Disco: “NEVER”, Micachu

/ Por: Cleber Facchi 02/07/2012

Micachu
Experimental/Indie/Pop
https://www.facebook.com/pages/Micachu/

Por: Fernanda Blammer

Existe um mundo conhecido por poucas bandas, um espaço onde existem apenas sonorizações excêntricas, composições não óbvias e todo um vasto arsenal de referências que se desprendem do básico em busca do experimento. Nesse universo que parece comandado por Merrill Garbus (líder do tUnE-yArDs), uma frente de artistas dão continuidade a esses “ensinamentos”, posicionamento quase religioso que toma conta de uma série de registros recentes, entre eles NEVER (2012, Rough Trade), segundo álbum da britânica Micachu, que ao lado dos parceiros do The Shapes entregam uma onda de construções musicais que parecem prontas para brincar com a percepção do ouvinte.

Membro mais ativo desse crescente grupo de (re)inventores musicais, Mica Levi passou os últimos três anos se revezando no lançamento de incontáveis mixtapes, EPs, trabalhos ao vivo e uma série de outros projetos que surgiam como uma espécie de continuação do que fora testado no debut Jewellery, de 2009. Sempre brincando com as guitarras e os vocais quebradiços, a cantora chega ao segundo disco provando que mais uma vez que o acerto não está seguir um padrão ou um resultado já explorado, mas estabelecer distintos rumos em cada novo lançamento. Partindo dessa proposta, Levi apresenta um disco muito mais denso que o antecessor, quebrando a fórmula assertiva de outrora para incorporar uma série de novos acertos e até erros.

Provavelmente o grande diferencial de Jewellery em relação ao recente álbum seja a maneira como a música pop se misturava em meio às faixas. Embora os experimentos estivessem claramente definidos desde a abertura ao som de Vulture, até o encerramento com a chegada de Hardcore, não há como contestar a presença de elementos mais atrativos e comerciais espalhados por grande parte do álbum. Seja no refrão de incontestável relevância pop em Curly Teeth ou a instrumentação amena que movimenta a ótima Calculator, não são poucos os momentos em que a complexidade dá lugar ao radiofônico, permitindo que a cantora dialogue com todos os tipos de ouvinte.

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Em NEVER temos um completo oposto desse resultado, afinal, enquanto há três anos Micachu se permitia soar como uma artista dona de sonorizações ensolaradas e vozes marcantes, hoje as guitarras firmes que passeiam pelo álbum garantem uma nova percepção sobre a cantora. O tom sóbrio das guitarras bem como uma maior participação dos sons eletrônicos afasta a artista do que definia o trabalho dela há três anos, permitindo que ela cresça conceitualmente ao mesmo tempo em que abandona algumas características importantes de sua obra. A estrutura cinza de algumas canções parece dividir a carreira da britânica, que agora se encaminha para a construção de musicas ainda menos óbvia e que se aproximam intensamente do noise e de outras referências menos convencionais.

Se a proposta do disco é de enaltecer o uso de composições sombrias e que valorizem as guitarras, Micachu não apenas assume esse propósito como se desdobra na construção de músicas essencialmente experimentais e que alteram suas formas a todo instante. Nada funciona de forma convencional ao longo do disco, que a cada nova canção abre um leque imenso de possibilidades, com a inglesa entregando faixas que assumem diferentes sonoridades e preferências a cada instante. Melhor exemplo disso está em Waste, afinal, com pouco mais de três minutos a canção se desdobra em inúmeros formatos e ritmos, proposta que acaba preenchendo o restante do sempre mutável trabalho.

Por vezes lembrando Bitte Orca (Dirty Projectors) desconstruído ou Strange Mercy (St Vincent) triturado em um liquidificador, NEVER em nenhum momento se deixa consumir por um resultado óbvio ou que não consiga instigar o ouvinte. Das guitarras desconcertantes que preenchem Low Dogg à eletrônica instável que define a faixa Glamour até a melancolia excêntrica de Nothing, Micachu jamais se deixa guiar por convenções musicais pop ou momentos mais atrativos ao grande público. Um resultado que até pode afastar os ouvintes mais tradicionais ou habituados com fórmulas fáceis, mas que impede a cantora de cair no mesmo fraco desempenho de tantos nomes que circulam pelo cenário independente.

NEVER (2012, Rough Trade)

Nota: 7.5
Para quem gosta de: tUnE-yArDs, Dirty Projectors e High Places
Ouça: OK, Nothing e Low Dogg

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.