados. Mesmo longe de parecer uma novidade – basta voltar os ouvidos para a nonsense Sempre Quase ou a historieta nostálgica de O Indecifrável Mistério de Jorge Tadeu -, em NVTNA um cenário ainda maior é lentamente detalhado pelos curitibanos.

Perfeito resumo de todo o trabalho, Casa, terceira canção do álbum, sintetiza de forma bem-humorada a pluralidade de temas e personagens que ocupam cada uma das nove faixas do novo disco. “A minha sogra que é minha ex-namorada / Se mostrou entusiasmada da família aumentar / E o meu cunhado que também é meu sobrinho / Construiu um puxadinho que é pra mó deles morar”, brinca o vocalista em um repente versátil, ainda íntimo do mesmo material explorado no álbum anterior, porém, passagem para um novo universo de referências.

Curioso perceber na estrutura musical que sustenta o disco um completo distanciamento desse mesmo resultado. Oposto ao álbum de 2009, uma obra que passeia pele cancioneiro de raiz (Teu Capricho, Meu Despacho), Funk-Rock (Pseudo Eu) e até samba (Preguiça), Nem Vamos Tocar Nesse Assunto é um registro que mantém constante a aproximação entre os arranjos de cada faixa. Salve o ritmo “circense” de Espiões, guitarras, sintetizadores e até a bateria em nenhum momento ultrapassam um preciso cercado instrumental.

Primeiro trabalho lançado sob a nova formação da Banda Gentileza – além de Heitor Humberto, o grupo fica completo com Diego Perin, Tuna Castilho e Jota Borgonhoni -, Nem Vamos Tocar Nesse Assunto é uma obra em que mantém na leveza dos versos o principal componente para fisgar o ouvinte. Um álbum talvez “menor” e a até mesmo despretensioso em relação ao jogo de possibilidades que sustenta o registro de estreia do grupo, porém, uma obra ainda atento, cômica e atrativa em cada fragmento.

Nem Vamos Tocar Nesse Assunto (2015, Independente)

Nota: 7.5
Para quem gosta de: Nevilton, Charme Chulo e Lemoskine
Ouça: Casa, Chorume e Eu Sempre Quis

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.